Treze

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Começa uma nova música e Apollo me afasta e puxa pela mão me fazendo rodopiar, em segundos estou novamente nos seus braços, abrimos espaço entre as outras pessoas, eu nunca poderia imaginar que Apollo dança tão bem, dançamos no ritmo da música e quando acaba tomamos outra bebida, dessa vez peço uma pinga, tomo a dose e chupo o limão oferecido pelo dono da barraca,
dançamos novamente até o corpo suar, minhas pernas começam a doer.
- Quer ir embora? - ele pergunta quando desisto de mexer o corpo e apoio a cabeça em seu ombro.
-Quero, estou cansadinha.
Ele não fala mais nada, chegamos onde o carro está estacionado e ele abre a porta para que eu entre, sento no banco do passageiro, ele entra no carro e liga.

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Acordo com um braço sobre meus seios, o corpo dolorido, mesmo estando relaxada. "Meu telefone..." levanto num pulo, Apollo me olha como se eu fosse uma maluca, enquanto vou atrás do meu celular, esqueci completamente dos meus veínhos, nossa eles devem estar preocupados.
Encontro meu celular descarregado dentro da bolsa, que estava sobre o sofá, pego o carregador, assim que a bateria completa um por cento ligo o aparelho, encontro vinte chamadas de mainha e dez de painho e cinco de Brenda.

- Oi mainha.
- Rayssa minina quer matar mainha do coração? Cadê tu Rayssa? Seu pai está quase tendo um treco, cumé que você some assim mia fia.
- Mainha perdoa eu, eu estava muito cansada, depois da faculdade eu fui dormir na casa da Brenda, o namorado dela veio nos buscar. - Minto pedindo perdão a Deus por mais um pecado.

- Com muito custo achamos o telefone da sua amiga e seu painho jurava que ela tava mentindo, mas graças a Deus você ainda tá viva.
- Espera omi deixa eu falar com minha fia.
- Não muié, tô cansado de você passar a mão na cabeça dessa desajuizada... Escuta Rayssa não tô gostando nada dessa história de você ficar durmindo fora de casa.
- Eu sei painho, mas foi por um bom motivo - Com certeza, um ótimo motivo- Eu tava estudando com a Brenda. - Sim, estava estudando o corpo humano, mais especificamente um pretinho, com o membro maior do que você já viu um dia.
- Tá bom minha fia, se avexe que painho preparou uma surpresa.
Me sinto desconfortável por mentir, mas painho é um pouco ciumento.
- Estou a caminho amor de minha vida, te amo painho, muito, o senhor e a mainha.
- Se avexe logo pra casa.
Ele responde, parece um bronco, painho não sabe demonstrar sentimentos, eu sei que ele me ama, mas dizer é outros quinhentos.
Em minha bolsa há um par de roupas limpas, é sempre bom andar preparada, a bolsa pesa uma tonelada porém tem quase de tudo.
Volto para o quarto e não encontro Apollo na cama, escuto o barulho do chuveiro e aguardo ele sair, quando ele sai com uma toalha enrolada na cintura e algumas gotas d'água escorrendo pelo corpo minha boca enche de água, minha garganta seca, é muito tentador esquecer tudo e cair novamente na cama com esse homem, ele anda até mim como se fosse puxado por um ímã, porém eu desvio e corro dando gritinhos agudos feito uma criança e tranco a porta do banheiro, ainda escuto sua risada.

Foi uma labuta sair daquela casa, uma vez que eu vestia a roupa e Apollo tirava, na terceira vez eu desisti e ele me trouxe sem falar nada, era sábado e eu achava estranho estar em casa a essa hora, parecia um dia de domingo, eu sei que não preciso pagar a mensalidade da faculdade, mesmo sendo bolsista ainda tem os materiais, apostilas, minha batata tá queimando, contudo não me arrependo dos momentos que passei com Apollo, ele dirige calmamente pelas ruas, a cada quilômetro que nos aproximamos do meu bairro ele fica mais fechado, seu rosto tem uma expressão séria de contrariedade, tenho vontade de pedir que dê a volta, mas não posso, tenho que estudar e painho já está muito zangado.

