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SIMÓN

Maio/2021

— Acabamos! Bom trabalho pessoal, obrigado.

Minha última cena do dia finalmente é encerrada, o que é um alívio porque minha cabeça está explodindo.

Estamos filmando há dez dias e hoje finalizamos as filmagens do primeiro episódio. Amanhã teremos um dia de folga e depois começaremos o próximo.

— Gabe? — Cooper a chama quando ela se afasta depois da cena feita só com nós dois. Todos os outros atores já foram. — Seu trabalho hoje foi muito bom.

Ela abre um grande sorriso. — É bom ouvir isso. — Gabrielle olha ao redor do estúdio para o restante da equipe. — Obrigada a todos. Boa folga a todos!

Fico meio intrigado com ela, tem dias que ela é enérgica, muito sociável e determinada, e em outros ela é insegura, mais fechada.

— Nada mal para alguém sem talento, certo?

Deveria saber que ela estava guardando essa mágoa para jogar sobre mim em algum momento.

— Uhum, nada mal. — Eu concordo com ela. — Claro que ainda dá para melhorar.

Ela dá uma risada seca enquanto seguimos pelo corredor dos camarins. — Certo, se o melhor ator do mundo, que também entende mais que o diretor diz...

Coloco a mão no braço dela a fazendo parar. — Quer que eu diga que exagerei quando disse que você não tem talento? Ok, talvez eu exagerei, você não é tão ruim quanto na leitura, mas ainda falta algo e você sabe que falta.

Os lábios dela se torcem um pouco, ela parece parar e pensar. — Sabe o que uma pessoa legal faria? Ao invés de só dizer que a outra pessoa é ruim, faria críticas construtivas, mostraria os pontos a melhorar e ajudaria a melhorar.

Gabrielle está certa, pessoas tentam ser legais para as outras, mas eu não tento ser assim. Eu só quero fazer meu trabalho, mostrar a mim mesmo que posso conquistar muito sozinho, me prometi isso muitos anos atrás. Talvez depois disso eu tenha tempo para outras distrações.

Me inclino um pouco e coloco o cabelo loiro dela para trás do ombro. Um cheiro de shampoo sobe no momento que faço isso.

— Pena que não estou tentando ser uma pessoa legal. — Eu falo em um tom de voz muito baixo.

Ela franze a testa e se inclina de volta. Hoje ela é a Gabrielle determinada.

— Não tinha que dizer isso, obviamente já ficou bem claro. Continue assim, as pessoas devem te adorar.

A ironia da voz dela é divertida. Antes que eu possa responder ela se afasta a passos rápidos pelo corredor e entra no camarim.

Tento me trocar depressa e sair já que agora só a equipe vai desmontar equipamentos e cenários, então é melhor eu ir para casa logo.

Pelo jeito Gabrielle teve a mesma ideia, quando estou passando pela portaria para sair ela também está e com o celular encostado na orelha.

Ela é uma dessas pessoas estranhas que gostam de falar ao celular.

— Hanna, você é um pouco maluca, sabe disso, não é? Um mês atrás você estava em segunda lua de mel e agora está dizendo que seu casamento está em crise, de novo.

Nós deixamos o prédio no mesmo momento, mas enquanto eu uso meu celular para chamar o Uber ela continua na rua falando ao celular.

A rua do estúdio não está mais tão movimentada a essa hora, e mesmo com o segurança na porta ela devia encerrar a ligação e chamar seu Uber também.

Sob tantos olhares (Metrópoles #2)Where stories live. Discover now