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Dessa vez não precisei esperar em fila nenhuma, nem apresentar entrada ao segurança. Hoje a Apófis estava tocando um ritmo mais eletrizante do que a última vez. A batida ritmada do Dj Alok me fazia balançar o corpo inconscientemente. Dessa vez a casa estava mais vazia de quando viemos, porém cheia o bastante para pedir  licença toda vez que me locomovia.
- Srta Jade, o patrão pediu para aproveitar e pedir uma bebida de sua preferência, que ele já está vindo te encontrar.
- Er, hum. Tá ok.
O mesmo barman esquisito de olhos maquiados estava trabalhando está noite. Assim que ele me viu , veio para o meu lado.
- Olha quem voltou aqui. Não é a menina de olhos bonitos ?
- Olá. Tudo bem ? ( Quem pergunta se um barman que nem conhece está bem? Ok, eu estava nervosa)
- Eu estou ótimo, coração. Já não sei você. Está linda, mas parece que engoliu um gato bem peludo e não fez a digestão.
- Quem em suma consciência come um gato peludo ?
- Você se surpreenderia, coração.
- Huuum, tá bom. Bem , pode preparar uma caipirinha pra mim ?
- Hoje eu sugiro o especial da casa, o lemon Demon.
- Do que ele é feito?
- Basta saber que é a base de limão. O resto é receita secreta.
- Ok, pode ser . - Soltei uma risadinha.
Senti aquela mesma sensação de arrepio na espinha, como se meu corpo estivesse prevendo algo.
- Eu sugiro, sr Elish, que faça a caipirinha que a srta Jade pediu.
Como eu achei que poderia esquecer aquela voz? Não era mais do que um sussurro, extremamente sensual e arrastada, como se ele fizesse um esforço enorme para falar. Sua voz surgiu atrás de mim, seu corpo estava quase encostado no meu. Como eu sabia disso? Eu sentia.
- Boa noite, chefe. Não costumo ver muito o Sr por aqui. Eu gostaria que não usasse o meu nome, por favor. -  Qual era o problema que aqueles homens tinham com o nome verdadeiro?
Elish fazia um esforço tremendo para continuar com a fachada de carismático. Não era preciso conhecê-lo a fundo para saber que ele estava com medo.
- E eu gostaria que as suas bolas fossem arrancadas e servidas em uma bandeja de prata, que tal?
Era loucura minha, ou todo mundo na boate prendeu a respiração? O clima tenso se instalou na hora.
- Peço perdão se ofendi. Gostaria de algo para beber, chefe?
Andy encarou Elish por uns bons cinco minutos, até que resolveu dar uma trégua. Andy me contornou e sentou -se na banqueta do bar, de frente para mim.
- Vou querer água, Elish. - E aí ele pronunciou o " Elish" demoradamente, para provocar o coitado do homem. - Não esqueça a caipirinha da srta Jade. Bastante doce e enjoativa.
O clima tenso passou como se nunca tivesse existido e todo o mundo voltou a dançar e beber normalmente.
Como eu estava suspeitando que aconteceria toda vez em que eu visse ele, fiquei muda por causa da sua beleza. Já tinha esquecido totalmente a imagem de Elish enquanto olhava pra ele. O mesmo cabelo preto como a noite solto em seus ombros com alguns fios rebeldes que caiam em seu rosto, os olhos que não refletiam nada de tão negros que eram, levemente puxados; sobrancelhas bem desenhadas, apesar de, reparando direito, nunca haviam sido " feitas". Lábios não tão cheios, mas carnudos, com um sorriso de lado sensual. Hoje ele vestia um terno impecável risca de giz na cor cinza, com o blazer aberto, e um blusão cor de vinho escuro. O mesmo cordão fino com o pingente em forma de cruz de cabeça para baixo estava a mostra.
Andy me fitava com a mesma ganância em que eu olhava para ele. Seu olhar percorria meu corpo preguiçosamente, se demorando nas minhas curvas. Notei que Andy fez o mesmo movimento em que todos eles fizeram da primeira vez com o nariz, como se estivesse farejando algo.
- Muito coberta ...
- O que?
- Eu disse que você está muito coberta.
- E como eu deveria estar ? - Me arrependi de ter expressado em voz alta  essa pergunta. Dei graças a Deus que Elish tinha voltado com nossas bebidas, e dei um golinho na caipirinha.
