Margaridas na Janela

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                                                                    🌸🌸


– Tae, querido! O chá está pronto!

Kim Taehyung ouviu a voz doce e trovejante de sua mãe, viajando pelos lances de escada e corredores da casa de campo e chegando até o quarto atrás da última porta à direita. Instintivamente, ele olhou na direção da porta de madeira marrom clara, dando um suspiro de felicidade.

O pequeno ômega adorava a hora do chá ainda mais que a hora do café da manhã. Na hora do chá, ele podia desfrutar do bolo de frutas e do pão doce macio que sua mãe preparava com carinho, admirando a vista da janela da cozinha que dava para os campos da plantação de milho da família, onde o sol se escondia como um menino travesso pronto para seu descanso e dando boas vindas para a noite. A sensação de ter outro dia completo lhe cobria como um cobertor quente.

De manhã, no café, o céu ainda estava escuro e ele mal podia enxergar o pomar de laranjeiras de sua janela. Quando o sol reluzia no horizonte, atrás dos prados e das florestas recheadas de árvores altas e arredondadas, Taehyung já acompanhava seu pai para a plantação e não podia desfrutar do esplendor que era o nascer do sol.

Deixando de lado a caneta de tinta azul e o diário que sabia de todos os seus sonhos e ambições, Taehyung se levantou da cadeira da escrivaninha rumo à cozinha onde seus pais já o esperavam para o chá das 5.

Ah, mas aquele não era um dia comum. Tampouco era um chá das 5 comum, muito menos um Taehyung comum que se sentava à cadeira da mesa de madeira azul clara, repleta das mais maravilhosas delícias da Senhora Kim.

Não, aquele Taehyung que estava ali sentia-se audaz e determinado, como um cavaleiro prestes a enfrentar o dragão para salvar sua donzela. Aquele Taehyung estufava o peito com coragem e dizia com a voz mais grave que conseguia:

– Mamãe, papai, eu tenho um sonho!

Sua mãe estagnou no ato de cortar uma fatia de bolo e seu pai paralisou a xícara de chá em direção à boca. Encararam o filho com olhos surpresos.

Era uma família peculiar, os Kim. Kim Yeo-jun e Hwa-ji, os pais, eram criaturinhas pequenas e roliças. Yeo-jun, o único alfa ali, carregava um cabelo liso preto grisalho e mãos calejadas do trabalho, mas sua pouca altura não lhe dava muita moral. Hwa-ji era ainda mais baixa que o marido, uma ômega de curtos cabelos castanho-claro e um sorriso doce rodeado de ruguinhas. Alguns não acreditavam quando viam o filho deles, Taehyung, que era alto e esguio como uma bétula.

"Ora, é claro", exclamava a mãe quando alguém fazia um comentário sobre a estrutura corporal do ômega mais jovem, "Ele vivia se pendurando em árvores e correndo atrás dos patos quando criança, era de se esperar que tivesse o corpo de um atleta".

Entretanto, no momento, os pais não pareciam nada além de horrorizados, encarando sua cria como se fosse um corvo despenado.

– Sonho, filho? – indagou a mãe. – Mas que sonho?

Respirando fundo e estufando ainda mais o peito, Taehyung continuou:

– Um sonho que está além da porteira de Flora Coração, mamãe.

Foi o suficiente para a mãe e o pai entenderem. Seu filho, seu amado filho, que criaram com tanto carinho e paciência, queria deixá-los e ir para o mundo. Ó céus! Que desgraça!

O pai deixou cair a xícara no pires e um pouco de chá pingou para fora, sujando a toalha de mesa florida.

– Filho, não há nada para nós fora de Flora Coração. – explicou o pai, pacientemente, ainda que seus olhos inquietos guardassem uma tempestade. – Nossa fazenda é nosso lar. Não há porquê sair.

Jardim de Papel (taekook ABO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora