Alex evitou a banda, principalmente Pelle, o máximo que conseguiu. Estava insegura e confusa pelo o que aconteceu enquanto Øystein sequer parecia se importar. Eles não voltariam a ensaiar até a metade de janeiro, então ela queria aproveitar a folga para terminar Red Dragon, queria começar a ler O Iluminado, mas ainda estava chateada com Per, poderia voltar para casa do trabalho sem se preocupar.
Mas, em um dia de folga, Alex recebeu uma ligação de manhã, se levantou da sua cama quentinha amaldiçoando a pessoa que a ligava num sábado tão escuro como aquele.
"Alex?", a voz de Aarseth era clara.
"Grr, o que você quer? Eu estava dormindo!", ela falou com seu bom humor matinal.
"Desculpe, mas precisamos que você venha aqui o mais rápido possível".
"O que aconteceu?", ela perguntou, preocupada.
"É difícil te explicar por telefone, precisamos que venha aqui...", sua mente começou a imaginar milhares de coisas, ela desligou e foi correndo trocar de roupa, sequer comeu nada, apenas colocou água e comida para Hanni, desceu as escadas do prédio quase tropeçando e agradeceu aos céus pelo metrô já estar funcionando.
Ela bateu na porta da casa do amigo com o coração acelerado, Øystein abriu a porta calmamente, encontrando a garota com a cara enfiada no cachecol.
"O que aconteceu?!", ela entrou num passo rápido e logo se arrependeu, ela deveria aprender a olhar melhor antes de apenas entrar nos lugares.
A reação de Alex foi correr para fora da casa e vomitar na calçada, Øystein a olhou confuso pra caralho. Os pais dela estavam sentados no sofá dos Aarseth, os dois saíram da casa, vendo a situação deplorável da filha colocando para fora o jantar da noite passada. Alex se virou para olhar para o colega de banda no topo da escada para a entrada da casa enquanto limpava a boca com a manga da jaqueta.
"Por que você fez isso comigo?!", ela gritou para o amigo. "Eu não quero vê-los!", a gritaria foi suficiente para acordar Pelle.
"Alex...", o seu pai falou.
"Que porra... Que porra vocês estão fazendo aqui?", ela falou um inglês carregado de sotaque enquanto subia as escadas para entrar na casa.
"Nós queríamos te ver, você não nos atendia!", ela também falava em inglês, Alex parou na frente dela com a resposta e entrou na casa, se jogando no sofá, a mãe de Øystein estava saindo da cozinha com café.
"Bom dia Alex, comeu hoje querida?", a mãe dele a perguntou, tocando seu ombro.
"Ainda não, acordei com a ligação de Øystein, vim correndo para cá".
"Viu, ela sequer está comendo direito!", o pai de Alex sussurrou para a mãe de um jeito que desse para todos ouvirem. Alex coçou os olhos.
"Que porra tá acontecendo?", Pelle surgiu na porta para o sótão. "Uhm, oi Alex".
"Não é uma boa hora, Per", ela disse com raiva.
"O que...?", os pais de Alex se viraram para olhar a figura loira ainda de pijama, Pelle se impressionou com a semelhança deles com a filha. "B-Bom dia".
"Não é melhor tomarmos café da manhã antes?", a mãe Aarseth tentava apaziguar as coisas com um sorriso leve.
O sueco dos pais da garota não era tão bom, então eles tentavam ao máximo conversar em inglês, Alex não falava nada enquanto comia, enquanto seus pais conversavam com todos na mesa, a garota havia puxado essa característica de conseguir conversar com todos daqueles dois.
Pelle a olhou com pena, dava para sentir a tristeza e raiva que ela sentia dos pais dela. Ele já havia passado por isso, anos atrás, quando seus pais se separaram. Primeiro, ele morou com seu pai, quando precisou ir morar com sua mãe, lutou de todas as formas contra, mas acabou indo, Quando precisou voltar para seu pai, a luta foi a mesma, essa situação se repetiu até que ele finalmente se acostumasse com a vida que teria que levar daquele dia em diante.
O loiro não se lembrava o que havia feito no ano novo, Aarseth precisou lhe contar porque no dia seguinte Alex parecia estar com tanto medo de se aproximar dele, ela não direcionou uma palavra sequer para ele, toda a raiva que sentia do que Aarseth havia contado havia se tornado vergonha e raiva de si mesmo, como pode deixar isso acontecer? Quase colocou a vida daquela garota que sempre o olhava com carinho em risco, ele se achava um idiota, cortes e mais cortes surgiram em seu corpo após descobrir tudo que havia acontecido.
Alex se encolhia enquanto sua garganta se enchia de palavras que ela engolia para não falar, ela não queria levá-los até sua casa, mas também não queria fazer confusão no sala dos Aarseth.
"Pelle, pode me emprestar seu quarto rapidinho?", Alex perguntou quando terminaram de comer. Ele aceitou, mesmo que ainda estivesse bagunçado por ter acabado de acordar.
"Achei que nós veríamos a sua casa, mas a casa deles é linda", a mãe de Alex disse quando eles chegaram no sótão, era o melhor lugar para eles discutirem sem acordar o resto da família.
"Eu não vou levar vocês a lugar nenhum. Por que estão aqui e como descobriram a casa do Øystein?!".
"Era o endereço que estava em uma das cartas", Alex engoliu seco, lembrando que havia enviado a carta para sua irmã pelo endereço de Øystein. "Achamos no quarto de Melina, antes que fique com raiva dela", seu pai completou.
"Eu não vou voltar e muito menos quero vocês aqui", a voz da filha estava forte, coisa que seus pais não estavam acostumados a ouvir.
"Não fale conosco nesse tom! Se não...", o pai dela começou a ameaçar.
"Se não o que? Vão deixar de falar comigo por uma semana?!", o coração da garota batia forte. "Ah, vocês já fizeram isso. Na verdade, quase fiquei sem comida, se não fosse por Melina deixando um pouco da comida dela para mim", eles ficaram calados. "Eu não vou voltar para Suécia para passar por isso novamente, vocês não mandam mais em mim".
"Se continuar aqui, você vai acabar fazendo coisas piores consigo mesma! Nós conhecemos você", sua mãe quase gritou.
"Não use isso contra mim! Estou bem melhor sem vocês!".
Pelle e Øystein estavam colados na porta do sótão tentando ouvir a conversa, a mãe de Aarseth bateu nos dois com uma colher para tirá-los de lá, enquanto Eule, a mãe de Alex, puxou seus braços e arregaçou as mangas do seu casaco, tentando achar cortes ou machucados, tudo que achou eram cicatrizes antigas. Alex engoliu seco, não achou que seus pais sabiam sobre a automutilação.
"Por que fez isso?", a filha perguntou, sentindo as lagrimas se juntarem nos olhos. "Vocês sabiam?!", silêncio, os pais se entreolharam. "Vocês nunca fizeram nada sobre isso...", sua voz falhou, ela sabia que seus pais não ligavam para ela, mas não a ponto de ignorarem sinais de automutilação.
"Vocês sequer ligaram para mim no natal e ano novo", ela se abraçou, seus pais não falavam nada, mil coisas se passavam pela cabeça de Alex, ela não estava interessada em ouvir o que eles tinham para falar. Eule se levantou para abraçá-la, mas ela recuou. "Vão embora", sua mãe engoliu seco, olhando para Kazuo, o pai, que estava sentado no sofá sem saber o que fazer.
"Por favor, vão embora. Vocês já me machucaram demais".

YOU ARE READING
QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...