- Nua. Na minha cama.
Me engasguei na mesma hora. A caipirinha saiu inclusive pelo buraco do nariz. Nada elegante, para variar.
Andy continuava com o mesmo sorriso inclinado para cima, ainda teve a audácia de me oferecer uma toalha de papel para eu me limpar.
Olhei super sem graça para Elish, que fingiu não escutar.
Eu disse sem fôlego: quem disse que eu iria querer estar na sua cama?
- Seu corpo.
- Como você sabe o que meu corpo quer?
- Eu sei ler corpos.
- Ler?
Ele foi se aproximando devagar, como um leão que estava prestes a atacar o veado. Aproximou seus lábios em meu ouvido direito. O engraçado é que mesmo com a música alta, e ele falando baixo, eu conseguia escutar suas palavras como se fosse uma oração interna.
- Você pensa em como será que vai ser quando eu chupar seus seios, se vou chupar com delicadeza, ou se deixarei marca. Você imagina que eu seja grande e não consiga encaixar; se pergunta se vai aguentar cavalgar em mim. Se questiona também se eu serei o responsável por seu primeiro orgasmo, e eu te prometo que  atenderei a todas suas  expectativas.
Meu útero se apertou no mesmo instante. Meus seios ficaram pesados e com os mamilos enrijecidos. O que aquele homem tinha ?
Eu nunca na vida saberia responder aquilo, então respondi com a primeira coisa que veio na minha cabeça, ou melhor, perguntei: Porque aqui não podemos saber o nome de batismo de ninguém?
Andy deu uma risadinha, sabendo perfeitamente que eu tinha mudado de propósito o assunto.
- Quando você era criança, começou a se desenvolver conhecendo o nome das coisas que te cercavam; folha , lápis, urso de pelúcia, batata frita. A nomeação dá poder a um indivíduo, e quanto mais o indivíduo tem o conhecimento dos nomes, mais poderoso ele é. O nome tem poder.
Me engasguei novamente com minha bebida, mas dessa vez estava achando graça. Quem acreditava naquele monte de baboseira?
- Tá. Digamos que supostamente eu acredite nessa teoria. Sei o nome da minha avó, nome da minha melhor amiga, do professor... E nem por isso eu me sinto poderosa de nada.
- É por que você é inconsciente disso.
- Você está falando sério?
- Porque eu mentiria ? - Notei depois de um tempo que a água de Andy permanecia intocada.
- Para brincar comigo, talvez? - No fundo, eu sabia que ele acreditava em cada palavra do absurdo que falou.
O som do Dj Alok deu lugar à Love Nwantiti, do Ckay. Andy levantou, tomou a minha mão, e foi andando em direção à pista de dança. Conforme íamos andando, o pessoal ia abrindo caminho para Andy. O pessoal desse lugar superestimava muito ele. Ele era só o gerente, pelo amor de Deus. Paramos no centro da pista, e Andy começou a se mexer lentamente. Hipnotizada, acompanhei seu ritmo, enquanto olhava em seus olhos. Sua mão segurou minha cintura, enquanto seus dedos faziam pequenos círculos. Eu estava em brasas, febril. Seu toque percorreu todo o meu corpo, e eu senti como se tivesse tomado um choque de alta voltagem. Quando dei por mim, estávamos com zero de distância entre nós; respirando o mesmo ar, compartilhando suor. Andy sabia fazer um jogo de sedução. As vezes apoiava a boca em meu pescoço; suas mãos ficaram mais ambiciosas, tocando minhas coxas, dando leves puxadas no meu cabelo. Eu estava com a mente girando, girando, girando, totalmente embriagada naquela dança puramente erótica. As cobras  douradas entalhadas nas paredes pareciam olhar diretamente para mim e pensar: tsc, tsc, que menina impura. Eu estava ferrada, muito ferrada. Coloquei os pés no chão e dei uma travada.
Andy me disse: Pare de se culpar tanto, apenas sinta isso.
- Eu estou com medo, Andy.
- Porque está com medo? Não vou fazer nada de ruim com você.
- Estou com medo do que estou sentindo. Eu não sou essa garota. - Para que esconder ? Não iria falar nada, mas, sinceramente é o que sou. Não tenho o porquê esconder nada.
