📓 Perdão

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Dois dias depois...

É que há algo em meu coração
Que eu não queria admitir
Há tempos venho isto sentindo
E o tanto que eu quis fugir
Mas claramente não há escape
Nada me resta então
Senão aceitar a verdade

Pois basta encontrar seus olhos
Que eu sinto o mundo parar
E meu coração palpita forte só de te ver entrar
Pela porta daquele fórum
Ali os segundos se demoram
E por mim nem precisava passar

Por vezes me questiono se isso não vai terminar
Se com a luz de um novo dia não pare meu peito de arder
Mas até mesmo tempestades vieram pra me provar
E nenhuma das altas ondas puderam meu amor levar
Quem dera a luz do dia que só me lembra seus claros fios

Há honra em seus ombros
Misericórdia em seu olhar
Me encanta como em tudo você parece se importar
Vejo Cristo em seu coração
Formando um homem piedoso
Que sempre estende a mão

Nas orações eu falo ao Senhor
Pra Ele guardar meu coração
Que a sua vontade seja feita
Que seja a minha direção
Que talvez eu esteja louca de pensar em nós dois juntos
Eu sou sua secretária
Isso seria um absurdo?
Nem quero responder essa pergunta que
Tão retórica se aparenta
Mas à cada amanhecer
Em meu peito só aumenta
Um tanto de amor por você

Pedro tinha os olhos fixos naquelas palavras que expunham tão profundos sentimentos. A respiração dele estava levemente ofegante, as mãos um pouco suadas e a mente ponderava atentamente sobre tudo aquilo que lera. Era ele descrito naquele poema, não tinha dúvidas! E aquela letra era de Beatrice. Oh, céus! E por mais que desejasse, não conseguia soltar aquele diário de oração, que mais parecia uma obra de arte de tão customizado  que era com fotos, recortes e colagens e desenhos coloridos. O coração dele agitou-se ainda mais por ver, em outras folhas, o nome dele sendo citado em algumas orações. Ele nem sabia processar direito todas as emoções que estavam o atingindo, era uma mistura de alegria, paz, euforia, curiosidade, susto e tantos outros mais.

Ao levantar o olhar, examinou meticulosamente a mulher de cabelo curto e preto que estava a poucos metros de distância. Ela obtinha um sorriso sagaz nos lábios vermelhos, em sua pose de soberana. Naquela manhã, ele chegou ao fórum e – de uma forma que ainda não sabia como – Letícia estava dentro de seu gabinete. Pedro indagaria sobre a entrada dela, mas Letícia tão somente apontou para ele um objeto, como se fosse uma caderneta, em cima da mesa. O juiz se dirigiu ao local e tomou-o nas mãos, estava aberto em cima do poema, escrito com caneta vermelha e um desenho de flor no final da página. Enquanto lia, o mundo havia parado de girar por alguns minutos.

– Como conseguiu isso? – ele indagou, levantando o diário nas mãos.

– Não importa como – ela se aproximou –, eu só queria te mostrar que a sua funcionária, que você tanto defende, não é tão inocente.

– Em que você acha que isso a incrimina de alguma forma? – Ele arqueou a sobrancelha e, pela primeira vez em muito tempo, não sentia mais raiva de Letícia, contudo, ao vê-la se expor daquela forma, apenas atribuía a ela um sentimento de pena. Os dias de oração estavam mesmo fazendo efeito.

– Ora, como não? – Letícia exclamou. – É expressamente proibido qualquer envolvimento romântico entre funcionários. Será que não vê que ela somente quer tirar vantagens em tudo isso?

– A sua capacidade de pensar coisas más e sem sentindo realmente me impressiona – Pedro replicou. – E outra, se ela está apaixonada, seria mais fácil eu usar disso para tirar benefícios.

Um Perfeito EncantoWhere stories live. Discover now