Capítulo BÔNUS

2.2K 369 158
                                    

9 anos depois.

O céu estava límpido e a luz do sol se estendia por toda a copa das árvores, levando tudo que estava escuro se clarear. Bea abriu os olhos naquela manhã e levantou-se com a mesma disposição de todos os dias. Colocou a chaleira no fogo com água e preparou a massa de um bolo, pondo no forno de fogão a lenha. O aroma se espalhou por toda a casa, fazendo Pedro andar até a esposa, como que seguindo aquela linha de cheiro, beijando-a em seguida.

– Já fez sua leitura matinal? – ela indagou afastando-se um pouco dos braços dele para ver o leite que fervia.

– Sim, amanhã continuo. – Ele deixou sua bíblia e o comentário ao lado, cruzou os braços sobre o peito e se encostou na bancada da cozinha, olhando atentamente para a esposa em seus afazeres. – Queria saber qual é o seu segredo – ele disse e Bea estreitou o cenho, virando-se em seguida para aqueles olhos azuis.

– Segredos sobre o quê? – Sorriu.

– Para ser tão bonita assim – Puxou-a pelo braço, vendo que mesmo depois de nove anos de casamento, ela ainda reagia com certa vergonha aos seus elogios. – Acredito que depois de duas gravidez, uma série de sofrimento e aflições, uma beleza mais madura tomou conta de você – ele aproveitou e a beijou novamente.

– Ah, Pedro, como eu amo você!

Após o casamento, Bea descobriu o quanto Pedro podia ser carinhoso em palavras e gestos. Aquele jeito durão e sério ainda existia com os outros, mas com ela sempre havia um trato amoroso. É claro que ambos haviam enfrentados alguns reverses, principalmente, quando souberam da dificuldade que enfrentariam para terem filhos. Foram três anos de orações intensas, Bea chorava com sua mãe após um diagnóstico de que ela tinha pouquíssimas chances de gerar um filho.

As lutas foram profundas para o recente casal, que entenderam que precisariam se apoiar um no outro ao invés de se afastar. Uma luta fundamental para Pedro, que tinha a mania de se isolar quando se sentia sem saber o que fazer quando via sua esposa pelos cantos da casa sem esperança, indagando a Deus porque ela precisava passar por aquilo; porque Deus negava um pedido tão simples; se desesperava por não saber qual seria a vontade do Senhor para o futuro, e se os filhos nunca viessem? Bea encontrou dentro dela um grande ídolo, no qual demorou um bom tempo para ser quebrado e arrancado de seu peito. Precisava ser feliz em Cristo, não em filhos.

Porém, numa comum quarta-feira, enquanto ela visitava o abrigo foi atropelada por Bruce, o belo menino negro, de cabelo crespo e olhos de jabuticaba, ele contou empolgado para a tia Bea o que tinha aprendido naquela tarde e – como se tivesse se uma lâmpada tivesse acendido em sua cabeça – um amor maternal brotou por Bruce, entendendo que talvez Deus não quisesse lidar filhos naturais, porque gostaria de lhe entregar filhos por adoção, estender o amor para além do seu próprio vínculo familiar. Ela conversou com o marido, que convencido pela graça de Deus, deu entrada nos papéis. O dia em que buscaram Bruce foi uma festa, o pequeno serelepe até chorou ao saber que Jesus deu a ele “papai e mamãe”. Ele disse aos dois:

“Eu orava a Jesus toda a noite pedindo que ele me desse um pai e uma mãe. Tia Olívia sempre falava que devíamos levar nossos desejos a Deus, e Ele respondeu”. Pedro e Bea deram um beijo apertado no menino, que em pouco tempo logo se sentiu inteirado na família.

Todo aquele processo de aceitação da vontade de Deus, ensinou a Bea o quão terrível poderia ser seu coração – ainda que pensasse que estava pronta para aceitar o que Cristo lhe enviasse – mas descobriu uma profundidade terrível de egoísmo, sabendo que tudo aquilo cooperou para ter seu coração mais aperfeiçoado. Contudo, com um ano de adoção de Bruce e completando quatro de anos de casada, ela recebeu a dádiva de estar grávida, carregando no ventre aquele sonho que já havia sido deixado de lado. Uma energia vibrante tomara conta de seu coração, não conseguindo nem entregar a notícia ao marido. Quando Maitê e Rosana descobriram que iam ser avós novamente só faltaram arrancar os telhados da casa em tamanha alegria e, para a completa surpresa de todos, a benção viera dobrada: Gêmeos. Dona Rosana declarou a filha:

Um Perfeito EncantoWhere stories live. Discover now