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Aguardei sentada na recepção do hospital por notícias. Consegui falar com a mãe de Kayla, mas não tive coragem de contar o que realmente aconteceu, então falei que ela tinha passado mau na rua, e fomos direto para o hospital. Como a vida era imprevisível. Em uma hora, estávamos animadas em ir na casa de Olivia adivinhar nosso futuro; e em outra, estávamos em um hospital. Eu só sabia chorar, com medo do que poderia acontecer a Kayla. Liguei para vovó e avisei que estava bem na medida do possível e contei o que aconteceu com Kayla, porque eu tinha certeza que isso pararia em seus ouvidos, então preferi contar eu mesma. Vovó como sempre me tranquilizou, prometeu que " apesar de tudo" colocaria Kayla em suas orações, e agradeceu a Deus por não ter sido eu. Achei bem insensível da parte dela, mas relevava bastante coisa porque vovó já era velha. A mãe e a irmãzinha mais nova de Kayla chegaram ao hospital, e enquanto a sua mãe se identificava na recepção, eu me despedia de vovó para dar assistência a Sra MacKenna.

- Jade? O que aconteceu com minha menina? - A mãe de Kayla estava pálida e assustada. O doutor apareceu com uma prancheta azul na mão, e chamou a Sra MacKenna, me poupando de responder.
- Olá. A senhora é a mãe da Kayla ?
- Sim, sim doutor, sou eu. Como está ela? Vai ficar bem? O senhor vai salvá -la? Posso ver a minha menina ? - Ela estava tão nervosa que suas perguntas atropelavam uma a outra.
- Calma senhora. Eu sou o doutor Philip, médico responsável pela sua filha. Por enquanto ela está fora de perigo.
- Oh! Graças aos céus. Agora posso vê-la ?
Eu murmurei um amém.
- Eu preciso que a senhora fique calma. Bem, temos motivos para achar que o que foi injetado em Kayla foi veneno.
- O QUE?! QUEM IRIA QUERER ENVENENAR MINHA MENINA?
- Peço a senhora que mantenha a calma, mais uma vez. Sua filha teve muita sorte, e uma amiga que prestou socorro rapidamente. Tudo aponta que, por conta da comoção que a senhorita ...? - Ele direcionou os olhos azuis para mim.
- Jade.
- Senhorita Jade causou, chamando a atenção para o criminoso, ele deixou cair a ampola com a agulha no chão, e não conseguiu injetar todo o líquido que estava dentro no pescoço de Kayla. Portanto, a polícia conseguiu coletar e nos entregar, para analisar de que veneno se trata, e conseguir o antídoto adequado o mais rápido possível.
- Meu Deus do céu... - Murmurava a mãe de Kayla chocada, a cada vez em que o médico ia despejando as informações.
- Agora ela está dormindo e medicada, fora de perigo. Contudo, não é garantia da inexistência de sequelas. Precisaremos esperar ela reagir para ver como tudo está. A senhora pode vir  comigo? Preciso que assine uns papéis para mim. Por aqui ...
A Sra MacKenna acompanhou o doutor Philip, e eu fiquei sentada na recepção, tentando entender a loucura de tudo isso. Quem iria querer minha amiga morta? Que cruel tudo isso.
Escutei chamarem meu nome mais uma vez , mas era Joshua quem vinha correndo esbaforido e me deu um abraço de urso. Geralmente eu sou bem racional e mantenho a compostura, mas ao receber o abraço dele, eu desabei. Chorei profusamente na manga da camisa de Joshua, por medo, por me culpar, já que se eu não tivesse falado nada sobre Olivia, ela iria direto para casa. Joshua me transmitia uma sensação de paz muito grande, e ali, um nos braços do outro oramos muito pela vida de Kayla. Ele ia fazendo carinho no meu cabelo, me tranquilizando e embalando igual a um neném. Pouco a pouco, me acalmei e me afastei dele um pouco envergonhada.
- Obrigada. - Agradeci com a voz embargada.
- Não tem o que agradecer. Vocês duas são minhas amigas, e muito importantes para mim.
Soltei um suspiro cansado. Por fim perguntei : Como você soube ?
- Eu recebi um vídeo e reconheci vocês duas na hora. Vi que tinha acontecido algo a Kayla, então imaginei que você viria ao hospital mais próximo ao ocorrido, a fim de salvar a vida dela.
- Sim, faz sentido. Por que há tanta maldade no mundo, Joshua? Quem é capaz de fazer isso com o seu semelhante?
- As pessoas são cruéis, Jade. Deus fez de nós uma criação falha. - Foi a primeira vez que eu vi certa raiva adicionada as suas palavras. - E como somos fracos, deixamos o diabo nos influenciar, o que piora tudo.
- Você está certo.
- Olha, se você precisar ir em casa descansar um pouco, eu fico aqui.
- Não vai ser preciso Joshua, mas obrigada. Só vou aguardar a Sra MacKenna voltar.
- Tudo bem. - O celular de Joshua começou a tocar. - Pode me dar um momento? Eu já volto.
- Tá ok.
Deveria ser uma ligação muito importante, já que ele saiu bem apressado.
A mãe de Kayla retornou, e dessa vez quem me deu o abraço foi ela.
- Querida, obrigada por salvar a vida da minha filha. Se você demorasse mais um pouco...
- Eu amo a Kayla, Sra MacKenna. Não fiz mais do que a minha obrigação.
- Você já pode ir descansar. O hospital permite que fique somente um acompanhante. Meu marido vai vir buscar a pequena, e trazer mantimentos para mim e para ela.
- A senhora conseguiu vê-la?
- Ainda não, querida. Kayla está dormindo, e eu não sei por quanto tempo.
- Tudo vai dar certo. A Kayla é forte, e logo logo ela estará desperta. - Apertei a sua mão, em forma de apoio e transmitir forças.
- Obrigada mais uma vez querida.  Se não se importa, o inspetor Carl gostaria de fazer umas perguntas a você. Ele veio conversar comigo, mas não pude contribuir com nada da investigação.
- Mas é claro que sim. Onde ele está?
- Agora ele está lá fora. Você quer uma carona depois ?
- Não precisa. Estou de carro aqui. Sra MacKenna?
- Sim?
- Eu posso ligar todos os dias para a senhora? Gostaria de saber os horários de visita.
- É claro querida.

