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Ficamos em uma fila quilométrica para entrar. Se do lado de fora estava absurdamente cheio, eu não queria nem imaginar como estava do lado de dentro. Eu já estava pensando na minha cama quentinha mais tarde me esperando.

Entradas? - pediu um segurança entediado, que mais parecia um troll parado com os braços cruzados.
- Aí meu Deus, será que eu esqueci em casa ? - Kayla estava quase entrando em pânico, procurando freneticamente na micro bolsa de paetê prateado.
- Sem as entradas, não entra.
- Moço, espera! Nós viemos de muito longe para curtir hoje ( 40 min de viagem era longe? )
- E eu com isso? Sem entrada não entra. Ele parecia ter satisfação em falar aquilo.
Eu estava torcendo para que Kayla realmente não estivesse com as entradas, mas eu já estava de saco cheio daquele brutamontes.
- Olha aqui, você vai nos deixar entrar . Hoje é meu aniversário, então eu gostaria de ...
Nesse momento, Kayla da um grito bem alto . " Achei!!!"
Ele pegou as entradas, ficou procurando uma possível fraude, e por fim, nos deixou entrar . Eu estava com a razão de achar que na parte de dentro, estava  pior do que lá fora. Uma música pulsante tocava em ritmo frenético, muitos corpos suados encostando um ao outro, com bastante jogo de luzes coloridas. A boate era enorme, e Kayla me explicou que tinha 3 ambientes. A pista, que se concentrava o maior número de pessoas e com um palco no fundo; a parte do camarote, e nós iríamos ficar ali. A última parte era a mais reservada, no terceiro andar, que o pessoal fazia sabe se lá o que. Em todos os três ambientes existia um bar independente. Com muito custo e empurrando várias pessoas, conseguimos chegar no camarote reservado. Como a bebida era liberada para o aniversariante e mais um amigo, fomos até o bar pedir drinks e caipirinha. O que era aquilo ? O barman estava maquiado ? Parece que sim. Seus olhos estavam contornados com um delineado de dar inveja em qualquer garota. Os cílios eram cerrados e chegavam a tocar suas bochechas quando ele piscava preguiçosamente.
- Oi?! Poderia preparar um mojito para mim e uma caipirinha para minha amiga? Ela é aniversariante, então vai sair de graça. - Kayla perguntou berrando, tentando sobrepor a música pulsante.
- E a sua amiga tem boca, ou o gato comeu a língua dela? - ele sorriu pra mim, com um sorriso de canto.
- Er, oi . Vamos querer isso aí que minha amiga falou .
- Sua amiga eu já sei o que quer . E você, o que você quer, coração? - ele estava brincando comigo . Detestava me sentir como uma garotinha.
- Eu quero caipirinha , ela já não falou? Perguntei exasperada.
- E quando você vai falar por você? Ou as outras pessoas vão sempre te cobrir ?

Quem aquele cara estava pensando que ele era pra falar comigo daquele jeito ?
- Eu vou ter minha caipirinha ou não?
Ele jogou a cabeça pra trás e riu , e se virou para pegar as bebidas.
Kayla ficou simplesmente parada olhando pra ele . Qual é o problema dele ? Ela olhou pra mim.
- Que doido . Enquanto ele estava preparando as bebidas, observei o meu redor. Aqui dentro era mais estranho ainda. As paredes eram decoradas com cobras douradas, intrincadas com tal precisão que pareciam reais . A impressão que se tinha quando eu olhava nos olhos delas, é que elas olhavam de volta, observando todas as pessoas ali.  O barman voltou com as bebidas , e eu não resisti em perguntar : porque esse lugar é decorado com tantas cobras? O dono desse lugar é da Sonserina ou algo assim ?
Ele apenas me olhou, longa e demoradamente. Quando achei que ele não fosse mais responder, ele por  fim disse " tenho a sensação que você vai descobrir em breve ". E sem mais nem menos, se virou para atender as outras pessoas.  Eu e Kayla voltamos para a nossa mesa, logo ela foi dançando com Brad. Eu e o amigo que só depois descobri se chamar Trevor ficamos em um silêncio desconfortável. Ele parecia estar em Nárnia, e fiquei pensando em quanto o barman era esquisito. O que será que ele quis dizer com aquilo ? 
" Agora com vocês, banda Rosa Negra !" Uma voz grave soou no alto falante.
A multidão foi a loucura, e eu fui junto. Da onde eu estava, dava pra ter uma visão bem privilegiada do show. Eu era apaixonada pela banda desde os meus 15 anos. Três caras subiram ao palco, um com a guitarra, outro tocando a bateria e o vocalista, Shelby. A melodia quase erótica começou, uma batida tão sensual que , quando olhei para as pessoas, elas dançavam parecendo que estavam acasalando. Isso era pecado!

