📓 Contrição

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Era noite quando Pedro entrou em seu apartamento. Estava tudo escuro indicando mais uma noite solitária. Ele acendeu a luz e seus olhos demoraram por uns instantes para acostumar com a luminosidade. Sentou-se no sofá e mirou em nada específico deixando somente sua mente divagar até um passado não muito distante. As suas emoções pesavam em seu coração trazendo-lhe grandes fardos. Mas a maior parte era a que sempre lhe acusava de ter tomado decisões tão erradas. Sentia que merecia carregar cada uma daquelas consequências, só não sabia até onde iria e por quanto tempo mais aguentaria.

Culpa.

Tristeza.

Vazio.

Tudo isso dominava sua alma, mente e coração. Suas memórias sempre voltavam para lhe perturbar.

Por que não escuta nossos conselhos? Você não era assim, Pedro”. Seu pai lhe dizia.

“Vocês não entendem que eu já tenho idade suficiente para tomar minhas próprias decisões?” “Inferno!” ele vociferou para com a atitude protetiva de seus genitores. Não aguentava mais.

“Sabemos que tem, mas por enquanto não está fazendo boas escolhas”. A voz do Sr. Lorenzo Bernardi ficara mais grave e altiva. “E nós não iremos aprovar seu namoro com esta mulher. E se quiser ir em frente, pode ir. Mas não com nossa benção”.

Ele trincou o maxilar e pegou a chave da moto e partiu ao encontro de sua namorada.

Letícia era vibrante, cheia de sagacidade e esperteza. Eles se conheceram na faculdade. Ela cursava administração quando certo dia acompanhou uma amiga do curso de direito num dos grupos de estudos. Pedro ficara encantado com o modo da jovem, porém era reservado para expor qualquer interesse. Mas ela com seu jeito de ser logo o envolveu com suas palavras e o enlaçou em suas teias de paixão.

Naquela noite chuvosa, após a briga com seus pais Pedro a tomou em seus braços com rispidez e deu mais liberdade para com aquele relacionamento. Ele a beijou com força, sentindo o coração flamejar. Estava cansado de tantas regras, e de ser sempre o menino certo e exemplar. O coração desobediente dele o instigava ainda mais a entregar-se completamente aos seus instintos masculinos que depois de avançar com Letícia despertaram a mil por hora. Fogo. Paixão. Ira. Pecado. Ele se entregava a isso de maneira veloz.

As palavras de Letícia a cada dia o seduzia. Afastou-se dos pais, amigos leais e, principalmente de Deus. Não lia mais as escrituras, não orava, não se reunia com os irmãos. Procurou até mesmo abafar em seu peito as verdades que lhe foram pregadas a vida toda. Ele só deseja uma coisa: aquela mulher. Após tantos convites da parte dela para aprofundarem o namoro e se conhecerem, enfim, deitou-se com ela. Ele mudou desde então. Mudou completamente. Nunca mais foi o antigo Pedro Bernardi. E, provavelmente, nunca mais voltaria a ser. Na época ele possuía apenas 20 anos.

Pedro respirou e arfou no sofá ao relembrar o contato que teve com ela depois de três anos. Ele podia ver naquele rosto todos os seus pecados expostos. Letícia era como um espelho que denunciava todas as suas falhas. Ele merecia isso. Após cinco anos de namoro descobriu a traição, levando-o ao desespero total. Ele se afundou nos estudos e trabalho. Tornou-se grande em sua área. Pediu perdão aos pais. Orou a Deus, mas não se sentia digno daquilo. Ele abandonara ao Senhor no passado e não era justo voltar só porque havia se quebrado. Não era justo!

O juiz mirou a porta branca do armário e lembrou-se de um presente que recebera de um rapaz quando estava em um dos seus piores momentos. Na época não deu valor as palavras do homem, mas naquele dia elas faziam sentido.

