Bruit sourd

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baque (s.m.): tombo, queda; emoção forte; desastre, revés ou ruína súbita que acontece num instante.

"Quem no alto quer subir e as nuvens quer pegar, as estrelas já estão rindo do baque que vai levar." - Linartt Vieira.

Camila se sentia protegida de todo o mundo com aquele casaco de moletom que cobria mais da metade de suas coxas e era bem maior que suas mãos. A garota se espreguiçou com tanta vontade que rolou umas vinte vezes pela cama e se levantou com os olhos inchados e relaxados. Foi uma noite maravilhosamente leve.

O apartamento estava totalmente silencioso e ela não sabia se tinha acordado cedo ou tarde demais. De repente, Keaton já tinha ido para o trabalho. Para falar a verdade, a garota nem sabia se ele tinha voltado pra casa, se esquecera totalmente de que era a motorista da vez e voltou com o Renault Twingo verde, e agora torcia para o melhor amigo não estar bravo.

Camila pegou uma caixa de leite e se jogou no sofá, bebendo direto da abertura. Pelo porre de ontem, não era difícil presumir que ninguém chegaria cedo para abrir o Doucement e ela não quer e nem precisava fazer essa honra. Queria apenas dar um tempo em casa, pensar em ontem, rebobinar as conversas. Sorriu sozinha ao pensar, tomando mais um gole da caixa. Ela estava parecendo uma adolescente infantil.

-Eu não posso chegar atrasado no trabalho. -Camila ouviu o resmungo do melhor amigo e levantou os olhos para o corredor, arregalando-os ao se deparar com Finch e Keaton num amasso matinal.

Ambos estavam apenas de cueca box e o moreno de densos cachos negros imprensava Keaton contra a parede com uma voracidade digna de preliminar de filme pornô. A mão dele já estava apertando a box volumosa de Keaton.

-Primeiramente, bom dia! -Camila deu um grito simpático e ambos se soltaram, arregalando os olhos.- Será que pra fazer esse tipo de coisa dentro do quarto? Valeu aí! -Levantou a caixa de leite como num brinde e percebeu que nenhum dos dois sabia onde enfiar a cara, então ela apenas ligou a televisão e fingiu que nada tinha acontecido.

Keaton havia assinado mais de vinte canais culinários por causa dela e ela adorava assisti-los quando não tinha nada pra fazer, como agora. Eles eram péssimos, no ponto de vista da garota. Ela ouviu alguns passos e um resmungo, levantou os olhos e viu que o melhor amigo estava sozinho, preparando o café da manhã.

-Pelo visto tem alguém na sua. -Arqueou uma das sobrancelhas e ele sorriu de lado.

-Eu já te falei sobre isso, Karla Camila. -Ele estava todo risonho, cortando bacon pra fritar.- As coisas só estão acontecendo mais rápido do que eu previa.

-O que você tem dentro da cueca? Mel? -Ele riu e negou com a cabeça.

-Eu faço direito, Camila. -Depois dessa a garota engoliu o riso e assentiu.- Mas vem cá, onde é que você se meteu ontem com o meu carro?

Seu semblante era sério e curioso, mas ele não estava bravo, só queria saber onde ela estava.

-Eu só não estava no clima de bebedeira. -Camila tomou mais um pouco de leite e deu ombros.

-Quase liguei pro seguro mas Dinah me convenceu de que ninguém roubaria um Renault Twingo 2001.

-Se tem uma coisa que eu te dou certeza é que nunca vão roubar teu carro, Keaton. Pode ficar tranquilo..

-Fala a verdade pra mim, Camila. -Ele largou tudo e cruzou os braços num tom paciente.- Por que você sumiu sem avisar?

-Quem disse que eu não avisei?

-Eu não estava bêbado, eu fingi que estava. -Ele sorriu, quase perverso e ela sentiu vontade de rir e se esconder.- Eu te vi muito bem saindo do Béant e não foi pro meu carro que você foi.

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