22. 2 and a half

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Na manhã seguinte, acordei com um belo café da manhã feito pela mãe de Øystein na mesa, recebi parabéns de todos, até do pai dele que quase nunca falava comigo. Minha cabeça doía, eu não havia dormido direito, fiquei olhando aquele maldito presente a noite inteira, não havia aberto ainda, não sabia se deveria abrir ou jogar fora. Ela estava lá, sentada na cadeira na minha frente, comendo alguma coisa com arroz usando hashi, Aarseth tentou comer um pouco mas fez uma cara de nojo e não quis mais.

"Irene nos chamou para ir na casa dela hoje", Aarseth falou. "Eu disse que iriamos mas Alex estaria trabalhando", ela apertou aqueles palitos e deu um sorriso amarelo.

"Eu posso ir, não tem problema. Faz tempo que não vejo Irene".

"Seu chefe não vai ser um babaca com você?", perguntei.

"Nah, não precisa se preocupar com isso", ela de fato parecia mais estranha que o normal, olhei para Øystein para ver se ele havia notado também, mas o filho da puta estava engolindo um enorme pedaço de mesost. "Vai acabar se engasgando com isso", ela brincou.

Pegaríamos um trem de Oslo até Langhus já que o pai de Aarseth precisaria do carro. Irene estava morando em um apartamento com Lena, a melhor amiga de Øystein, e o namorado dela.

"Estou pensando em morar perto dela", Øystein disse quando estávamos quase chegando à cidade.

"Quer sair da asa da sua mãe?", perguntei, não muito interessado. Eu já sabia que ele queria isso, queria se mostrar independente para seus pais.

"Talvez Jan gostaria de morar com a gente", ele disse dando de ombros.

"Eu gostaria de morar com vocês", Alex disse, Aarseth riu.

"Tem certeza? Talvez seja um pouco estressante morar com 3 caras".

"2 e meio", fiz uma piada com a altura de Øystein, Alex riu.

"E você já tem seu lugar", ela deu de ombros.

"Sairia mais barato, não estamos ganhando muito com a banda mesmo, e eu já tenho boa parte dos móveis".

Irene morava em um complexo de apartamentos, a casa dela era agradável e aconchegante, alguns amigos estavam lá. Jørn e Jan haviam ido antes de nós, Jon e Lars também estavam lá junto dos outros, eles tentaram me fazer uma surpresa, mas acabaram deixando a porta aberta e quando eu entrei, quem ficou surpreso foram eles.

"Eu disse para me ligar Øystein!", Irene brigou com ele antes de vir me abraçar. "Parabéns Pelle!", ela era tão mais baixa comparada a mim que sua cabeça batia no meu peito, eu tive que olhar para baixo para ver seu rosto.

Os próximos minutos foram de pessoas me dando parabéns, eu ganhei alguns presentes, mas tudo que eu conseguia era pensar na caixa com embrulho amarelo que guardei no fundo da minha mochila. Alex ficava o tempo todo no canto da sala, abraçada a si mesma, sem falar muito ou chamar atenção.

Após algumas horas, as pessoas já estavam bêbadas e falando alto, fui para a cozinha pegar algo para beber e encontrei Jan.

"Você não acha que ela está estranha?", perguntei para Jan, ele estava bêbado pra um senhor Caralho.

"Ela quem?".

"Alex, ela está estranha".

"Você tá perguntando ou afirmando?".

"Estou perguntando e afirmando, desde que ela voltou da Suécia ela está assim, está falando pouco, não olha para gente", Jan fechou as mãos em concha, encheu de água e jogou no rosto.

"Talvez ela esteja de luto", ele disse com a voz fraca e a cara pingando água enquanto ele tentava achar algo para se secar.

"Há mais do que isso", olhei para ela através da pequena janela da cozinha para sala, estava sentada na poltrona, ela estava encolhida, olhando para a janela. 

"Pelle", Jan me chamou, mas não prestei muita atenção.

"Eu conversei com ela ontem, e depois daquelas fitas que vimos, parece que há mais além do luto", antes que eu pudesse olhar, Jan caiu no chão, derrubando um copo de vidro que fez um estrondo. "JAN?!", eu gritei, ele estava caído de mal jeito e eu não sabia o que fazer.

Øystein e Irene correram até a cozinha para ver o que estava acontecendo, se deparando com a figura desfalecida de Jan no chão. "Jørn!", Aarseth gritou, se aproximando de Jan para checar o pulso, seus lábios estavam brancos e o cabelo na sua testa estava pregado na pele por conta da água. Alex chegou na cozinha junto de Stubberud.

"Merda, ele desmaiou?", olharam para mim.

"E-Eu tava conversando com ele e ele caiu!".

"Acho que ele entrou em coma alcoólico", Irene falou, tão eufórica quanto todos.

"Vamos dar um banho nele", Øystein começou a tentar levantá-lo.

"Não! Temos que levar ele num hospital! Um banho só resolveria se ele não estivesse desmaiado!", Alex falou, olhando para o homem caído no chão. Ele abriu os olhos e balbuciou algo antes de fechar os olhos novamente.

"Vamos levar ele pro hospital", Jørn disse, correndo para buscar a chave do seu carro.

"Como vão descer com ele?", perguntei. Øystein olhou para cima, diretamente nos meus olhos.

"Nós vamos descer pelo elevador", ele deu uma ênfase no Nós. "Ou eu vou jogá-lo da janela e você o pega lá em baixo?".

"Calem a porra da boca e peguem logo ele!", Alex disse, literalmente roubando a chave da mão de Jørn e correndo para chamar o elevador para descermos. "Irene, você precisa mostrar onde é o hospital", ela chamou a amiga, que foi correndo até o elevador.

Jan era muito mais pesado do que parecia, ou talvez eu fosse mais fraco do que eu achei. Ajudei Aarseth e Jørn a levantarem ele, mesmo com nós três o carregando, eu sentia que estava o levando sozinho, Alex pegou um balde para caso ele vomitasse.

Irene e Jørn foram na frente, enquanto fiquei atrás com Jan, Alex e Øystein. A garota segurava o cabelo dele e deixava o balde a sua frente, Aarseth segurava seu corpo para não sair patinando a cada curva que Stubberud dava, eu só fiquei sentado, observando Jørn dirigir perigosamente.

QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora