Capítulo 11

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Esse capítulo é menor, e será narrado somente pela Cléo. Espero que gostem. Sexta-feira tem mais. ♥

Cléo

- Não pode deixar isso para outro dia, Cleozinha? Preciso dos seus serviços hoje cedo.

O deputado Diógenes insiste na linha, quando conto que tenho que viajar. Ele é um homem maravilhoso. Um dos poucos que me tratam bem, mas não me deixa esquecer o que faço. Diferente do John. Até porque ele é casado. Tira um dia da semana pra me ver, e tirar o estresse.

- Desculpe-me. Mas estou precisando disso. Prometo que recompensarei você depois, certo?

Ele reclama algo que não dá para entender, mas logo concorda.

Sim, eu estou louca. Eu sei que deixando tudo de lado por uns dias para fazer companhia ao John é meio que uma loucura. Mas coitado... Fiquei com dó dele. E também eu amo a sensação que ele me causa no quesito liberdade. Não queria aprofundar tanto nossa amizade, e tão rápido assim, mas eu irei viajar. E devo confessar, estou morrendo de medo da mãe dele. Espero que ele não conte o que eu faço da vida. Senão serei expulsa a pauladas de lá.

Coloco calças jeans, blusas com e sem mangas, chinela e sapatilha. Quero tudo confortável, e discreto. Escolho uma calça de dormir, e um blusão. Meu kit de higiene pessoal guardo em uma bolsa menor, dividindo espaço com a bolsinha de maquiagem.

Observo o relógio e percebo que vou acabar me desencontrando do John. Já passam das sete da amanhã. Ele falou que iria cedo, mas não disse a hora. Chamo um táxi, e desço para esperar na portaria.

Alguns minutos de espera, e o taxista chega. Coloco minhas coisas no carro e passo o endereço. Fico apreensiva e com medo de acabar dando viagem perdida.

Pago a corrida, e o porteiro do prédio do John me ajuda com as malas.

- Obrigada! – agradeço, entrando no prédio – John já viajou?

- Acabou de sair.

Dar de ombros.

- Que droga!

- Porque não liga pra ele?

Balanço a cabeça.

- Quer saber? Foi até melhor assim. Vou pegar outro táxi e voltar pra casa. Obrigada!

Não sei se fiquei triste ou aliviada. A gente está indo rápido demais na nossa amizade. Não sei bem como enfrentaria a mãe dele. John é fácil de conviver, mas não sei se essa viagem daria certo. Foi até bom, porque vou tirar minha manhã de folga e dormir um pouco. Mais tarde se tiver algum cliente, eu vou. Não posso andar desperdiçando dinheiro assim. Até porque não cai do céu.

Chego em casa, e jogo minhas malas em um canto. Estou com preguiça de desfazê-la. Nada que tem aí será útil por hoje.

Pela manhã, meus planos de dormir, evaporam. Faço uma faxina geral na casa, engomo minhas roupas, organizo minha estante. Acabo optando por um sanduiche para o almoço. Como moro sozinha, essa preocupação nem existe. Sem ninguém pra cobrar, ou reclamar da minha alimentação.

Lembro-me da minha mãe. Uma mulher tão bonita, mas que preferiu o mundo das drogas pra destruí-la. Quando eu a internei pela primeira vez, foi em uma clínica mais barata, mas foi uma economia que saiu cara. Fazia visitas a ela regularmente, e não notava mudanças nenhuma nela. Seus cabelos sempre desgrenhados, olhos fundos e vermelhos e muito magra. Foi quando descobriram que um enfermeiro disponibilizava drogas em troca de sexo. Aí eu voltei a estaca zero. Durante o processo de investigação contra a clínica, acabei achando outra, dessa vez mais cara. Só que valeu a pena. Hoje, está mais bonita, cheia de vida, mas de vez em quando tem crises de abstinência. A psicóloga disse que é melhor que ela fique por lá. Sem contar que minha mãe tem transtorno de personalidade. Aqui fora ela correria mais riscos. Por isso pago uma alta quantia pra deixá-la por lá. Uma vez por mês eu faço uma visita a ela. Mesmo com todos os defeitos, problemas, eu a amo. Sonho com o dia em que ela poderá sair e ter uma vida normal.

Surpresa do AcasoWhere stories live. Discover now