" Volte aqui, volte aqui, você não vai fugir de mim.
Não adianta se esconder, garota, eu vou te pegar.
Seus olhos são como o jardim do Éden, seus cabelos como as ondas do mar. 
Eu estou hipnotizado, me perdoe, mas você não pode ir "

Eu entrei em uma espécie de transe. Parecia que todas as pessoas a minha volta haviam sumido , e só existia eu e aquela música. Alguém estava me observando, despindo minha alma. Senti a mais leve carícia nos braços, e um aperto no meu ventre. O que era isso? 
- Jade ?!!!
Quando dei por mim , Shelby já estava cantando outra canção. Despertei com um rubor terrível nas bochechas. Eu estava envergonhada não sei sem o porquê.
- Oi?
- Você está bem ? Parecia que você ia pegar fogo a qualquer momento .
- Estou bem Kayla. Só preciso de um momento . Onde fica o banheiro?
- Quer que eu vá com você ? - Ela parecia preocupada.
- Não precisa. Eu vou bem rápido.
Fui abrindo caminho , com o coração acelerado até o banheiro. Graças a Deus não tinha fila, e eu entrei tropeçando, igual a uma bêbada. Será que o barman havia colocado algo na minha bebida?  Parei em frente à pia, lavei o meu rosto na bica, tirando o pouco de maquiagem que tinha posto. " Respira Jade, respira " disse a mim mesma. Quando olhei para o espelho, vi duas garotas se beijando no fundo do banheiro. Aonde eu tinha me metido? Eu não estou acostumada a essas coisas. Sai de lá tão rápido como entrei , já decidida que daria alguma desculpa para Kayla e iria embora daquele lugar, já deu . Faltavam menos de cinco  passos para alcançar a nossa mesa , quando vi Kayla e Brad brigando com um cara três vezes maior do que eles.
- O que aconteceu?
- Esse babaca jogou bebida na gente de propósito! - Brad falava muito alto, com as veias do pescoço bem alteradas.
- Quem você chamou de babaca, otário? O cara não era apenas maior. Ele era muito forte e mal encarado.
- Kayla, tira o Brad daí. Vocês não estão vendo que vão ficar no prejuízo? Perderam a razão?
- Jade, ele jogou a bebida em mim, manchou meu vestido novo.  Ele é um nojento!
Uma discussão generalizada começou, com uma troca de ofensas que fiquei envergonhada. O cara deu um murro em Brad, que foi parar do outro lado do camarote. De repente , todo mundo começou a brigar, as mesas começaram a voar , garrafa de vidro se espatifou e no desespero, doida para sair dali em segurança, peguei na mão de Kayla e nos escondemos atrás do balcão do bar. Alguém deu uma espécie de assobio bem alto , que de alguma forma sobrepôs a cacofonia que estava rolando. O assobio parecia ser algum tipo de código morse, até porque não era normal, era mais como um chamado. Surgiram 6 caras diretamente da capa de revista Glamour. Um mais bonito que o outro, andavam como se sincronizados um com o outro , numa graça quase sobrenatural. Quando apareceram, magicamente toda a briga que rolava na boate parou. Um deles, o loiro de olhos azuis alargou o nariz ( isso mesmo, como se estivesse cheirando. Que estranho) e nesse momento, dirigiu o olhar diretamente para o balcão do bar . Para mim .
- Você, vem comigo .
- Eu não fiz nada ! - gritei de forma histérica.
- Não perguntei e não pedi por favor . Vem comigo .
Kayla se colocou na minha frente - Ela não vai a lugar nenhum, meu chapa.
- Ah, ela vai, e você também.
Ele comandou que os outros nos segurassem e nos arrastasse sabe Deus pra onde. Em todo esse tempo, eu gritava como se minha vida dependesse disso, e talvez dependia . Arranhei, tentei dar socos e chutes, mas o aperto dele não vacilava. Fomos subindo em direção ao terceiro andar , e nessa hora comecei a me desesperar pra valer.
Lá existiam várias seções reservadas , separadas por paredes de vidros, e quem ocupava podia ver tudo o que acontecia nas demais cabines. Em uma tinha um casal fazendo sexo explícito. Outra, uma mulher estava com fantasia de gato dando chicotada em um homem de quatro no chão amarrado em uma coleira. Tinham cabines que era possível ver que rolava apenas sexo oral, homens com outros homens, assim como o oposto, e o mais bizarro era que tinha uma pequena multidão do lado de fora dos reservados apenas assistindo.
Eu preciso falar nesse momento que estava pensando várias coisas? Que seria vendida como escrava sexual, ou iriam me prostituir, ou iriam dar um sumiço com meu corpo . Fomos mais para as entranhas daquele lugar, e de repente as seções sumiram, e tomou lugar corredores com paredes forradas com veludo suave cor de vinho, candelabros estavam pendurados na parede com velas acesas, e as mesmas cobras douradas esquisitas. Eu vim parar em um filme de época por acaso ? Quem pendura candelabro na parede com velas acesas?  Paramos em frente à uma porta, a última porta do longo corredor. Me veio um presságio, de que quando eu atravessasse aquela porta, tudo seria diferente.

AndrasWhere stories live. Discover now