📓 Prudência

5.9K 858 302
                                    

Bea jogou aquela pasta em cima da mesa, arfou na cadeira e deitou a cabeça para trás, fitando o teto de sua sala e soltando o ar. Aquele dia mal havia começado e tantas coisas aconteceram. – Ajuda-me a ser menos desastrada e a dar conta deste trabalho, Jesus. – orou, com desejo sincero das coisas darem certo naquele trabalho.

Após uns minutos de reflexão, fixou a sua atenção aos papéis levemente emaranhados a sua frente. Aqueles relatórios deixados por Andréa e a pasta do Dr. Bernardi, despertaram-na certa curiosidade. Então começou a folhear algumas páginas, prendendo a sua leitura nos assuntos abordados. Passou algumas horas, e a secretária ainda tinha sua atenção focada nas folhas digitalizadas e em certo momento entre os parágrafos da história que lia, as lágrimas começaram a brotar. Os relatos descritos eram sobre uma garota abandonada pela família, adotada por outra que lhe torturou, agora ela tinha sido resgatada e retornado para o abrigo.

– Senhor... – Começou a conversar com Deus, sentindo a compaixão aflorar na sua alma. Mas, ouviu uma voz grave ressoar pelas paredes. Não se atentou a isso e voltou com assiduidade a ler. Dessa vez, as lágrimas desceram de verdade.

– Srta. Mendes, eu... – A mesma voz grave ecoou – agora – dentro da sala dela.

Ela ergueu a cabeça e os seus olhos vermelhos denunciaram suas emoções descontroladas no ambiente de trabalho. O Sr. Bernardi estava com os olhos azuis direcionados a ela. Bea só o contemplou, não dizendo nada por uns longos segundos.

– Estava chorando? – perguntou retoricamente, já que as lágrimas eram nítidas na face da sua nova secretária.

– Eu estava. – Beatrice passou a mão no rosto para limpar as águas salgadas que escorriam pela sua bochecha corada. – Desculpe-me. – Fechou o relatório em suas mãos com certa brutalidade.

Ele adentrou mais na sala, se aproximando dela.

– Chorando por quê? – Arqueou a sobrancelha.

Vendo o rosto compenetrado do chefe, Bea apenas comprimiu os lábios e balançou a cabeça em negativa. A jovem sentia que pagava todos os seus pecados por ter de passar tanta vergonha na frente daquele homem. Mesmo com medo do que ele acharia, decidiu contar a verdade sobre o porquê de suas lágrimas.

– A história descrita aqui – apontou para a pasta que continha os relatórios. – É triste... Muito triste! – enfatizou.

– É muito emotiva, senhorita Mendes? – Pedro reclinou o corpo para frente, olhando-a com uma seriedade brutal.

– Não, senhor. – Abaixou a cabeça, sentindo novamente vergonha por estar mais uma vez de modo inadequado na frente do juiz. – Mas, acredito que qualquer ser humano com algum coração se compadeceria dessa história. – Fungou. – Peço desculpas por me ver nesse estado. – Bea limpou os olhos marejados mais uma vez.

– Controle suas emoções! – ordenou, levantando-se e alinhando o terno, que havia sido trocado.

Beatrice assentiu timidamente, ainda visualizando o piso branco abaixo de sua mesa.

– O senhor não me verá mais nesse estado – garantiu.

– Eu realmente espero. Informo que as três terá uma audiência. – Ele fez menção de sair, porém antes declarou: – Está na hora do seu almoço. – Olhou para o relógio de pulso.

– Acho que vou ficar por aqui mesmo – Bea disse. – O senhor deseja mais alguma coisa?

Ele assentiu, proferindo: – Que almoce, pois não desejo uma funcionária doente. – Virou-se de costas e saiu da sala sem ao menos esperar resposta.

Um Perfeito EncantoWhere stories live. Discover now