três

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Fujo para o quarto, tranco a porta e tento controlar a respiração, um pouco mais tranquila, junto minhas coisas em minha bolsa, paro e penso na faculdade, preciso engolir tudo isso e deixar o apartamento impecável, mas sem me aproximar do dono da casa, como farei isso? Não sei, o que sei é que preciso dessa grana, então junto toda minha coragem e saio do quarto, desço as escadas com cuidado, mal respiro, e parece que a barra está limpa então passo direto para a cozinha e começo a lavar a louça,  a pensar nas matérias de hoje e no quanto a cada dia parece ficar mais difícil, esqueço do mundo pensando em meus problemas.

Termino a louça do café da manhã e só agora eu vi que ele comeu todos os beijus que eu preparei, o morto de fome, subo para o quarto e assim que levo a mão à maçaneta a porta do seu quarto se abre acelerando meu coração, que fica desenfreado ao ver aquele homem dentro de uma camisa social com alguns botões abertos, mostrando parte do peitoral que eu sei que é quente como o inferno.
Desço meus olhos e vejo um pacote bem avantajado, fico assustada e subo meus olhos dando de cara com seu sorriso de dentes perfeitamente brancos, fiquei muito tempo babando nesse homem, ô meu jesuizim, abro rapidamente a porta do quarto e entro como se estivesse fugindo da polícia, sua risada deliciosa é ouvida por mim, não escuto seus passos mas sei que se aproxima da porta.

- Ei moça não precisa se esconder, não vou fazer nada que você não queira.
Sua voz grossa é um convite para a perdição, faço um sinal da cruz.
- Deus que me livre, ô meu Santo Antônio, mas quem me dera.
Sussurro para mim.
- Estou indo trabalhar então você poderia deixar meu quarto um pouco organizado antes de ir?
- Tá bom... Grito e escuto uma risadinha, escorada na porta fechada, mesmo assim sinto seu sorriso no pé do meu cangote e um comichão na bacurinha, como se a porta não estivesse entre nós.

Espero alguns minutos e recebo o silêncio, respiro aliviada e abro a porta e dou de cara com braços fortes e um peitoral másculo, resfolego como um cão sarnanento, enquanto ele sorri lindo, supremo em toda sua glória de um metro e noventa.
- Eu não poderia sair sem um beijo teu.
Nego com um gesto de cabeça mas afirmo em seguida enquanto sem perder tempo ele enlaça minha cintura com seus braços enormes e me toma em um beijo nunca provado antes, ele me beija com vontade e eu correspondo na mesma medida, fico mole e sei que nesse momento ele pode fazer o que quiser comigo e que eu pediria bis, mas um alerta pisca em meu juízo que acabei de perder.
"NÃO POSSO ME APAIXONAR"
Em letras garrafais, surgem na minha mente me fazendo sobressaltar e me afastar pegando fogo, bato a porta em sua cara escutando sua risada gostosa.
- O beijo foi só um bônus por seu trabalho bem feito, tenha um bom dia morena.
Não confio nele então permaneço com a porta fechada, e vou para o banheiro encarando meu rosto vermelho, meus lábios grossos inchados pelo beijo, os olhos castanhos iluminados pela excitação e os cabelos com o coque desfeito pelas mãos grandes, não me considero linda de parar o trânsito mas sei das minhas qualidades, tenho o quadril largo, seios grandes, mas a cintura é fina, pele morena clara, cachos lisos, grossos e cumpridos amarrados no alto da cabeça. Sei que muitas cabeças se viram quando eu me arrumo mas não sou muito ligada a vaidade, o que não significa que sou desleixada, apenas não ando com tempo para me arrumar, quem é estudante de faculdade deve saber o que estou falando, meu tempo é dividido entre o estudo e as diárias.

Muitas das minhas clientes são jovens solteiras de classe alta, ou empresárias, quase nunca são casadas, já tentei uma vez nas casas de família mas não deu muito certo, o cabra vivia me importunando e a esposa ainda colocou a culpa no tamanho da minha bunda, nos meus lábios grossos e disse que era melhor eu procurar um filme pornô, só não dei na cara dela porque as crianças estavam próximas e não merecia ver a mãe levando uma taca.
Outra vez uma mulher me cercou no banheiro da área de lazer e ordenou que eu tirasse minha roupa, porém meu santo é forte e o marido chegou na mesma hora e não desconfiou de nada, aproveitei a distração e fugi. Abro a porta do quarto e como da outra vez vou na ponta do pé, seu perfume ficou no corredor, na minha roupa em tudo que é lugar, entro em seu quarto e as malas estão no chão, arrumo seus ternos, após arrumo suas camisas sociais e as casuais, seus relógios caros e um me chama atenção tem gravado o nome Apollo e lembro da mensagem da Manuela, o dono desse perfume que está em todo lugar assim como os deuses é poderoso, olho para a cama e começo a fantasiar cenas tórridas com o moreno de pele brilhante e quente.
Ele entra no quarto e me pega de bunda pra cima me joga na cama, enche meus cabelos com uma mão e estala um tapa em minha bunda me deixando ansiosa e louca de tesão.
Fico incomodada, bato em meu próprio rosto e me repreendo pela milionésima vez.
-Acorda Rayssa você acha que um cabra daqueles vai querer alguma coisa séria com você, foca nos estudos que isso sim é futuro, larga de ser abestada.
Estico os lençóis da cama, organizo o quarto, deixo tudo pronto e dou graças a Deus por não ter que ver de novo aquele homem.
"Graças a Deus, sei..."  Nem eu mesma acredito muito nisso.
Saio da cobertura, aliviada mas no fundo bem lá no fundo com um pouco de saudade. "Não sei de que, larga de ser besta Rayssa."
Uma mensagem chega no meu celular, é mais uma de minhas clientes pedindo para organizar o apartamento, marco para o dia seguinte, arrasto minha bolsa pesada para a parada, sei que vou gastar o dia inteiro no ônibus mas não tenho para onde ir, não posso voltar para casa pois é muito longe, não posso ir para a faculdade porque ainda é cedo, preciso procurar um lugar para almoçar, contudo não posso me dar ao luxo de comer em qualquer restaurante ou lanchonete nesse bairro, meu salário ficaria todo aqui.
Definitivamente preciso de um carro, eu já havia chegado a essa conclusão há muito tempo, assim que comecei a faculdade, mas tenho prioridades, então desço do busão e desço num bairro entre o caminho de casa e a faculdade, já não é mais o horário de almoço então eu entro no restaurante/lanchonete e peço um cuscuz com ovo e torresmo, um copo americano de café e meu almoço me sustentará também na janta.
Abro meus materiais e alí mesmo começo a estudar um pouco de anatomia, a matéria mais complicada. Ando cerca de vinte minutos a pé e chego na faculdade três horas antes, então aproveito para deixar minhas matérias em dias e pesquisar mais um pouco o trabalho que apresentarei sexta feira com mais alguns colegas.

Hora ou outra a cena do beijo vem e eu chuto para longe, o pensamento invasor inoportuno, nem vejo o tempo passar, se aproxima do horário da aula então saio da biblioteca e vejo o professor de anatomia conversando com a professora de fisiologia que parece incomodada enquanto ele fala sem parar sem dar chance da mulher abrir a boca, decido ir salvar nossa querida professora.

*Cangote pra quem não sabe é o mesmo que nuca, ou pescoço.

*Bacurinha é as partes íntimas.

Nos Braços De Apollo Where stories live. Discover now