- E quem você quer ser, Jade? - Continuamos "agarrados" enquanto Andy falava comigo. - A menina que mora com a avó, vai a igreja todos os domingos, é um exemplo pra comunidade, vai se casar com um cara engomadinho e ter três filhos, transar por obrigação e aos quarenta não ter mais libido porque o bosta do engomadinho vai ficar brocha e ter orgasmos momentâneos porque você vai se proporcionar? Morando em uma casa mais ou menos, mas que estará bom . Ganhando um salário mais ou menos, mas que será o suficiente? Viver uma vida enfadonha?
O que?! Esse era exatamente o futuro em que eu me via, talvez tirando a parte da insatisfação sexual, mas eu desejava um futuro tranquilo para mim, então nem Andy e nem ninguém me falaria a vida que eu supostamente deveria levar. Ele e nem ninguém tinha esse direito, pois eu NÃO permitia.
- Quem você pensa que é para deduzir meu futuro? Eu nem conheço você direito, e você aí, "cagando" regra sobre a MINHA vida. E se eu quiser ter um engomadinho como marido, Andy? O que você tem com isso ?! - Eu estava nem aí para as pessoas mais próximas a nós que pararam de dançar para olhar nossa discussão. - E se eu quiser ter três filhos, dois cachorros e um gato?
- Você foi ensinada a querer isso. Aliás, muitas mulheres são destinadas a esse futuro, ou a palavra melhor seria prisão? - Sua voz não alterou em nenhum momento, enquanto eu estava nervosinha, diga-se de passagem.
- Nem todas as garotas querem um homem de caráter duvidoso igual a você. As vezes elas só querem estabilidade, já pensou nisso?
- Você está se ouvindo? Você me quer, Jade. - Se os seus olhos já não refletiam nada antes, agora menos ainda . Sua pupila estava toda preta, ou era a luz baixa da boate? - Você quer transar comigo, forte. Imagina a sua boca em volta do meu pau. Imagina eu te fodendo de quatro enquanto eu bato na sua bunda.
- O que você quer de mim?! - Quase saiu um grito.
Olhei com fúria para ele. Como ele conseguia manipular minha emoções de 0 a 10?
Andy apenas sorriu para mim. Sua feição começou a ficar esquisita, como se fosse algo não ... humano. Por um momento louco eu vi seu rosto se alterando para, o que era aquilo ?! Uma coruja ? Ok, beleza. Certo que alguém batizou a minha caipirinha, ou eu estava sofrendo de esquizofrenia.
- Que por... - ainda bem que não consegui terminar o palavrão, Andy me interrompeu.
- Ai está a verdadeira Jade.
E literalmente "avançou" em mim. Se eu ficava igual a uma estátua quando olhava para ele,  eu não estava viva antes do seu beijo. Tudo o que vivi, todas as minhas convicções, eram superficiais; medianas. Como nós vivemos uma vida sem graça, e achamos que está bom, não é mesmo?
Se é possível dois corpos ocuparem o mesmo espaço, foi isso o que aconteceu.
Sua língua acariciava a minha, seus lábios reivindicavam os meus. Seu beijo era lento, sensual, puramente erótico. Era um beijo cheio de promessas escuras e tentadoras. Senti sua extensão rígida na minha barriga, e em vez de ficar envergonhada, me deu mais coragem ainda. Quem era a Jade, e quem era o Andy? Uma fusão de corpos, de luxúria e fome foi o que aconteceu. Senti sua mão escorregar até a minha bunda, e me enganchar ainda mais nele, notando mais todo o seu volume. Sua boca foi trilhando beijos no meu queixo, pescoço e parou ali. Um gemido alto saiu da minha boca quando ele passou a língua na extensão do meu pescoço devagar, e começou a sugar. Agarrei o seu cabelo longo  e minha vontade era manter ele ali para sempre. Se alguém me jogasse álcool, eu pegaria fogo ali mesmo, sem precisar de fósforo.
- Eu faria sexo com você aqui mesmo, no chão, com essas pessoas olhando. - Andy sussurrou sem fôlego, olhando nos meus olhos.
Eu também estava respirando com dificuldade, minha cabeça estava zonza e eu não queria sair dali, que dirá falar , mas encontrei forças e respondi: você não faria isso, faria?
- Ah, eu faria. Te foderia em qualquer lugar.
Apenas encostei a testa no peito dele, me recuperando dessa explosão que aconteceu entre nós.

AndrasWhere stories live. Discover now