Fui me encontrar com o inspetor, e já estava imaginando como frustrante seria a nossa " conversa ", se for igual ao da última vez. Ele estava recostado no carro da polícia, um sedan popular bem conservado.
Seu bigode estava sujo da rosquinha doce que ele estava comendo.
- Bom dia inspetor. O senhor queria falar comigo ?
Ele limpou desajeitadamente o bigode e a farda antes de me responder meio engasgado.
- Sim. - Tossiu para limpar a garganta. - Bom dia. Srta Jade, nos encontramos outra vez, não é?
- Sim inspetor. Não tive muita escolha.
- Claro, claro. Bem, me relate detalhadamente o que aconteceu.

Eu contei o ocorrido diversas vezes, e era apenas interrompida por frases do tipo : "Todo de preto, ou só o casaco?" , "12h ou 12:05h?", "Você não falou que correu em vez de andar?". Minha cabeça prometia uma dor daquelas. Acho que aquela era um técnica de todo o policial; perguntar várias vezes para ver se o depoente cairia em contradição.
- Bem, me diga por que você e a srta Kayla estavam usando a mesma roupa?
- Nós compramos o mesmo conjunto à umas três semanas. Somos melhores amigas e quisemos combinar.
- Hum... - Murmurou ele, anotando tudo o que eu falava em sua prancheta.
- Mas isso seria relevante em que?
- Não sei, srta Jade. Isso eu vou descobrir.
Uma ideia assustadora e mirabolante assaltou a minha mente. Perguntei com o coração disparado para ele:
- O senhor acha que, talvez, eu fosse o alvo do criminoso ?
- Até que uma investigação seja concluída, eu trabalho com hipóteses. Nada de colocar ideias nessa cabecinha e ver vultos em casa, hein. Está dispensada. Mantenha o celular ligado, ouviu ?
Eu definitivamente não tinha escutado a última parte. Minha mente estava longe, talvez na lembrança em que eu ousei  esquecer. Trechos de uma conversa com possível tortura, confissões de alguém querendo fazer mau a integridade física de uma mulher, Andy batendo muito em uma pessoa, e por fim , Lamar me apagando com algum tipo de pó...
Eu fui para casa sabendo o que fazer.

AndrasWhere stories live. Discover now