O álcool é nosso amigo. Ele nos ajuda a esquecer os problemas desta droga de vida”. O homem de cabelo ruivo colocou a caixa com a garrafa de uísque nos braços de Pedro. “Vai ver que vai lhe trazer muitos benefícios e você irá relaxar”.

Relaxar... Era isso que precisava.

Caminhou até a porta e viu a bela garrafa cristalina com o líquido cor de âmbar cintilante. Ele a pegou pela boca e procurou tirar a rolha, tomou no armário da cozinha qualquer copo – já que não havia nenhum específico para bebidas em sua casa. Após a tampa ser retirada o cheiro da bebida invadiu o ar. Pedro colocou o líquido no copo, levou até a boca chegando a molhar os lábios quando a lembrança da voz de Beatrice pareceu rasgar em seus ouvidos.

Jesus disse: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Precisa deixar na cruz todo esse fardo”.

Aquelas palavras lhe desarmaram, levando-o a deixar o copo cair de suas mãos se estilhaçando por completo no chão, chegando perto de lhe ferir o pé. Ele não precisava de bebida, mas de Cristo!

“A cruz é a esperança para nós pecadores. Ela não foi feita para os perfeitos e, sim, para nós, os doentes, os culpados, os que erram. Para nós pecadores que se arrependem dos seus maus feitos. A vida é cheio de erro, é verdade. Mas, a graça de Deus, se manifesta em fazer desses erros meios de crescimento e amadurecimento”.

Aquele conselho lhe fez entender algo finalmente. E então Pedro após tantos anos chorou. Chorou amargamente todos os seus pecados. Ele caiu alguns metros depois daquele vidros quebrados e orou com muitos gemidos como há anos não conseguia fazer.

– Eu sei que merecia o inferno. Sei que fui levado pelo pecado do meu coração. Vejo minhas feridas e minha podridão – a voz daquele homem ficou embargada. – Mas foi pra pessoas como eu que o Senhor morreu: doente, caído, fraco e sem vida. E, por todos esses anos, eu queria encontrar em mim algo digno de valor para que pudesse me apresentar diante de Ti. Mas, o senhor não está procurando nada disso. 

Pedro parou por um momento e relembrou-se do versículo 17 do Salmo 51: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus”.

– Senhor, não quero justificar meus pecados. Eu errei para com todos, mas minhas falhas maiores foram para contigo. Por isso, eu te peço: perdoa-me, ó Senhor! Ajuda-me a caminhar novamente com toda a inteireza de coração. – Pedro comprimiu os olhos e as lágrimas desceram ainda mais. – “Cria em mim um coração puro e renova dentro de mim um espírito reto”.

Ele sabia que havia errado, e não conseguiria nunca ficar bom o suficiente para receber o perdão de Deus. Na verdade, o que o Senhor requeria era somente um coração verdadeiramente arrependido. E que cressem na misericórdia que Ele concede através do sangue derramado na cruz. Porque “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. (Rm 3:23-24). A culpa não o deixava receber o perdão de Deus, mas o verdadeiro arrependimento reconhece os erros e aceita a graça imerecida do Senhor. E nisto não há mérito dos homens. Tudo vem somente de Deus!

***

Ei, coleguinhas! Tudo bom?

Então, desculpa pela demora. Estamos no final de ano e o meu trabalho fica uma loucura, mas não desisti do livro. Estamos aqui firme e forte 💪 E pra compensar essa demora, eu prometo postar mais dois capítulos ainda está semana! (Só não me perguntem nem o dia e nem a hora)😉

Espero que este capítulo seja um meio de graça pra vc. Que possamos compreender que na cruz de Cristo há perdão para os nossos pecados quando verdadeiramente nos arrependemos. E que possamos deixar a culpa de lado e aceitar o perdão do Senhor. Porque, afinal, Ele sabe que nunca estaremos perfeitos para se apresentar diante dEle.

Um Perfeito EncantoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora