Cadeau

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presente (s.m.): o que se dá a alguém para felicitar, retribuir, agradar; período do tempo compreendido entre o passado e o futuro, tempo atual; do latim praesentia, que significa alguma coisa que está perto, ao alcance de alguém, podendo ser considerado como uma dádiva ou lembrança.

"O tempo não espera por ninguém. Ontem é história. O amanhã é um mistério, o hoje é uma dádiva, por isso é chamado de presente." - Adalberto Godoy

Todos os objetos que jaziam na estante de madeira haviam sido jogados e estavam agora quebrados pela chão, e a morena puxava os cabelos enquanto andava desorientada de lado para o outro. Ela não sabia o que fazer, não fazia ideia do que podia fazer. Suas mãos tremiam enquanto ela segurava o maldito papel e seu coração ardia no peito por conta da dor que a inércia lhe trazia.

-Meu Deus, o que aconteceu aqui? -A voz preocupada de Lauren fez com que ela saísse se seus devaneios, mas ao encarar a esposa com aquele lenço enrolado na cabeça, seu peito doeu mais ainda.

-Quando você ia me contar? -Sua voz não saiu mais alta do que um murmúrio e os olhos verdes se arregalaram assim que notaram o papel que ela tinha na mão.

-Amor, eu...

-Quando? -Aimeé a interrompeu bruscamente e ela encolheu os ombros num suspiro.

-Quando eu tivesse coragem.

-Eu achei que você estava melhorando, Lauren!

-Eu também achei!

-Você sabia disso há duas semanas! -A enfermeira amassou o resultado do exame e jogou-o longe.- Duas semanas!

-Eu não sabia como contar pra você! Eu ia fazer o quê?! Um jantar à luz de velas pra dizer que a quimioterapia não estava fazendo efeito?

-Você tinha que ter me contado!

-Mas eu não contei, e aí? -Lauren a peitou, bufando para segurar o choro.- Vai mudar no quê agora? Hein?

-Não vai mudar porra nenhuma. -A enfermeira murmurou, deixando o corpo cair sentado no sofá e Lauren uniu as sobrancelhas de forma sentida, agachando-se de frente à esposa.

-Desculpa.

-Você não tem que pedir desculpas, Lauren. -A morena de olhos azuis puxava os próprios cabelos com força enquanto sentia a tontura apossar-se de si, sua cabeça estava girando sem parar.

-Eu sinto que tenho. -Lauren pegou a mão da esposa e beijou-a delicadamente.- Você anda tão distante desde que a radioterapia não funcionou... Eu não sabia como te contar, eu não queria que você se afastasse mais ainda.

-Eu não consigo. -Aimeé disse finalmente, encarando os olhos verdes agora confusos.- Eu não consigo ver isso acontecendo com você.

-O que você quer dizer com isso? -Ela perguntou estendendo a mão para acariciar-lhe o rosto, mas a enfermeira se afastou, negando com a cabeça e fechando os olhos sem conseguir conter o choro.

-Eu lido com isso todos os dias, Lauren, eu trabalho num instituto para pessoas com câncer, eu vejo isso todos os dias. A radioterapia não funcionou, a quimioterapia não funcionou também... Eu sei muito bem o que isso significa, eu sei muito bem como isso termina.

-Eu não estou em estágio terminal, é mieloide crônica, demora mais tempo pra progredir e avançar, o Deryl disse! Se eu esperar mais um tempo, uns dois meses, eu volto pra quimio ou sei lá, vai ter outro tratamento e se não tiver outra solução, a gente espera avançar até que eu possa fazer o transplante.

Spring AwakeningWhere stories live. Discover now