20. side b

860 93 7
                                        

Já era o terceiro dia de ensaio que Alex não aparecia, Øystein estava quase explodindo de raiva, ela não atendia ninguém. Ninguém fazia ideia de onde ela poderia estar.

"E se a gente for na casa dela?", Jan sugeriu, ele estava deitado na bateria.

Jorn olhou para Axel e para mim, incrédulo. "Como não pensamos nisso antes?", ele falou já se levantando para pegar as chaves do carro. Aarseth não falou nada, provavelmente puto por não ter pensado nisso antes, eu segui Jorn até a picape, com o coração a mil esperando encontrar Alex bem.

Passamos alguns bons minutos batendo na porta dela, chamamos seu nome, mas nenhum sinal dela, parecia que a casa estava vazia. Abri a porta com minha chave reserva, causando uma reação meio inesperada por parte de Øystein.

"Por que caralhos você tem a chave da casa dela?".

"Para onde você acha que eu vou quando fico de saco cheio?", eu não vinha desde dezembro. Jorn e Jan me olharam, senti meu rosto enrubescer quando percebi o que eles pensavam. "Não pensem besteira".

O lugar estava impecável como sempre, mas algumas coisas pareciam estranhas. Haviam alguns livros fora do lugar e a poeira indicava que alguém não pisava aqui por uns dias, senti uma dor no peito quando encontrei os livros que eu dei para ela em cima da mesa de centro, ainda embalados, em cima de uma caixa fina cheia que desenhos meus. A poltrona estava no canto da sala, coberta por um plástico, e a foto que Jan deu para ela estava virada para baixo, escondido no canto do balcão da cozinha.

"Alex?", Jorn perguntava, dava pra ver a preocupação em seus olhos, a mesma preocupação de quando via meus pulsos.

Não havia nenhum sinal daquele gato fedido dela, a tigela de comida e água estava vazia e a caixa de areia limpa, Archie também não parecia estar lá, havia apenas um terrário antigo em cima das luvas que eu comprei.

"Achei o baixo dela!", eu disse ao ver o baixo vermelho no apoio perto parede, Jorn entrou no quarto para ver também.

"O que está fazendo?", Jorn perguntou quando eu fui abrir o guarda-roupa dela.

"Não sei, quero ver se tem algo...", eu dei de cara com as calcinhas dela assim que abri o guarda-roupa, por que ela não poderia as guardar numa gaveta?

Pareciam haver menos roupas que o habitual, algumas das camisas que ela usava sempre estavam faltando, uma ideia brilhou na minha cabeça na hora. Comecei a procurar por suas malas pela casa, normalmente ela deixava sempre ao lado da estante de livros, mas o espaço estava vazio.

"As malas dela não estão aqui", falei para todos.

"Você acha que ela voltou para a Suécia?", Jan perguntou, sentando no sofá atrás de mim.

"Ela não sairia assim, sem falar nada. Ela deixou um monte de coisas para trás", Øystein falou.

"Talvez tenha só ido ver a família", Jan respondeu.

"Não faz sentido, principalmente depois da briga que ela teve com os pais", Jorn parecia realmente preocupado.

"Ela pode ser bem imprevisível as vezes", eu falei baixo, sem pensar, os outros me olharam estranho.

Percebi algo que não havia notado antes, uma caixa escrito "Coisas da Alex (médico)" em inglês, eu achei que ela havia jogado todas as caixas fora. A caixa era pesada, estava cheia de pastas com folhas, um livro de fotos e várias fitas VHS.

"O que é isso?", Jorn perguntou quando eu arrastei a caixa para perto.

"Não faço a menor ideia", eu disse, entregando uma das fitas para Øystein por no reprodutor.

"Os pais dessa garota devem ser ricos", Aarseth se referiu à televisão e reprodutor enquanto se sentava conosco.

"Será que ela ia querer que víssemos isso?", Jan perguntou, eu apenas dei de ombros.

O vídeo começou com a imagem de Alex mais nova, ela estava com uma roupa branca, seu cabelo estava curto e bagunçado, estava com uma cara inegável de cansaço e não parecia querer estar lá.

"Por favor, diga seu nome", a pessoa que estava gravando falou em inglês.

"Meu nome é Alex", sua voz estava rouca, ela falava respirava fundo antes de falar. "Tenho 16 anos".

"Por que está aqui, Alex?".

"Eu não quero falar", ela soltou o ar. "Está bem, estou aqui porque tentei me matar... 2 vezes".

"Por que fez isso?", ela deu de ombros. "Desde quando mora aqui?".

"Desde os meus nove anos", ela se encolhia na cadeira. "Eu quero parar".

"Tudo bem", então o vídeo parou, passando para o próximo. Aarseth pausou e olhou para todos.

"Que porra é essa?", ele pareceu incrédulo, eu não sabia o que falar. "Você sabia dessa merda, Pelle?".

"E-Eu não fazia ideia", eu realmente não sabia que isso já havia acontecido, Alex já havia me falado de muitas coisas sobre ela, mas nunca sobre tentativas de suicídio. Eu sabia sobre a depressão e a autoagressão, mas isso me chocou de uma forma bem pior, mas eu não estava com raiva por ela não ter contado, até hoje não contei para ela sobre minha experiência de quase morte.

Aarseth deu play novamente, agora era Alex, ela parecia estar mais descansada, talvez mais viva.

"Alex, você pode nos dizer seu diagnóstico?".

"Segundo vocês, depressão e borderline", ela sorriu e olhou para o lado.

"Como se sente a respeito disso?".

"Normal. Minha mãe sempre disse que eu era louca, agora estou no meu lugar", ocorreu um corte no vídeo, o horário e data mostravam que era mais tarde naquele dia.

"É quase natal, o que quer de presente?", Alex se balançava na cadeira. Ela passou sua mão pelo seu cabelo e olhou para o que parecia uma janela.

"Ir para casa", a pessoa que estava gravando riu. "Acabamos?", então o vídeo acabou, passando para outro.

Alex agora estava em outro lugar, com roupas de cores natalinas, parecia estar com a família, já que o pai e mãe dela estavam no fundo. Ela estava sentada na frente de um piano, ainda era o mesmo ano das outras gravações antigas, mas a data mostrava que era dia 24 de dezembro.

"O que vai tocar para gente Alex?", a pessoa que gravava perguntou, ela se virou para seus pais, sua mãe cochichou algo em seu ouvido e ela aceitou com a cabeça.

"Espere e verá!", ela tocou algumas notas antes de começar a tocar a música. "The long and winding road...", sua voz era confortável de ouvir, por um instante, voltei para as noites que ela cantava para mim.

"Que música é essa?", Jan perguntou.

"Sei lá, alguma dos Beatles", Jorn respondeu.

O vídeo acabou junto de todo o conteúdo da fita, eu não falei nada, apenas fiquei sentado.

"Cara, você tá chorando?!", Øystein perguntou para mim, rindo.

"O que? Eu não!".

"Que cara de bosta é essa?", os outros riram. "Acho que não vamos achar nada aqui", Øystein se levantou. Depois que arrumamos o que havíamos mexido, voltamos para a casa dele, já era quase noite, eu segui o caminho calado, pensando nela. Espero que esteja bem, Alex.

Assim que entramos em casa, ouvi uma voz familiar. "Onde vocês estavam?".

QUARTZ EYES, per ohlin (PT-BR)Where stories live. Discover now