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Dançamos, nos beijamos, pausamos para respirar, e nos beijamos de novo. Por volta das 05h da manhã, Andy me guiou pelo terceiro ambiente, me informando que ali era chamado Sheol. Passamos pelo mesmo corredor cumprido que percorri da última vez, chegando em fim ao seu escritório. Tudo parecia estar como antes. Andy acionou uma alavanca "invisível" embaixo da mesa. Instantaneamente, o armário deslizou para o lado esquerdo, revelando uma porta negra, e novamente uma cobra apareceu, desenhada em tinta dourada. Um pequeno dispositivo estava instalado onde deveria estar o olho da cobra. Parecia ser um leitor digital. Antes dele posicionar a íris do olho ali, perguntei curiosa :
Porque esse lugar tem tantas cobras pintadas ou intrincadas?
- O nome do clube é Apófis. Sabe quem foi Apófis?
- Hum, não. Não sei.
- Apófis é a personificação do caos, uma entidade egípcia. Diz a lenda que no fim dos tempos, Apófis emergirá de seu descanso e irá engolir o sol, mergulhando a terra em escuridão sepulcral.
Processei a informação, e continuei a não entender bulhufas.
- Tá, mas ainda não explicou o porquê das cobras.
- Você está certa, falha minha. O Senhor do Caos era representado pelos egípcios como uma grande cobra.
Enfim, Andy colocou o olho no leitor digital, e a porta deslizou para o lado, sem nem mesmo um ruído.
Meu queixo caiu, batendo na altura do peito. Aquilo era um apartamento? Bem equipado, de móveis planejados, feito com o mesmo material dos móveis do seu escritório; o sofá em formato "L" com seis lugares era forrado com couro legítimo preto; um tapete felpudo, também preto, forrava o chão da sala.
Eu conseguia enxergar o meu reflexo no piso de porcelanato. O apartamento estava aqui e ali com, não diria bagunça, mas algumas coisas estavam fora do lugar : um copo em cima da mesa de centro da sala, uma camisa jogada a esmo no encosto do sofá. Sua cama estava desarrumada. Os lençóis, ao contrário do restante, eram vermelhos carmim, e a cama era tão grande que cabiam três Andys em tamanho extra grande.  Andy levantou meu queixo com o indicador, me deu um selinho demorado e falou : A cama é toda sua. Descanse.
Eu não acreditei no que estava escutando. Quer dizer, achei que ele fosse fazer sexo comigo, ou tentar pelo menos, não que eu quisesse ( Ok, nem eu acreditava nisso).
- Ham, tá bom.
- Quer falar algo? - acho que a minha decepção estava evidente.
- Não, não. - Respondi rápido demais. - E você? Não vai dormir? - perguntei inocentemente.
Novamente aquele alargamento sutil de seu nariz. Novamente aquele sorrisinho de lado.
- Eu preciso resolver umas coisas. Pode descansar tranquila. Fica à vontade, sinta-se em casa. Dito aquilo, Andy se virou e abandonou o apartamento.
Esse cara era esquisito.
Olhei para o relógio em formato de maçã na mesa do lado da cama , e faltava 5 minutos para às 06h. Subitamente fiquei com muito sono, mesmo a umas poucas horas atrás estar totalmente desperta. Tirei minha sandália, e cai na cama sem nem tirar a roupa.
Acordei de supetão. Olhei novamente para o relógio, e dessa vez marcava seis da noite. O que aconteceu ? Sério que eu dormi 12 horas direto? Tudo bem, dessa vez eu tinha certeza que a bebida servida no bar era " batizada" . Me sentei na cama com cautela. Uma calça jeans clara estava em cima de uma cadeira no quarto, junto com uma camiseta de manga branca com estampa de gatinho e uma peça íntima de renda também branca. Uma toalha grossa e grande estava pendurada no encosto da cadeira. Procurei o banheiro, que ficava próximo a sala. Não diferente do resto do apartamento, o banheiro de Andy também era opulento. A pia e o vaso eram de mármore carrara, um espelho retangular ficava disposto na parede com moldura dourada. Uma enorme banheira estava com água aquecida, cheia de espuma. Estou louca, ou alguém preparou meu banho? Olhei ao redor para ver se não tinha nenhuma câmera me filmando enquanto estava nua. Gemi de prazer quando entrei na banheira. Levei uns bons vinte minutos no banho, a água estava quentinha e as espumas deslizavam na minha pele.
Enquanto vestia as roupas, reparei que não havia uma única escova de cabelo na pia. Penteei os cachos da melhor maneira com os dedos e saindo do banheiro fui direto para a cozinha, ver se tinha algo para comer; estava morrendo de fome. Um prato com ovos e bacon ainda quentes, junto com um copo contendo Dr Pepper ( meu refrigerante favorito ) estavam em cima do balcão na cozinha. Apesar de já ser seis e meia da noite, eu comia de lamber os beiços ovos e bacon em qualquer hora do dia. Comi tudo com um suspiro, me sentindo saciada e muito bem cuidada, apesar de ser tudo bem estranho. Eu não tinha visto nenhuma empregada, e sinceramente ? Não conseguia imaginar Andy fazendo nenhuma daquelas coisas para uma garota em que mal conhecia. Escutei bem longe um sussurro de vozes, vindo da direção da porta do apartamento. Na ponta do pé, fui andando devagarzinho até a porta, e encostei o ouvido. A princípio a conversa  estava muito baixa, mas depois ficou melhor, dando pra entender uma coisa aqui e outra ali.

AndrasOnde histórias criam vida. Descubra agora