38. highway

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Faust apontou a câmera para Pelle enquanto ele batucava a bateria, após alguns anos de poucos momentos tocando a bateria de Jan, Per poderia ser considerado um baterista razoável. Snorre estava sentado no sofá ajudando Alex a não se espetar enquanto trocava as cordas da sua guitarra.

"Não sei porque dessa maldita corda estourar agora", Alex resmungava.

Øystein estava sentado no chão, ele girava a garrafa de cerveja no chão à sua frente e ouvia Pelle tocar.

"Pelo menos estourou no final do ensaio", Jørn disse ao entrar novamente na sala, dando um chutinho nas pernas de Jan para que ele as tirasse do caminho, ele revidou com um tapinha nas pernas do baixista.

"Estão animados para a Alemanha?", Snorre perguntou, Alex acabou espetando o dedo - novamente -, limpou o sangue no vestido floral que usava por cima da calça cheia de rasgos.

Faltava uma semana para eles viajarem. Øystein estava apostando alto nesses shows, mas sequer tinham dinheiro para comprar as passagens, a ideia seria irem de carro, mas seria mais barato se fossem de trem.

Pegariam um trem para saírem da Noruega, atravessarem a Suécia, Dinamarca, então chegariam na Alemanha, pegariam outro trem para Berlim, onde encontrariam Abo e por fim, o último trem para Annaberg; só de pensar em todo esse trajeto, Alex tinha vontade de vomitar: Seriam mais de 15 horas em trens.

"Pelle não para de falar sobre isso!" Øystein respondeu rindo.

"Você não fez diferente, Aarseth", replicou Pelle, levantando-se da banqueta.

"Ah, fique quieto!".

"Arrumei!", Alex levantou sua guitarra com uma feição alegre. Quando foi tentar tocar para testar a corda nova, outra estourou. "PORRA!", seus amigos riam enquanto ela furiosamente trocava a outra corda enquanto xingava.

"Onde tocarão primeiro?", Faust perguntou.

"Tocaremos em Zeitz", Øystein respondeu.

"Na verdade, é Annaberg", Jørn falou, Aarseth olhou para ele com uma cara de quem não gostou nem um pouco de ser corrigido.

"Uhm... Zeitz", ele coçou a garganta.

"É Annaberg! Zeitz fica no caminho de Annaberg e Lípsia!".

"Você não sabe do que está falando!", Oystein levantou sua voz, Jørn não gostou nada disso.

Os dois começaram a discutir feito crianças, tentando provar que o outro estava errado. Snorre e Faust ficaram calados observando eles, provavelmente envergonhados pela situação.

"CALEM A PORRA DA BOCA! OS DOIS!", Pelle gritou, surpreendendo a todos. Suas bochechas estavam vermelhas e cabelos bagunçados, ele estava cansado dessa merda toda. "Parecem a porra de duas crianças mimadas!", os dois ficaram calados, olhando para o chão, ninguém esperava que Pelle repreendesse alguém, muito menos Aarseth e Stubberud.

O silêncio pairou, a tensão era quase visível.

"Annaberg. Nós vamos para Annaberg", Alex falou, ainda concentrada na corda, o toque do telefone soou do térreo e Pelle se levantou para atender sem falar nada.

"Bom... Então, Annaberg, Zeitz e Lípsia. Não vão passar por Berlim?", Snorre tentou amenizar o clima.

"Abo nos encontrará lá", Alex respondeu, terminando de arrumar a corda. "Pronto!".

"Alex, é pra você", Pelle disse da entrada do porão, ela deixou a guitarra cuidadosamente no seu lugar e subiu pulando 2 degraus por vez.

Pelle pegou a guitarra da garota, se sentando no lugar, segurava a guitarra no colo enquanto ouvia a conversa morna dos amigos.

"Então... Vamos comer?", Jan deu a ideia, esperando que respondessem positivamente, para a sorte dele, eles concordaram.

Organizaram tudo antes de saírem, Pelle ficou calado o tempo todo, ele se sentia cansado em relação a tudo, esperava que Øystein ao menos desse uma folga alguns dias antes da viagem, mas ele sabia que apenas poucos dias não seriam suficientes para curar o cansaço que ele sentia.

Per notou, nas noites que ele saia de fininho do seu quarto para deitar com Alex, que os dedos dela ficavam cada vez mais calejados, ele ficou preocupado no dia que a viu limpando sangue das pontas dos dedos.

"Ah, sim... Claro", a garota estava na varanda enquanto falava ao telefone, o cigarro pendia nos seus dedos magricelas e o telefone estava apoiado na barra de madeira da balaustrada com seu braço em cima para segurar. "Tocaremos em umas cidades da Alemanha oriental", ela suspirou, então seus amigos entraram no campo de vista da garota. "Eu sei que é o lado dos socialistas... Olha, eu preciso ir, tudo bem? Depois eu ligo novamente", houve uma pausa, ela trocou olhares com o grupo que a observava. "Diga a Melina para me ligar depois, tchau".

Ela bateu o telefone e o colocou de volta na mesa de madeira ao lado do sofá, deu uma última tragada no cigarro antes de o apagar no cinzeiro.

"Vamos sair", Jan tomou a frente para falar.

"Vamos beber?", Alex perguntou, lembrando-se que era sexta feira. Eles se entreolharam. "Por favor!", eles aceitaram a ideia.

Isso resultou em, algumas horas mais tarde, todos bêbados em uma mesa de bar, conversando e rindo alto. Øystein decidiu não ser um cuzão com os parceiros de banda naquela noite, todos pareciam se divertir tanto que se sentiram especiais. Era um bar, quase balada, underground em Oslo, tinha sido recomendação de Snorre, o lugar fedia a cerveja, cigarro e mofo, mas eles não ligaram.

"Um brinde, à nós e tudo que fizemos até agora e ainda vamos fazer", Aarseth levantou a caneca de cerveja no ar, Highway to Hell tocava ao fundo.

Com certeza era efeito do álcool, mas quando Bon Scott cantou que estava descendo pela estrada para o inferno e seus amigos estariam lá também, os fez esquecer que estavam em mais um dos milhares de bares da pequena Noruega, eles se sentiram no topo do mundo.

QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)Where stories live. Discover now