13. everybody wants to rule the world

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Era mais um dia escuro de inverno, Alex levantou cedo, tomou seu banho, comeu algo e estava preparada para sair de casa, seria um dia normal se não fosse por duas coisas, era véspera de natal e havia uma bola de pelos laranja e branca deitada confortavelmente no seu sofá. Era um gato que há dias pulava em sua minúscula varanda e dormia ali, Alex decidiu que era cruel deixá-lo dormir no frio esperando que fosse embora, então abriu sua sala para que a criatura se esquentasse, no dia anterior havia comprado algumas coisas úteis para o felino, inclusive uma bolinha. Havia pensando em chamá-lo de Bolas, por causa das suas bolas gigantes, mas pareceu maldoso demais, então o chamou de Hanni, um apelido para Hannibal, ela estava lendo Red Dragon e estava adorando a história.

Foi para o seu trabalho como todos os dias, exceto sábado e domingo, mesmo que fosse véspera de Natal, seu chefe insistiu que deveriam trabalhar, por sorte o turno acabava no fim da tarde, então a garota poderia voltar para casa, trocar de roupas e ir para a casa de Øystein, sua mãe havia chamado todos para ceia.

O metrô estava quase vazio, a maioria das pessoas não trabalharam naquele dia, todos estavam cheios de sacolas, talvez voltando das compras ou indo para a casa de alguém, Alex aproveitou para ler seu livro, enterrando sua cara no cachecol grosso e usando sua mochila de travesseiro. Enquanto caminhava para a casa do guitarrista, sentiu algo estranho no peito ao olhar para as janelas das casas e ver várias pessoas reunidas, o natal era a época favorita da garota, mas naquele momento, odiava as luzes nas ruas que tentavam deixar o dia um pouco mais iluminado, toda a neve irritante e quão ridiculamente as coisas ficavam mais caras, odiava aquelas músicas de natal, odiava aqueles suéteres feios e ela odiava mais ainda o fato que não falava com seus pais há duas semanas, eles não ligaram mais e nem a atenderam, as lágrimas quentes pareciam querer congelar no seu rosto, estava tão absorta em pensamentos que quase não percebeu o carro que vinha em alta velocidade em sua direção, quase. Everybody Wants To Rule the World tocava alto na casa atrás de Alex, que permaneceu parada na rua após o carro quase a atropelar, todo seu sangue pareceu evaporar naquele momento.

"O que foi isso?", pensou desconcertada, suas mãos congelaram no bolso da sua jaqueta, o carro havia passado tão rápido que o vento parecia ter secado suas lágrimas. A vontade de vomitar apareceu em um instante, ela estava parada, em choque. "O que aconteceu?", se perguntou mais uma vez, tentando se lembrar o que estava fazendo. Seu coração se afrouxou no peito apenas para doer mais, sabia que se aquele carro tivesse batido nela, com certeza ela não estaria mais viva para contar a história. Um sentimento conhecido bateu na porta da sua mente, um sentimento que havia esquecido há muito tempo, um sentimento que achava que havia enterrado. "Eu quase morri".

Seu corpo se aqueceu por conta da adrenalina, mas sentia que estava prestes a congelar. Seus pés a levavam correndo para a casa dos Aarseth, queria se aquecer, queria estar confortável no sofá ouvindo músicas natalinas enquanto usava um suéter ridículo. Queria estar com sua família novamente, mas ela sabia que agora, a única família que ela tinha era uma aranha que provavelmente estava digerindo o grande inseto que Alex achou no banheiro e aqueles 4 caras bizarros da sua banda, principalmente um loiro esquisito que se parecia demais com ela, sua cabeça estava confusa demais para tentar organizar o que se passava. Só se deu conta que havia corrido 3 quarteirões inteiros ao bater na porta de madeira branca, ela não queria morrer.

Acreditava que se passe mais um segundo se queixando do quão ruim o Natal era, um tempo que sempre fora incrível para ela, ela se mataria. Não fisicamente, mas mentalmente. Ela se conhecia, sabia o quão mal ela podia fazer a si mesma, "eu não quero ficar só". A Alex de alguns anos atrás estava rindo dela nesse exato momento, tudo girava como num carrossel desenfreado.

Jan abriu a porta e ela lhe deu seu maior sorriso. "Oi Jan, boa noite? Já chegaram todos? Me desculpem o atraso, é que foi uma correria chegar até aqui sabe? Quase esqueci a sobremesa em casa, por sorte Archie estava perto de onde eu havia deixado os pacotes e quando eu fui dar comida para ele acabei lembrando, acredita?", ela falava muito e falava rápido, já havia entrado e já estava tirando suas botas para deixar na porta, todos a olhavam assustados. "O que foi gente? Parece que viram um fantasma!", um zumbido atingiu seus ouvidos e sua cabeça começou a doer, sua visão começou a escurecer, jurava que, se não tivesse morrido por causa do carro, morreria agora.

Ela estava pálida, seus lábios tão brancos quanto papel, tremia como nunca e estava sem força para se manter em pé. A sensação era tão forte que não sentiu quando a colocaram deitada no sofá, nem conseguiu ouvir o que falavam, sequer viu o desespero da mãe de Øystein pedindo que pegassem algo para ela comer, ela viu uma figura com o rosto muito próximo do seu, as vezes era uma mulher, outras vezes era um homem, as vezes loiro, as vezes moreno, tinha o cheiro agradável. Estava tão gelada que parecia morta, Pelle pedia para qualquer um que pudesse ajudar que não a levassem, parecia uma cena engraçada se a garota não estivesse com a pressão tão baixa que se passasse muito tempo assim teria um choque e bateria as botas no sofá alheio.

Quando se sofre com hipotensão arterial significa que suas arteríolas se dilataram, seu coração está batendo mais rápido e mais forte, seus órgãos não estão funcionando da forma que deveriam, a temperatura do seu corpo tende a cair, você pode sentir tontura e até mesmo desmaiar. Caso não melhore, você pode começar a sentir uma letargia, seus vasos sanguíneos podem ficar mais visíveis na sua pele, sua pulsação será rápida, mas fraca, mas sua pressão arterial estará tão baixa que será difícil detectá-la, por fim, você pode entrar em coma e morrer por um choque séptico. Mas esse não era o caso de Alex, após conseguirem jogar uma grande quantidade de comida na boca dela e lhe darem água, em poucos minutos já estava sentada no sofá, recuperando a cor do seu rosto. 

"Já estava quase te enfiando no carro para corrermos pro hospital!", Jørn exclamou alto, ela queria rir, mas estava sem força.

"Acho que não será mais necessário", ela tentou se levantar, mas a mão fria - que em comparação a de Alex, estava quente - de Pelle a puxou. "O que foi?".

"Não vai sair dai até parar de tremer!", Pelle falou, preocupado.

"Isso foi assustador", Øystein estava na poltrona da frente, tão branco quanto ela.

"Bom, é a segunda vez que quase morro hoje", todos a olharam, assustados. "Eu quase fui atropelada vindo pra cá", dessa vez, todos eles estavam brancos. A única coisa que foi ouvida foi a risada fraca de Alex.

QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora