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GABE

Dezembro/2021

O fim de toda apresentação me deixa emotiva, todas as noites são como a primeira. Mas hoje é ainda mais porque meu pai me assistiu da primeira fila e agora está na saída do camarim me esperando.

Ele que detesta estar com tantas pessoas, que não gosta de viajar e que não é fã de musicais. Está aqui por mim e isso me faz chorar quando vou até ele e o abraço.

- Estou orgulhoso, sua mãe também estaria. - As palavras dele significam o mundo para mim.

A sensação de dever cumprido me persegue enquanto deixamos o teatro. É dia trinta de dezembro, foi a última apresentação do ano.

Do lado de fora as ruas de Nova York estão um caos, pessoas de todo o país vem a Broadway durante as férias, e os novaiorquinos estão todos fora ainda fazendo as trocas das compras de Natal ou comprando as últimas coisas para a festa de Ano Novo.

- Como conseguem se acostumar aqui? Durham é tão calmo.

- Talvez seja exatamente por ter crescido em um lugar tão calmo que eu ame estar no total oposto, senhor Simon.

Sim, por uma ironia do destino meu pai tem praticamente o mesmo nome do cara por quem sou apaixonada. Quase o mesmo nome, porque enquanto o do meu pai é completamente inglês e tem o I com som de Ai e sem nenhum acento, o nome de Simón tem uma entonação diferente graças ao acento e a pronúncia latina do nome. Ele jamais aceita que digam o nome dele da forma errada.

Pensar na ironia dos nomes me faz voltar a essa manhã quando vi nas redes sociais algo que me deixou inquieta.

Meu pai para um táxi e nós dois entramos. Ele está em silêncio e parecendo entediado, mas eu respeito isso. Estamos evoluindo a passos pequenos.

Quando chegamos a casa do meu irmão, mesmo que seja tarde eles estão adiantando coisas para amanhã. Nossa família, ou seja, os amigos que viraram família, está vindo, e também os novos amigos de Brayden e suas namoradas, filhos, irmãos.

Vai ser uma noite incrível.

- Você não vai se meter na cozinha amanhã, prometa. Eu te amo, mas você não sabe nem fritar um ovo.

Candice dá um daqueles olhares muito sério e depois suspira porque sabe que ele está certo. Se ela cozinhar há grandes chances do jantar todo acabar queimado.

- Ei, vocês chegaram. - Ela me nota parada os olhando. - Cadê seu pai? Ele gostou?

Isso me faz abrir um sorriso digno do gato do País das Maravilhas enquanto puxo uma banqueta da ilha da cozinha.

- Ele gostou e disse que está orgulhoso. - Brayden já se virou para me olhar também. - Ele foi tomar um banho e se deitar.

- Coisa de velho.

- Brayden! - Mesmo que ele tenha falado de brincadeira Candice ainda o repreende. - Sair e estar aqui já é um avanço para ele, mais respeito. As pessoas lidam com a dor e traumas de maneiras diferentes. Tem pessoas que são assim, se isolam, criam defesas.

O jeito que ela parece sensível ao dizer isso quebra um pouco dentro de mim. Acho que tem o mesmo efeito sobre Brayden porque ele larga o que está fazendo e vai até ela a abraçando e dando beijos demorados em seu rosto.

- Desculpa purr, as vezes eu ainda digo merda. - Ele segura o rosto dela. - Vem. Chega de trabalho, vou te colocar para dormir.

- A cozinha ainda não está organizada.

Sob tantos olhares (Metrópoles #2)Where stories live. Discover now