Alex estava sentada na varanda da enorme casa, a brisa fria bateu contra seu rosto vermelho, era bem óbvio que ela havia passado algum tempo ali chorando. Ela respirou fundo, desejando que o ar frio a congelasse e a matasse ali mesmo, seria uma morte bem estranha, ser congelada por dentro, na varanda da sua própria casa, ela se perguntava se caso o cigarro começasse um incêndio enquanto ela congelava, se a causa da morte seria por congelamento ou por queimar até virar churrasco.
Foco, Alex.
Haviam dois meses desde a Alemanha, além daqueles, eles só haviam feito mais um show, na Turquia. Eles se sentiram no céu após a Lípsia, a semana que seguiu foi o paraíso, não houveram brigas, discussões e Øystein preparava o material, ele queria fazer cópias dos shows e os vender, seria isso que iria os salvar de falir completamente.
Eles fariam mais um show na Grécia, mas Pelle acabou se enganando e eles pegaram o trem errado, isso resultou em Pelle sendo xingado por Øystein e Alex o mandando ficar calado até eles viajarem para Turquia, 4 dias depois. Eles deveriam fazer mais de um show na Turquia, mas algo deu errado e o show nunca aconteceu. A mesma coisa aconteceu com vários outros shows, muitos deles eram cancelados antes mesmo de chegarem perto da data.
A banda parecia estar no seu pior momento, a ilusão de que tudo iria melhorar após vários shows só aumentou a queda quando eles se viram sem dinheiro nenhum, Aarseth era positivo de que tudo iria melhorar e ninguém aguentava mais aquilo.
Cada um teve um jeito de lidar com a situação de merda que estava se formando, Alex começou a fumar demais, Jan desaparecia por vários dias, Jørn ficava o mais longe possível daquela casa, Øystein arrumava briga com quem aparecesse pela frente e Pelle se isolou no seu quarto.
Pelle.
Alex tragou mais uma vez ao lembrar dos olhos azuis gelados do seu namorado.
Sim, namorado.
Após os shows da Alemanha, Alex voltou à Suécia para buscar o carro prometido pela sua mãe, Jørn disse que iria com ela sem problemas e Pelle quis ir também. Eles passaram dois dias na casa dela antes de voltar, foram belos dois dias de calmaria, eles puderam descansar sem as brigas insistentes do guitarrista e podiam comer algo de verdade após meses se alimentando de macarrão e pão velho.
Jørn pareceu alegre ao ver Melina novamente, afinal fazia mais de um ano que não se viam, eles ainda conversaram poucas vezes por telefone, mas nada melhor que se verem finalmente. Alex não quis ficar por perto para ver, ela preferiu ficar ao lado de Pelle, cuidando dos cortes após os shows e se certificando que ele comeria bem pelo menos na Suécia.
"E esse é?", a mãe de Alex perguntou ao ver o loiro alto atrás da sua filha quando eles chegaram, ele parecia um ratinho assustado, Alex segurou sua mão antes de responder.
"Pelle. Meu namorado", ele olhou para ela, surpreso.
Enquanto voltavam para Noruega, eles passaram pela casa de Pelle, a mãe dele deu um abraço apertado na garota e eles puderam conhecer Anders, o irmão mais de Pelle. Eles eram muito parecidos, mas Anders não parecia se interessar tanto pelas músicas do irmão.
No caminho de volta, Jørn estava largado no banco de trás enquanto Alex dirigia e Pelle estava no banco do passageiro, ele olhava a paisagem distraído, até que em um momento perguntou:
"Nós somos namorados?", ele olhou para Alex, que olhou para ele de relance, tentando não se distrair da estrada.
"Não sei, você quer ser meu namorado?", ela perguntou, um sorriso leve estava preso em seu rosto. Pelle ficou calado, pensando.
"Quero".
"Então somos namorados", Jørn, que eles achavam que estava dormindo, observou tudo no banco de trás, Alex e Pelle deram as mãos por alguns segundos antes dela precisar soltar, não antes sem dar um beijo na mão dele. O baixista desejou ter uma câmera para tirar uma foto daquilo.
Alex sorria ao lembrar desses momentos com Pelle.
Ela lembrou também no camarim após o show na Turquia, eles estavam se pegando no banheiro, tentando ao máximo não fazerem barulho, até que ouviram alguém reclamar.
"Agora que esses dois fudidos descobriram que podem foder, não param mais!", era Øystein resmungando, eles pararam pois nenhum dos dois conseguiu segurar a risada.
Mas agora fazia quase uma semana que ela não conseguia conversar com Pelle e o sorriso no seu rosto foi gradativamente sendo substituído por lágrimas.
Era uma situação realmente insuportável, ninguém aguentava mais ficar perto um do outro, eram discussões sem fim e Alex não sabia o que fazer.
O pensamento de sair da banda e voltar para a Suécia morava na sua cabeça, ela não se importava que seus pais provavelmente falariam que estavam certos, ela se preocupava com Pelle, ele não iria querer sair da Noruega com o rabo entre as pernas, não, ele era muito orgulhoso para isso.
Alex não poderia apenas largar tudo e voltar para Suécia. A incerteza a consumia como fogo em palha.
Pelle abriu a porta para sair daquele quarto pela primeira vez em dias, ele desceu as escadas, fraco por não comer muito, mesmo que Alex fizesse questão de colocar comida e água todo dia na porta dele.
Ele escutou alguém fungar como se estivesse chorando, se aproximou silenciosamente, vendo Alex sentada no chão da varanda, de costas para ele, a porta aberta deixava o calor da casa escapar.
O peso repentino no seu ombro fez Alex abrir os olhos, Pelle estava sentado ao seu lado, com a testa deitada no seu ombro. Sem falar nada, ela estendeu a mão para que ele segurasse.
"Sua mão está fria", ele disse, a voz rouca de quem não havia falado nada o dia inteiro. Alex não soube o que responder. "Me desculpe".
"Por que?", ela enxugava as lágrimas, Pelle não levantou a cabeça em momento nenhum.
"Eu sou um péssimo namorado, Alex", ela apertou sua mão.
"Não, você não é", Pelle só notou o que sentia mais falta do toque dela do que achava quando ela soltou sua mão e ele tentou desesperadamente segurá-la novamente. Ele sentia seu coração doer. "Você só precisa de ajuda. Mas eu não posso te ajudar de você não quiser".
Ele levantou a cabeça, apoiando agora o queixo, ele percebia a preocupação nos olhos dela, havia mais dor ali do que qualquer outro poderia suportar.
"Eu...", ela tocou seu rosto enquanto ele falava. "Preciso de ajuda".

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QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...