- Porque eu não posso simplesmente deixar você em casa?
- Meu pai guarda uma carabina na despensa de casa, tem certeza que quer encarar vice?
- Eu te deixo na porta...
- Nananinão sinhor, eu não ligo pras fofocas das vizinhas mas meus pais ligam, e acima de tudo devo respeito a eles, vice.
- Você tem razão baby, então vem cá me dê um beijo de despedida.
Ele aponta o rosto, eu me aproximo devagarinho, ele mais rápido que o flash vira o rosto e me surpreende com um beijo intenso que faz minha calcinha molhar, quando falta o ar ele me solta, o olho e desço do carro.
- Obrigada, foi maravilhoso passar o dia com você.
Falo perto da sua janela, ele sorri daquele jeito que dá vontade tirar a calcinha, com as pernas moles, desço a ladeira e entro na rua de casa.
Quando chego na porta está estacionado um Chevette 1985, aí você pensa logo num daqueles carros antigos de coleção, esse não é um desses carros, de longe parece vindo do ferro velho, de perto parece que o ferro velho não quis e jogou fora, entro em casa e grito.
- Mainha, painho cheguei, minha mãe sai sorridente da cozinha e meu pai vem com sua maleta de ferramentas.
- Cadê?! - pergunto me referindo ao dono da caranga estacionada do lado de fora.
- O quê? - os dois falam ao mesmo tempo.
- Oxente a visita.
- Que visita? Oxe tá ficando abilolada Rayssa?
- Tá vendo mulher, essa menina de tanto estudar tá ficando doidia vice.
- Não minha gente, eu tô falando da geringonça estacionada lá fora.
Painho fecha a cara e sai de casa com a caixa de ferramentas na mão, sendo acompanhado por mainha que amassa o pano de cozinha nas mãos, ansiosa.
- Oxente o que eu falei de mais?
Os sigo, para a rua.
- Essa é a surpresa Ray, eu juntei o dinheiro e comprei esse carro pra você.
Ele é mecânico, e é bom em juntar peças e montar o motor, mas não ganha muito bem trabalhando pro muquirana do seu Gervásio.
- E aí minha fia, o que achou, falta concertar a porta, alguns detalhes no porta malas, apertar os parafusos da marcha, mas o motor está ótimo vice.
- Nossa painho, muito obrigada, eu amei.
Feliz agarro meu velhinho de beijos.
- Tá bom, não precisa me melecar de baba não.
- Oxente deixa a menina te beijar Adalberto.
- Você sabe que eu não gosto dessa melação Raimunda.
Ele se finge de durão, meio turrão, mas eu sei que por dentro é um Maria mole, meu pai é meu amigo, posso contar com ele pra tudo, mas tem certas coisas que eu só falo com mainha, ela nos abraça emocionada, meu coração fica quentinho com o momento.
- Tá feliz meu amor?
Sorrio abertamente para a mulher da minha vida.
- Oxente, eu tô muito feliz, não vou mais precisar pegar ônibus.
Assim que completei dezoito anos tirei minha carteira de motorista, e as vezes entre uma folga e outra eu consigo pegar o carro de algum dos amigos de painho para rodar, e para não esquecer como se dirige. Seu Adalberto, mais conhecido por vocês como painho, já comprou diversos carros, porém nunca passava mais de um mês, todo santo dia o carro do mês dava problema, a última vez ele jogou gasolina e tacou fogo, desde então mainha o proibiu de comprar outro.
- Vai almoçar que sua mãe preparou o que você mais gosta de comer.
- Oxe é pra já.
Minha boca salivou, amo um baião de dois com ovo e toucinho, vou direto pras panelas.
Após o almoço seu Adalberto me chama e me mostra os concertos no carro.
- Está ótimo painho.
Me envolvo com minha nova aquisição, calculando os reparos na lataria, assim que ele finaliza.
- Maiiinhaaa! Eu grito de dentro do carro.
- Entra meu véi, vamos dar uma volta.
- Que é minina, quer matar sua mãe.
- Entra aí, vamos dar uma volta.
- Eu não, esse trem vai quebrar no meio da estrada e a gente vai morrer.
- Cruiz credo mainha, num fala um trem desse não.
- cê vai bater em alguém com isso e vai matar a pessoa de tétano.
- Oxente muié tá mangando do presente que eu dei pra nossa fia?
- Não, cê sabe que eu tenho medo de andar nesses carros.
- Tá bom então, fica aí olhando.
Ligo o carro passo pra primeira marcha, com um pé no acelerador e outro no freio, dou partida e mudo pra segunda, ganhando velocidade. Pouco depois passo pra terceira um pouco afoita para ver até onde ele vai.
Quando passo pra quarta meu pai grita para parar e segura no puta que pariu, o carro dá um pipoco, aos poucos vou diminuindo a velocidade, e o carro começa a engasgar e soltar fumaça, quando consigo parar painho solta o sinto de segurança e desce do carro.
- Sua fia duma égua, quase me mata.
Ele segura o peito e faz uma expressão de dor, desço do carro voando.
- Painho o senhor está bem? O que foi fala pra mim? Fala!
Começo a entrar em desespero, ele tosse e segundos depois está rindo feito um doido, minhas pernas falham e caio de bunda na calçada ao seu lado.

Nos Braços De Apollo Where stories live. Discover now