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SIMÓN

— Posso ter cinco minutos? Não consigo me concentrar.

Odeio não ser capaz de fazer meu trabalho, mas hoje é o pior dia do ano para mim.

— Tudo bem. Pausa de dez minutos. — Cooper diz e dá um tapinha em meu ombro quando passo por ele. — Coloque a cabeça no lugar.

Assinto e saio me afastando em direção ao meu trailer. Pelo menos as filmagens são externas essa tarde.

Gabrielle passa por mim, seus lábios se movem como se fosse falar algo, mas ela desiste. O que é melhor porque Anne tentou falar comigo essa manhã e eu acabei sendo grosseiro.

Uma vez que estou dentro do trailer eu acendo um cigarro. Meus dedos correm pela tela do celular pensando em ligar para minha mãe, é óbvio que ela também sente a data de hoje.

Nós estávamos lá juntos, passamos essa dor juntos, deveríamos continuar a compartilhar ela, mas há uns anos parei de dividir esse dia com ela porque não quero a incomodar ou a fazer se preocupar com a minha tristeza.

Por isso eu não ligo, trago um cigarro e depois outro enquanto tento me distrair olhando o Instagram. Essa é a única rede social que tenho, ultimamente tenho tentado ser mais ativo.

Todos os dias tem algumas mensagens de fãs, as vezes uma mensagem de carinho, as vezes só estão curiosos. Respondo alguns, muito raramente.

— Você está bem? — Anne está segurando meu pulso na pausa entre as gravações depois que finalmente volto.

Ela é uma menina muito doce, com três anos a menos que eu ela na verdade parece muito mais jovem. Está sempre se importando e me chamando para sair, então me esforço para não ser um idiota.

— Está tudo bem. Valeu por perguntar. — Dou uma piscada para ela.

— Certo.

Tenho mais algumas cenas a tarde, mas por sorte termino minhas cenas mais cedo que o comum, antes das cinco e meia já estou caminhando para fora da área de filmagem. Sei para onde quero ir depois daqui, ou o que quero fazer.

Preciso me sentir próximo dele de alguma forma, próximo de Deus também. Pesquiso no celular para saber onde ir.

— Será que rola dividir um Uber? — O bom humor na voz de Gabrielle é um pouco incômodo.

— Não vou para casa. — Digo a ela.

Um silêncio é seguido depois da minha resposta, eu quase acho que ela se afastou.

— Posso te ajudar em alguma coisa? — A pergunta é meio inesperada. — Você parece meio, não sei, pior do que o normal.

Pior do que o normal? Ela não sabe como falar com alguém, não é? Mas não posso reclamar porque eu também não sou conhecido por ser cuidadoso com as palavras, muito pelo contrário.

— Eu estou bem. — Respondo só querendo que ela saia de perto.

Ouço os passos dela ficarem mais rápidos. — Você errou a entonação de algumas falas. Só tivemos uma cena juntos e repetimos várias vezes porque sua cabeça estava longe. — Ela destaca meus erros. — Tem certeza que está tudo bem?

Tiro um cigarro do bolso, assim como o isqueiro. — Gabrielle, eu só quero ficar sozinho. Tenho um lugar para ir.

— Ok, me desculpa. Eu não queria ser insistente.

Ela apressa os passos e enquanto paro para fumar ela passa por mim assumindo a frente do caminho.

— Eu vi seu Instagram no domingo, depois que você foi embora. — Ela para e se vira. — Tinha um post de vinte de maio de dois mil e quinze, um dos seus primeiros posts. Era o dia que completava dez anos que seu pai faleceu.

Sob tantos olhares (Metrópoles #2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora