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- Parabéns pra você, parabéns pra você, parabéns pra netinha, parabéns pra você!

Acordei na manhã de quarta com vovó cantando os parabéns pra mim. Era dia 20 de julho , e estava completando 18 anos. Vovó levava nas mãos um bolo comprado na padaria em uma bandeja, com vela e um copo de suco de morango, meu sabor preferido.
- Vó! Não precisava.
- então posso comer tudo ?
- Nãooo, passa pra cá! Valeu vó.
Ela sentou na beirada da minha cama.  -
Sua mãe ficaria muito orgulhosa com se pudesse ver a menina que você se tornou. Você é muito valiosa pra mim. Sinceramente não sei o que vou fazer quando a carta de admissão da faculdade chegar.
- Eu não vou pra tão longe, e vamos nos falar todos os dias, eu prometo.
- Eu sei minha menina.
Comi um pedaço do bolo, e tinha recheio de brigadeiro. Estava uma delícia.
- Queria te pedir uma coisa.
- Pode falar filha.
- Sei que tínhamos combinado de ir ao cinema, mas Kayla me ligou e me chamou pra sair. Se incomoda?
É lógico que ela se incomodava, era só olhar pra ela. Apesar de maravilhosa, vovó me privou de tantas coisas. Eu não sabia o que era passar a noite fora, nem o que era chegar em casa bêbada, coisas que todos os meus colegas da escola já fizeram. Eu não sentia tanta falta dessas coisas, sabia que era para o meu bem.
Ela ensaiou diversas respostas, mas por fim falou;
Pode ir. Contanto que você volte até meia noite .
- Pode ficar tranquila, essa hora já vou estar dormindo.
‐ Bem , então, já que você vai sair a noite, hoje vc vai passar o dia comigo . Vamoa fazer o cabelo, pintar as unhas, comer pipoca e ver filme de menininha.
- Alguma vez já falei que a Sra é perfeita ?

Nosso dia foi perfeito.  Vimos o filme Amor além da vida. Vovó chorando no meu ombro, eu fungando e imaginando como a vida para o protagonista do filme foi injusta. Logo depois pintamos as unhas de vermelho, mesmo vovó achando que aquela cor não era para mulheres como nós, de Deus, mas como era meu aniversário, queria fazer algo diferente, fugir um pouco do neutro. Eu não era virgem, infelizmente fiz a burrada de me precipitar com 16 anos, e foi tão horrível, me machucou tanto, que fiz uma promessa para Deus de que a próxima vez que fizesse, seria com o marido que Ele colocasse em meus caminhos . Vovó ficou um mês inteiro sem falar comigo, mas graças a Deus passou.
Deu 18h, subi para me arrumar. Não parecia, mas estava animada. Tive que comprar roupas logo após Kayla me chamar pra sair, porque eu não tinha nada "decente" para ir . Depois do banho tomado, parei em frente ao espelho do meu quarto, e comecei a me vestir com o top preto brilhoso de renda com mangas, que favorecia os meus seios pequenos e não era vulgar, do jeito que eu gostava. Vesti uma calça de couro justa, acentuando minhas curvas , e calcei uma bota também preta  de saltos grossos, número 9. Passei o batom vermelho que ainda estava lacrado ( Kayla tinha razão), um corretivo, delineador e uma máscara de cílios.  Dei uma cor as bochechas e soltei meu cabelo, que caia em ondas de cachos largos até a cintura.  Fiz uma análise total da minha imagem , e pela primeira vez na vida, eu me senti bonita. O delineador realçou meus olhos verdes, e a cor preta da roupa caiu como uma luva em minha pele morena. Às 20h em ponto, escutei Kayla gritar lá em baixo.
- Jadeeeee, já está pronta ?
Me despedi de vovó, e mesmo estando animada, me veio uma sensação esquisita, uma certeza que algo estava para acontecer e nada mais seria como antes, acompanhada de um calafrio. Não gostei nada daquilo, mas fui encontrar meus amigos.

- Cara, tu tá tãoooo gostosa, vadia !
- Oi Kayla, bom te ver também.
Minha amiga era linda, preta com penteado de tranças azuis, tinha os seios fartos e o corpo perfeito. Ela colocou um vestido tubinho de cor prata que valorizava ainda mais seu corpo.  - Eu senti saudades.
- Eu também senti, amiga. Me promete que hoje vamos nos divertir? Acho que você deveria tomar até uma caipirinha . - disse Kayla animada, abraçando aquele projeto que ela chamava de namorado, com aquele cabelo espetado ridículo dele . Eu não me dava ao trabalho de o cumprimentar. Kayla era incrível, com toda a maluquice  dela , e esse babaca traía minha amiga. 
- Bem , pode ser que eu tome umazinha, e até dance com você, mas só quando o Rosa Negra começar a tocar.
- Fechado! Eu tô com uma sensação boa, vadia. Hoje você vai arrumar um homem bem gostoso, com o passado sombrio e duvidoso, com cara de " seu polícia, me prenda por favor ". Dei uma gargalhada sincera. Kayla deveria fazer curso para comediante.
Fomos andando em direção ao carro de Bra, quando de repente senti que estava sendo observada, e olhei para trás, em direção ao jardim de vovó , mas não tinha nada lá. Estranho...
- Vamos ficar aqui a noite toda , ou vamos sair? - até a voz do babaca me causava nojo.
Entramos no carro, Kayla na frente do lado de Brad, enquanto fui atrás com o tal amigo do embuste. Parecia ser outro retardado, me olhando embasbacado. Brad colocou pra tocar no som do carro a música Fetish, da Selena Gomez. Eu e Kayla amávamos aquela música.
Em 40 minutos, chegamos ao clube/boate. A fachada era decorada com a palavra Apófis em letreiro vermelho que piscava e uma cobra grande dourada estava entrelaçada na palavra, com a bocarra aberta engolindo uma espécie de sol. A boate em si só era imponente, ocupando a esquina de um quarteirão inteiro  . Símbolos estranhos decoravam as paredes negras. Se eu já estava com uma sensação esquisita antes, quando vi aquilo duplicou. A vontade que eu tinha era dar meia volta e sair correndo.
- Kayla, que tipo de boate é essa ?
- Como assim ?
- Esses símbolos estranhos, essa cobra medonha... - eu estava me controlando muito pra não demostrar receio. Por isso eu era a chata do rolê.
- Amiga, eu não sei. Sei que vai ser muito bom, confia em mim.
-Se você está falando... - Acho que eu estava deixando me impressionar, e fiz o que eu chamava de respiração calmante, até a paranoia ficar de lado.
- Só vamos nos divertir, tá bom Jade?

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