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IGOR ADAMOVICH
Vidigal, Rio de Janeiro.
23:10PM.

Hoje é dia trinta e um de dezembro, último dia desse ano que com certeza foi um dos mais conturbados de toda a minha vida, foi um ano intenso e eu vivi várias paradas que jamais pensei que viveria.

Menti. Vacilei. Errei. Mas hoje tô aqui pra agradecer por mais um ano vivido, apesar de muitas merdas que cometi, eu tenho certeza que aprendi com tudo o que fiz.

Liz e eu não trocamos uma palavra se quer desde a nossa última conversa, aliás raramente estamos nos trombando por aí e se for parar pra analisar é até melhor a gente ficar longe um do outro.

Não nego, fiquei muito bolado pela escolha que ela tomou, na verdade eu ainda tô bolado só que isso já não me afeta tanto quanto me afetava no início, acho que finalmente tô superando ela.

— Acorda tio. — Cobra da um tapa em minha cabeça chamando a minha atenção.

— Namoral, quando eu cortar tua mão não vem reclamando não.

— Coé parceiro, último dia do ano pô. Sem estresse! — fala rindo e eu lhe dou o dedo do meio.

— Cadê a Mariana? — pergunto e me viro de frente para ele, me encostando na grade do camarote.

— Lá embaixo com Maria e a Júlia.

— E a Liz? — puxo o cigarro da sua boca e levo até a minha.

— Tá interessado em saber dela por que em? — pergunta com um sorrisinho de lado.

— Não é interesse, é só curiosidade mesmo. — dou de ombros.

— Não entendi muito bem, mas parece que ela ia fazer algo antes de vir pra cá. — arqueio a sobrancelha. — Era algum tipo de ritual que ela sempre fazia com os pais.

— Ela foi no cemitério. — dou um trago no cigarro e passo o mesmo para o Cobra. — Ela me contou uma vez que perdeu os dois avós maternos no dia trinta e um de dezembro e desde então ela e os pais sempre iam no cemitério visitar o túmulo deles.. o que muda agora é que ela irá visitar o túmulo dos pais também.

— Que pesado. — Cobra fala e eu concordo com a cabeça.

— Cheguei nessa porra. — PH fala se aproximando de nós junto ao GS.

— Aí Adamovich, bora ficar quieto porque o assunto da conversa chegou. — Cobra zoa.

— Ih qual foi parceiro, tá me tirando?

— Tu mora no meu coração, sabe disso. — Cobra fala abraçando o PH.

— Paulinho não vem não? — GS pergunta me encarando e eu nego.

— Vem nada, tá rolando um baile lá na Rocinha também, final de ano né.. fácil de lucrar com baile.

— Esse maluco é fera né. — PH fala. — Vai assumir um filho que nem dele é, isso que é exemplo.

— Paulinho sempre teve um coração muito bom, conheço ele desde pequeno. — GS fala com um sorriso nos lábios. — Humilde desde criança e o que ele puder fazer pelas pessoas, ele vai fazer sem pensar duas vezes.

— Sente falta da Rocinha, GS? — Cobra pergunta.

— Nem um pouco, se eu pudesse apagar tudo o que vivi lá, parceiro.. mais da metade das minhas lembranças seriam esquecidas. — responde amargurado. — Mas tudo o que acontece na nossa vida serve pra nos ensinar, o que eu passei me fez ensinou que eu não poderia fazer uma pessoa passar por aquilo também.

— Só agradecer por ter vocês. — falo e os três me encaram. — Tamo junto nessa vida louca e vai ser assim até o final, um por todos e todos por um, frase feita que se encaixa real nesse grupo.

Só Por Uma Noite [M] ✓Where stories live. Discover now