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SIMÓN

Depois de alguns dias curtindo as praias de Baja California nós voltamos para a cidade dos meus pais.

Fui visitar meus avós paternos essa manhã e agora estou no cemitério visitando meu pai.

Não consigo ser o tipo de pessoa que conversa e conta as novidades para ele com alegria. No México costumam sempre celebrar os mortos com animação, mas não tenho essa capacidade.

Eu só me sento perto do túmulo dele e faço algumas orações silenciosas, e depois fico sozinho com minhas lembranças. Queria me lembrar mais nitidamente dele, da voz dele talvez.

Meu celular vibra em meu bolso e o pego vendo a tela anunciar que é minha mãe chamando.

— Oi sumido. Estava pensando em você, está tudo bem?

— Sim, vim visitar o túmulo do papá. — Conto a ela sabendo que ela também já veio pela manhã. — Vou jantar com meus avós, meus tios e primos. Pode ser?

Ela demora alguns segundos para responder, sei que ela não tem problema com isso, mas as coisas entre meus avós paternos e minha mãe não são boas.

Há um ressentimento por ela ter seguido em frente, o que é muito injusto.

— Sim carino, vamos sair com as crianças e seus avós hoje a noite então. Me liga depois?

— Pode deixar. Vejo você quando chegar.

A noite é uma típica noite mexicana, muita comida, muita música, todos os primos juntos falando alto e tocando instrumentos. As vezes que venho são minhas chances de exercitar mais o meu espanhol.

Quando fico muito tempo sem conversar na minha língua natal parece que vou esquecendo algumas coisas.

Outra coisa que tem muito nestas noites de família é bebida, eu nunca estou com o copo vazio. Agora mesmo estou tomando mais michelada após passar os últimos minutos tocando cajón.

Aproveito também para pegar o celular e dar uma olhada no Instagram. Os stories de Travis, Jana e Gabrielle são divertidos, eles estão bebendo tequila e dançando. É a última noite deles no México.

Desde que trocamos algumas poucas palavras na chamada de video no outro dia eu tenho sentido falta de Gabrielle de novo. Enquanto ela dança nos stories usando um vestido florido noto o pingente de nota musical brilhando em seu pescoço.

Acho que ela não me detesta tanto assim, só não quis mais saber nada sobre mim.

Os stories depois do dela são de Ale, há uma foto dela com a minha mãe, e um vídeo dos gêmeos sendo bagunceiros e Victor os repreendendo. Essa é minha família.

— Tequila? — Meu primo, Carlos, oferece e movo a cabeça negando mostrando meu copo ainda não terminado de michelada. — Esse não honra a família paterna.

Ele ri, mas eu não gosto do comentário, me incomoda. Ainda assim escolho não falar nada.

— O que esperava? A mãe dele ficou tão feliz que o marido morreu e deu um golpe tão rápido em um americano que é um milagre ele ainda continuar vindo aqui. Simón é cria americana. — Emilia deixa sua opinião alta e clara.

Carlos me zoar é aceitável, ela falar da minha mãe dessa forma é outra coisa completamente diferente.

Me levanto e deixo o celular na mesa quando me viro para a olhar.

— Você se escutou falar? Você acabou de dizer que minha mãe ficou feliz com a morte do meu pai. De onde tirou essa merda? — Não gosto de como minha voz parece alterada.

Sob tantos olhares (Metrópoles #2)Where stories live. Discover now