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- Em nome do pai, do filho e do espírito santo , amém.

Amém! Todos na igreja ecoaram a última parte da oração. Era domingo, dia em que a igreja ficava mais cheia . A maioria das famílias da cidade iam para a igreja neste dia. O culto em que o padre Colin ministrava era muito satisfatório, o clima era de felicidade e dava pra perceber o júbilo nos rostos das pessoas, comunhando com Deus. Todo mundo se levantou dos bancos para se despedir dos vizinhos e poder ir para as suas casas, almoçar com suas famílias e curtir o resto do domingo. Eu e vovó nos dirigimos para fora.

- Que bom te ver hoje, Janice! Você aparenta estar muito bem. Como tem andado ? - perguntou a sra Mary, a senhora dos gatos que mora na mesma quadra em que eu e minha avó moramos.
- Oi Mary, eu vou bem , e você? Seu gato Patrick melhorou ? Fiquei tão preocupada.
- Graças a nosso bom Deus ele está bem. Eu gastei o que não podia no veterinário.- Enfatizou a sra Mary, com seus dentes amarelos à mostra. Dizia ela que não era fumante, mas além dos dentes, sua voz era de cascalho gasto. -E você Jade, como vai ? Você não vai arrumar um namorado? Vai ficar igual a mim, velha e cheia de gatos...
Minha vó e a Sra Mary desataram a rir. Geralmente me irritava profundamente esses tipos de pergunta; as pessoas aqui em Dallas eram muito inconvenientes, mas eu estava de muito bom humor. A missa cumpriu o papel de revigorar a minha fé, então respondi simplesmente : ah Sra Mary, eu não quero namorar ainda . Faço 18 daqui a três dias, primeiro quero me formar, trabalhar e depois,quem sabe, conhecer algum rapaz aqui da igreja.
- Ah, mas é claro, claro que sim . Você já notou o Derek ? Ele é um menino muito bom, esforçado, tira notas boas. Dá uma chance pra ele .
Derek é filho dos Pearson. Realmente ele é isso tudo que a Sra Mary estava falando, e é até bonitinho . Um dia , quem sabe. Minha vó com medo do rumo em que a conversa estava tomando, pois fui criada por ela , e se tem uma coisa que ela era , é conservadora, se tratou logo de se despedir da Sra Mary e fomos andando em direção ao meu carro, um Voyage 99 de cor azul, que fique registrado. Eu simplesmente amo meu carro. Moro em Mansfield, sul de Dallas. Diz a minha avó que vim para cá muito pequena, já que minha mãe era brasileira, então eu morava lá. Segundo ela, vim com um ano de idade, quando minha mãe terminou com meu pai, e voltou para cá. Ela estava lá a negócios. Mamãe infelizmente morreu muito nova, de uma doença que até hoje ninguém conseguiu descobrir de fato o que era. Então, vovó acabou de me criar, e mesmo sendo conservadora e bem rígida, eu amo a minha vó .
Estacionei o carro na calçada de casa, que não era lá essas coisas, mas era nossa. Nossa casa era simples, pintada de branco e na frente ficava a horta e o jardim de vovó . Ela acordava às seis horas da manhã, todos os dias , para cuidar do jardim e da horta.

Fui pro meu quarto , tomar um banho enquanto vovó preparava o almoço.
- vai fazer o que para almoçar vó?
- almôndegas com cenoura e vagem.
- sabia que te amo ? Eu perguntava todo dia a mesma coisa para ela , e sempre ficava com o olho marejado, de tanto amor que sentia.
Vovó colocou uma mecha do cabelo prateado atrás de uma orelha, apoiou a colher de pau na pia e me olhou . - Eu também te amo, Jade. Vai tomar um banho.
- Tá bem.
Assim que cheguei no quarto, pintado de azul, até porque eu era corvina, decorado com diversas coisas do universo de Harry Potter, meu telefone toca. Era minha melhor amiga , Kayla. Mesmo sendo criadas juntas, cada vez estava mais distante dela, por que eu era a chata certinha, e Kayla era a adolescente doida que estava com pressa de fazer tudo irresponsavelmente.

Atendi com nem tanto entusiasmo.
- Oi Kayla.
- Amigaaaaaaaaaaaaaaa( tirei o telefone do ouvido essa hora), quem é a vadia que vai ficar mais velha na quarta feira?
- Eu tô bem Kayla, e você?
- Aaffff, esquece essa bobeirada de " eu tô bem". Você na quarta vai sair comido, é seu aniversario né. Dessa vez você vai arrumar um gostoso por lá e jogar essa aranha pra rolo.
- Primeiro, não tem saída na quarta. Já prometi a vovó que vou ao cinema com ela; segundo, não vou jogar aranha nenhuma pra rolo . Tu já faz isso por mim e por você.
- Aahahaha, é, isso é verdade. Mas você vai sim, já comprei nossas entradas. Estamos indo pra Apófis, aquele clube no centro que inaugurou mês retrasado, e eu não conseguir ir ainda. Badaladíssimo, todo mundo já foi, e a bebida para aniversariante levando mais um amigo é de graça até 23 horas.
- Você é doida sabia ? Sabe que eu não bebo. E me dá um motivo de ir para uma boate com muitas pessoas aglomeradas e suadas?
- Vadia, o que custa você ser normal uma vez por ano ? É seu aniversário cara, você vai se arrumar, ficar bem gostosa, colocar aquele batom vermelho que compramos mês passado, e faço uma aposta com você de que ele ainda está lacrado. Vai soltar esse cabelo pelo amor de God, e colocar um salto alto. Vai ter show do Rosa Negra lá. Pronto, seu motivo está aí.
Aí ela deu um golpe baixíssimo. Rosa Negra é minha banda favorita.
Será que vovó ficaria muito chateada se eu desmarcasse a ida ao cinema? Eu amava bastante o som daquela banda.
- Tá bom Kayla. Vou fazer um esforço para ir.
Tirei o telefone novamente da orelha, por que o sobrenome de Kayla era escândalo. Eu iria ficar surda! Francamente.
- Amiga , prometo que vai ser muito legal. Vamos de carro com Brad e um amigo punheteiro dele.
- Você  ainda tá com esse cara ? Quer saber, deixa pra lá. Que horas você vai passar aqui? Mas não estou prometendo que vou.
- Lógico que estou, e vou passar aí 20h . Fala pra sua vó que você não tem hora pra voltar.
-Só por que você quer. Tá bom amiga, então até quarta.
- Até baby, e lembre : fica bem gostosa. Tchau .
Eu fiquei olhando pro telefone depois que desliguei, tentando me lembrar do porque concordei em ir. No fundo eu sentia falta de toda a maluquice de Kayla.
- Jadeee? Vem almoçar. - Vovó me gritou lá de baixo.
- Já estou indo,vó!

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