TW: Crise de ansiedade.
As surpresas da viagem ficavam cada vez mais bizarras conforme passavam os dias. Chegamos na Lípsia com a notícia de que o lugar que ficaríamos havia sido atacado por um grupo de neo-nazistas, as arandelas quebradas e muro pichado com uma suástica deixou isso bem óbvio.
Precisamos levar nossas coisas para o clube onde tocaríamos já que Abo estava com medo de que o lugar fosse atacado novamente. "Mas nós não dormiremos lá?", Alex perguntou, ele assentiu com a cabeça, ela cruzou os braços e levantou as sobrancelhas com a inconsistência.
A plateia pareceu morta, Jørn falou diversas vezes no microfone tentado fazer o público responder, mas nada. O show tinha sido bom, eu dei o meu melhor, mas talvez não tenha sido suficiente.
Agora estávamos num bar junto de Abo e seus amigos, eu não conversava com ninguém, sequer havia trocado mais de 10 palavras com Abo nesses 3 dias juntos, então provavelmente não teria nada para falar com nenhum deles, enquanto isso Alex estava tão animada em conversar com eles que seu sotaque britanico acabava saindo forte demais, eu sequer entendia o que ela falava.
As bochechas vermelhas entregavam a sua embriaguez, ela sorria demais e falava demais, eu não pude deixar de admirá-la, o cabelo dela quando estava bagunçado caia bem com seu sorriso, eu adorava o jeito que ela olhava para mim. Ela trouxe sua cadeira para mais perto e abraçou meu braço, me olhando.
"Você fica bonito com resto de maquiagem no rosto", eu levantei as sobrancelhas enquanto ela falava. "Você fica bonito sempre, na verdade", senti minhas bochechas queimarem um pouco.
Alex me olhava de um jeito diferente, senti meu coração bater e o sangue fluir pelo meu corpo. Eu não entendia o que ela me fazia sentir, era algo tão forte que eu me sentia vivo, era quase como se eu voltasse no tempo para um momento que eu era insuportavelmente feliz.
Eu adorava o jeito que ela fazia eu me sentir.
Alex tocou meu rosto suavemente e me puxou para um beijo, seus lábios tocaram os meus, me afundando em êxtase. Seu polegar acariciava minha bochecha carinhosamente, senti minha cabeça girar, a puxei para mais perto, sua mão pousou no meu peito e eu a senti sorrir. Quando nos separamos, notei todos olhando para nós, eles sorriam, Jorn parecia orgulhoso. Ela deitou a cabeça no meu peito, senti a paz me invadir.
Uma música começou a soar tímida pelo bar, algumas notas de piano e guitarra até a bateria entrar num batuque rápido, então começaram violinos numa melodia um pouco triste; um homem começou a cantar numa linguagem que eu não entendia. Alex pareceu gostar da música.
"Que música é essa?", ela perguntou.
Abo coçou a cabeça tentando lembrar.
"É uma música húngara... Eu acho", um dos amigos de Abo respondeu, eu nunca tinha visto os olhos de Alex brilharem tanto. "O nome da banda é Omega, é a única coisa que consigo pronunciar".
Ela olhava para mim com olhos esperançosos, eu não sei do que.
Alex se afastou de mim, deslizou pelo sofá até a ponta da mesa e se levantou, seus grandes olhos me encaravam novamente, brilhavam tanto que me senti nauseado e hipnotizado, não pude desviar o olhar, mas não entendi o que ela queria, sua voz foi abafada pela música quando falou. A paz deixou meu corpo.
Ela flutuou pelo ar enquanto caminhava pelo meio das pessoas, seu vestido branco se destacava, a minha jaqueta parecia melhor nela do que em mim, tudo fica melhor nela.
Igen, jött egy gyöngyhajú lány
(Sim, a menina que com pérolas no cabelo)
Alex se mexia de forma tão graciosa que não consegui tirar meus olhos dela.
Álmodtam, vagy igaz talán?
(Ela é real ou apenas feita de ar?)
Por um instante, me preocupei que Alex desaparecesse no ar. Ela era boa demais para mim para ser real.
Így lett a föld, az ég
(A vida continuou como antes)
Me levantei da mesa sem pensar, apenas caminhei em sua direção, a seguindo com o olhar, Øystein me perguntou para onde eu ia, mas eu apenas o ignorei.
Zöld meg kék, mint rég
(O homem viveria mais uma vez)
Senti o ar escapar dos meus pulmões quando a perdi no meio das pessoas, a procurei em volta, mas nenhum sinal dela.
Igen, jött egy gyöngyhajú lány
(Sim, a menina que com pérolas no cabelo)
As cores sumiram do meu campo de vista, tudo pareceu tão cinzento quanto os olhos dela, mesmo que aquela cor morta tenha sido a coisa mais viva que eu já havia visto.
Álmodtam, vagy igaz talán?
(Ela é real ou apenas feita de ar?)
Sua mão segurou a minha e me puxou, ela andava rápido e alegre, eu mal conseguia acompanhá-la, as cores voltavam conforme eu a seguia. Quando a música acabou, ela respirava rapidamente e sorria tanto que era contagiante, eu me permiti aproveitar o momento e rir com ela.
Quando ela me beijou, sequer pareceu real. O jeito que meus lábios rachados eram acariciados pelos seus, fui levado ao céu apenas para ser arrastado para o inferno quando ela se separou de mim. Minha cabeça girava, eu não entendia o que estava acontecendo, tudo que eu queria eram suas mãos quentes segurando meu rosto.
Mais tarde naquela noite, nós dividimos um colchão velho para dormir. Abo parecia estar com medo que houvesse outro ataque durante a madrugada, e eu sequer conseguia pregar os olhos, sabe-se lá porquê, minha cabeça ainda girava e eu parecia estar tendo algum tipo de abstinência ou merda assim.
"Pelle", ela me chamou num sussurro. "Pelle feche os olhos", ela pediu, mas eu não consegui. Senti seus olhos preocupados caírem sobre mim, ela quis me perguntar algo, mas nunca o fez.
"Alex", eu a chamei. Não falei mais nada, apenas puxei suas mãos para meu rosto, ela me segurou com tanta ternura que senti vontade de chorar, não senti que merecia aquilo, mas era tudo que eu queria então tomei para mim.
Não aguentava mais aqueles pensamentos, não aguenta mais aquela desordem, eu não aguentava mais nada. A única coisa que me seguravam eram as mãos delas, as mãos quentes e carinhosas, a única coisa suportável.
Eu não entendia o que estava acontecendo comigo, então eu só desabei, mas Alex estava ali para me segurar, ela enxugou as lágrimas do meu choro silencioso e segurou meu rosto até que eu final dormisse.
N.A.: oi gente! eu gostaria que vocês lessem isso aqui!
Me desculpem por demorar tanto para atualizar a história. Mas estou tendo bastante coisa para fazer no trabalho e faculdade, e, após dois anos de pandemia, as coisas estão voltando a serem como eram antes. Acredito que vou poder finalizar a história em alguns capítulos, depois vou tirar um pequeno descanso e revisar tudo.
Aliás, se você fala húngaro, acredito que a tradução da música citada no capitulo não esteja fiel. Eu utilizei a versão oficial traduzida para inglês para traduzir os trechos da música.
O nome da música é gyöngyhajú lány - omega, recomendo que escutem!

YOU ARE READING
QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...