A manhã seguinte foi mais tranquila do que Alex achou que seria, na sua cabeça, haveriam brigas, confusões e xingamentos gratuitos, mas estavam todos de pijama na sala da casa de Øystein, tomando café e jogando jogos de tabuleiro.
Era incrível como a mente de Alex podia manipulá-la, ela sempre aumentava a situação fazendo parecer como se fosse o fim do mundo.
"Não é o fim do mundo", Alex lembrou da fala do guitarrista, que estava sentado ao seu lado direito, conversando com ela como se nada tivesse acontecido. Será que realmente aconteceu? Se sim, talvez Øystein estivesse muito bêbado para lembrar? Ou ele não ligava? Se não tiver acontecido, será que Alex estaria maluca? Inventando coisas para suprir o ciúme que sentia de Pelle? Mas por que Øystein?
"Alex, é sua vez", Jan falou, a tirando do transe. Ela jogou os dados e caminhou a quantidade do resultado com sua peça pelo tabuleiro.
"Não quero nada", e agora era a vez de Jørn.
"Então, o jogo foi bom mas quando vamos para a melhor parte?", Jørn perguntou após ganhar a partida, esticando o corpo. "Os presentes! Eu começo", ele correu em disparada aos presentes separados, pegando todos que haviam seu nome nele.
"Ei! A casa é minha! Então eu começo!", Øystein deu um sorriso vitorioso ao puxar seus presentes para perto de si.
Pareciam crianças.
De fato, eram crianças.
Pelle foi o terceiro a abrir seus presentes, o último era o presente de Alex. Ele a olhou, estava a sua frente, sentada no chão, abraçando suas pernas cobertas pela calça moletom com desenhos engraçados, ela colocou uma mecha do cabelo desbotado atrás da orelha ao perceber que era o presente dela. O presente não estava em caixas como os outros, parecia ser algo mole, roupa talvez? Tudo que Pelle queria era explicar para ela o que aconteceu na noite passada, mas ela desapareceu, como um fantasma. Durante seu sono, aquele par de olhos cinzas o assombraram.
Pelle abriu sem delicadeza, mas com medo de rasgar o quer que estivesse dentro do embrulho branco com detalhes em vermelho.
"O que é?", Jørn perguntou, tentando decifrar.
Pelle conseguiu abrir, se deparando com a camisa branca, nela estava escrito "I Love Transylvania", com um coração vermelho empalado no lugar do "Love".
"Eu... Adorei. Obrigado Alex", ela recebeu o sorriso torto de Pelle, o maldito sorriso que ela pensava sempre. Alex respondeu o sorriso com outro, sentia seu coração pesado.
Alex sentia medo quando seu coração pesava dessa forma, sentia que ele poderia se soltar de onde estivesse preso e cair livremente pelo seu corpo, ela teria que fazer uma cirurgia para colocá-lo de volta no seu lugar e deixá-lo preso.
"Bom, eu quero abrir os meus!", Jan pareceu animado, queria abrir o menor presente primeiro para depois o maior.
Alex recebeu um kit de palhetas novas de Jørn, uma foto dos cinco juntos de Jan, um pacote cheio de patches para sua jaqueta de Øystein, o de Pelle ela demorou um pouco mais para abrir, precisou pegar a faca para abrir a pequena mas alta caixa.
Ela ficou envergonhada, Per com certeza havia gastado mais nesses livros do que Alex na camiseta, eram algumas HQs em sueco do Drácula e O Iluminado, do Stephen King, se HQs não estivessem embaladas, a garota juraria que era da coleção do loiro.
"Onde conseguiu essas?", Alex perguntou, olhando para as HQs novíssimas, seus olhos brilhavam. Antes de ler algumas coisas da coleção de Pelle, ela não apresentava muito interesse nisso, mas depois eles passaram a partilhar o mesmo gosto.
"Segredo", Jørn, Jan e Øystein se entreolharam, eles sabiam que Pelle havia pedido para Anders, seu irmão, comprar algumas e enviar para ele. Tudo que fizeram foi rir, Alex ficou confusa, mas agradeceu o presente.
Eles passaram o resto da tarde na sala vendo filmes na sala e tomando cerveja, Alex decidiu que por um dia não faria mal. A noite eles voltaram para a casa de Metalion, dessa vez não haviam tantas pessoas, o próprio Jon estava lá, obviamente, junto de Irene e alguns poucos amigos.
Alex não queria voltar e ver a garota da noite anterior novamente, na verdade, não queria ver Pelle com ela, gostaria de vê-la morta, com sua cabeça empalada num bastão de madeira. Doentio demais, Alex. Se acalme, ela se repreendeu.
"Hey", Pelle a encontrou sozinha na cozinha, ela segurava um copo e olhava para o chão, parecia hipnotizada.
Alex não era a única que achava que tudo aquilo seria maior do que pensou que fosse. Pelle estava se corroendo por dentro, queria falar para a amiga que tudo não passou de um mal entendido. Eles me colocaram lá com aquela garota, eu sequer sei o nome dela, ele ensaiava mentalmente o que diria para Alex. Alex, Alex, Aaalex, Aaaaleeeex, Alexy, Lexy.
Por que seu nome não sai da minha cabeça? Por que eu quero tanto que saiba que não tenho olhos para outras meninas? Por que eu me sinto vivo com você?
"Oi", ela respondeu. O rosto de Pelle estava vermelho. "Está bêbado?".
"Eu queria falar com você", essas palavras atingiram Alex como uma facada do seu estômago, sentiu algo quente explodir dentro da sua barriga, fazia tempo que não se sentia assim.
"Oh, tudo bem. Pode falar", ela terminou de beber a água, se forçando a olhar no fundo dos seus olhos, seus pés não ficavam quietos por causa do nervosismo.
"Alex... Eu...", Pelle começou a se atrapalhar na fala, e logo alguém entrou na cozinha, ele sentiu seu coração parar e logo se aliviar. "Eu vou falar depois", ele se virou e começou a andar, até sentir algo puxando sua camisa.
O desespero bater no coração de Alex, vê-lo ir embora daquele jeito a lembrou da coisa que gritava em sua mente enquanto corria para a casa de Øystein no dia anterior. "Eu não quero ficar só".
Por quanto tempo Alex ficou só? Muito. Tempo demais para não valer a pena contar. Ela achou sua casa, no menino de cabelo loiro que a olhava como se fosse alienígena, foi ele quem viu seu coração bater, foi ele quem ouviu e quem falou.
Seu coração batia tão forte contra sua caixa torácica que achou que quebraria suas costelas, ou pior, seu coração cairia de onde estava.
Aquele zunido do dia anterior voltou, sem a dor de cabeça, sem a visão escura e sem desmaio.

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QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...