Eu parecia anestesiada enquanto observava a paisagem passar rápida pela janela do carro, a minha cabeça estava a mil e há dias meu corpo doía e minha pele parecia queimar por conta da ansiedade. Tudo que eu conseguia fazer era suspirar e torcer para minha minha mente não me matar, eu sentia falta dele, mas o que eu poderia fazer? Talvez ligar para Øystein e pedir o número dele, ou melhor, tentar esquecê-lo e quando eu voltasse eu não sentiria mais nada.
"Há quanto tempo não os vemos?", minha mãe perguntou.
"Tem uns anos, eles tiveram um filho, o mais velho dele tem o tamanho de Alex", meu pai respondeu, o filho deles era bem mais novo que eu.
Estávamos indo em direção ao aeroporto buscar alguns amigos dos meus pais, era um casal com dois filhos que, praticamente, eram da nossa família. Melina insistiu que eu fosse com eles para sair um pouco de casa, eu não queria mas ela bateu tanto na minha porta que eu tive que me levantar, me juntei aos meus pais ainda de pijama e coturno.
"Lena!", minha mãe disse ao ir abraçar a mulher loura e alta que estava segurando uma criança no colo. Olhei para a família, altos, loiros, bonitos. Uma bela e tradicional família norueguesa.
"Alex! Você não mudou nadinha! Soubemos que esteve na Noruega, por que não nos visitou? A aceitaríamos de braços abertos!", Lena pareceu bastante feliz, então dei o meu melhor para sorrir.
"Eu estava em morando em Langhus, era meio longe e eu fiquei bastante ocupada com a banda e tudo mais, desculpe".
"O Kristian também entrou numa banda. Kris! Venha falar com Alex!", olhei para Kristian, ele estava um pouco mais alto que eu e seu cabelo estava mais longo.
"A última vez que eu te vi, você tinha o cabelo curto e a cara cheia de espinhas", brinquei com o louro que pareceu não gostar muito, mas respondeu na brincadeira também.
"Bom, a última vez que te vi você tinha menos ferros no rosto e um moicano", eu ri, me aproximando dele para abraçá-lo.
"Você tem quantos anos agora?", perguntei no meio do abraço antes de me soltar.
"16".
"Ow... Andou comendo fermento para crescer?".
Nossos pais falavam muito enquanto voltávamos para minha casa, mas eu não estava nenhum um pouco afim de me envolver, então só encostei a testa no vidro do carro enquanto estava sendo espremida pelos outros 3 e a criança no colo de Lene, fiquei o resto do caminho sentindo minha cabeça vibrar por causa do carro.
Agradeci quando meus pais fizeram Pannkakor, panquecas suecas, não acho que tenha muita diferença das panquecas fora do país, mas elas eram mais finas e eu gostava. Eu cobri minha panqueca com chantilly e geleia de menta, meus pais brigaram por comer muito rápido, mas eu queria manter a boca cheia para não responder as perguntas sobre a minha vida feitas pelos convidados.
Comparei mentalmente Melina com Kristian, ele era dois anos mais novo que minha irmã, realmente se portava como alguém mais novo, mas em aparência, ele pareceu bem mais velho, eu invejei por um segundo, mas percebi que só estava sendo idiota.
"Você pode nos visitar em Laghus, se quiser, talvez goste. Um dos caras da minha banda tem uma gravadora, ele mudou o nome recentemente para Deathlike Silence, pode ser que seja bom pra sua banda".
"Deathlike Silence? Igual aquela música do Sodom?", eu assenti. "E já lançaram alguma coisa com o selo dessa gravadora?".
"Ele conseguiu, um album de uma banda sueca, acho que o nome é Merciless. Ele quer fazer uma reedição do primeiro EP da banda e lançar com o selo também. Mas nada além disso", expliquei, ele não pareceu nem um pouco interessado, então eu só voltei para o meu quarto e deixei o trabalho de lidar com ele para Melina.
Durante aquela semana, Melina nos convenceu de sair várias vezes, eu conheci seus amigos mesmo que não estivesse interessada, já que a minha irmã parecia feliz com nosso contato. No fim da semana, logo logo seria Natal, compramos ingressos para uma banda de Estocolmo, eu nunca havia ouvido nada deles, mas Melina e seus amigos pareceram gostar, então fiz isso por ela. Kristian continuava sendo um pé no saco só que agora mais suportável, ele me deu algumas dicas de guitarra e me emprestou seu pedal já que eu tinha deixado o meu na Noruega.
Era como outro bar, pessoas dançando e bebendo enquanto esperavam pela banda.
"Não, você não vai beber isso", eu tirei o copo de cerveja da mão de Kristian antes que ele tivesse a chance de beber. "A sua mãe vai brigar comigo se passar mal! Lena é assustadora as vezes", eu beberiquei a bebida, Kristian protestou, mas eu não poderia fazer nada, já que, se me acusassem de um crime, eu perderia a porra do meu passaporte.
Pessoas de cabelos longos só eram vistas aos montes em lugares assim, fora desses bares, éramos quase ratos ou baratas, escondidos nos cantos e nunca tão bem vindos assim, a ideia de que sacrificávamos crianças para Satanás e...
Nem fodendo. Eu gritei mentalmente, vi uma silhueta loira, alta e magra com longos cabelos loiros angelicais, quase surtei até a figura se virar e eu perceber que era a pessoa errada. "Qual a porra do meu problema?", eu resmunguei.
"O que disse?", um dos amigos de Melina perguntou, eu apenas balancei a cabeça para dizer que não era nada.
Novamente meu maior inimigo era o tempo, rápido e lento demais, o tédio me consumia e tudo que eu queria era enfiar uma meia na boca do irmão de Kristian para que ele se calasse.
"Feliz natal Øystein", eu disse enquanto falava no telefone, o tempo havia brincado comigo novamente, já era véspera de Natal.
"Você sabe que não somos cristãos né?".
"Como se desse para ser mais obvio", estava sentada no balcão da cozinha com o telefone próximo de mim, eu enrolava o fio enquanto olhava todos lá fora através da porta, alguns vizinhos se juntaram a nos. "Como estão?".
"Estamos bem, Jan sumiu novamente e voltou essa tarde para a festa de Irene. Achei que você e Pelle voltariam para as festas".
"Uhmm... Decidi ficar aqui por um tempo, manter a cabeça longe de... Algumas coisas", ouvi um barulho de algo sendo quebrado e então alguns aplausos irônicos.
"Jørn quebrou um copo... Lá vai menos um da nossa casa", eu gargalhei, havia esquecido das trapalhas de Jørn.
"Dia 2 eu volto, me esperem na rodoviária. Estarei levando uma possível adição para a Deathlike".
"Estamos com saudade Alex!", Jørn gritou de fundo. "Mande um beijo para Melina e traga mais daquele doce que ela trouxe!".

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QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...