"Pelle", Alex o chamou pelo o que parecia a quinta vez, sem resposta. Ela suspirou, sabia que ele não a responderia e era orientado que ela não o forçasse, e ela não o fez.
"Pelle, estou indo para casa, o horário de visita já está acabando", Alex falou, aos ouvidos de Pelle, não havia barulho nenhum além do sibilar silencioso da grande árvore no pátio – que ele observava através da grande janela que iluminava todo o salão de visitas.
Mais um suspiro foi dado antes da garota se levantar e deixar o hospital, não sem antes dar um leve beijo na testa do loiro, que sequer reagiu.
O loiro observava a árvore sem piscar e quase sem se mexer, os poucos movimentos eram do seu peito subindo e descendo suavemente enquanto observava a estrutura feita pela natureza. Nas suas coxas, cobertas por uma calça moletom cinza, repousava um caderno de capa camurça e folhas brancas.
O caderno fora lhe dado com o intuito de que ele, já que não usava as palavras, desenhasse ou escrevesse para de expressar, não havia funcionado. O lápis amarelo número dois pendia entre seus dedos imóveis, e a sua mente estava totalmente desinteressada em qualquer coisa que não fosse a maldita árvore.
Havia cerca de duas semana que eles haviam voltado para a Suécia e Pelle havia aceitado começar um tratamento, só que ele não esperava que seria internado em um hospital psiquiátrico para isso. Se sentia traído, tanto pelos seus pais quanto por Alex, mas não havia nada que poderiam fazer, já que aquilo era a recomendação médica dada à eles; Pelle poderia, a qualquer momento, ter uma recaída e tentar se machucar novamente, e ninguém queria correr esse risco novamente.
No seu quarto, cartas começavam a acumular na escrivaninha. A maior parte delas vinham de Kråkstad ou Sapsborg, Noruega, eram seus amigos preocupados, ele não sabia o que deveria responder, então apenas escrevia um "estou bem" e dizia como estava no hospital.
A outra parte das cartas eram de entrevistadores curiosos e revistas. Quando a notícia que o infame vocalista do Mayhem havia voltado à Suécia após 3 anos na Noruega, todos queriam saber o porquê, mas Pelle não queria os responder, os envelopes viravam cinzas na lareira do Salão de Visitas.
Ao lado das cartas, estava um copo de papel vazio, anteriormente preenchido por algumas pílulas. Remédios, Pelle precisava de remédios. Toda noite, às 21h, uma hora antes das luzes serem desligadas, um enfermeiro deixava o copo com os remédios e recolhia o anterior antes de deixar o quarto.
Pelle contava quantos já havia tomado desde que chegou, e pelas suas contas, mais de 100, ele realmente não era bom com matemática. Tomava apenas dois por dia, um antidepressivo e um para sedação.
Além disso, o pequeno quarto bege de móveis brancos era pequeno, suficiente para mim, Pelle pensava. Talvez fosse mesmo, era bem pequeno comparado ao seu quarto na enorme casa em Kråkstad, não era tão aconchegante, mas o espaço pequeno ajudava a afugentar o frio.
Ele achava que as paredes eram planas demais, sentia falta dos pôsteres e bandeiras que ele colou na parede da sua casa passada, um dia, essa falta foi tão grande que ele passou a noite e o dia desenhando em seu caderno e conseguiu algumas fitas para colar as ilustrações em sua parede. Pelle desenhou demônios, bodes, figuras tão magras que pareciam esqueletos, os médicos ficaram preocupados que ele pudesse se sentir assombrado por alguma daquelas coisas, Alex precisou explicar do que tudo se tratava, mas isso ainda foi assunto das sessões de terapia por alguns dias.
Esse foi um dos poucos momentos que Pelle se mostrou ativo nos primeiros meses, fora isso, ele apenas ficava no salão de visitas, olhando para a árvore lá fora. Todos se perguntavam o que ele estava vendo, os pássaros talvez? As aves migratórias sempre faziam seus caminhos por cima do hospital, mas não era isso, não. Pelle via algo sutil, quase imperceptível para quem não estava interessado como ele: Ele via as folhas. Era óbvio que todos veriam as folhas, mas ele não via apenas suas imagens, ele parecia enxergar algo além; sua parte favorita era vê-las, lentamente, se tornarem laranjas, o tom cobreado era cada dia um pouquinho mais visível ao mesmo passo que as folhas lentamente se deformavam ao morrerem.

YOU ARE READING
QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)
RomanceAlex Dahl buscava no Black Metal uma forma de expressar o caos e dor que carregava consigo, a oportunidade surgiu através de uma banda norueguesa chamada Mayhem, mas ela não esperava que fosse achar seu lugar no mundo junto daquelas três almas desaj...