prólogo

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O passado ainda não os abandonou. 

Na verdade, o melhor a se por aqui é que foram eles os que ainda não desapegaram das lembranças de outrora.

Eles ainda as portam possessivamente e, através destas memória, tentam revisitar antigos sentimentos e afetos.

É assim que acabam ainda mais atrelados à busca incessante pelo resquício que já se foi. Eles não acreditam merecer mais do que isso, acham que não viveram felicidade igual.

Eles não querem esquecer, apesar de saberem que devem, que já passou da hora.

E como boa parte do que envolve nossas memórias, a maioria do que se manteve pungente em suas mentes não foram as doces benesses da vida, como o amadurecimento que tiveram - ou deveriam ter tido - ou os aprendizados adquiridos pelas experiências que enfrentaram, que não foram poucas nem comuns.

Certo que é uma lástima algumas experiências terem ocorrido. Também é triste perceber a distorção ou floreado que outras destas sofreram.

E o que resulta disto tudo são os inúmeros esforços para se proteger erguendo barreiras enormes, imponentes.

Enfim.

Os souvenirs que eles guardaram do passado estão quebrados. Dos mais bonitos aos mais tenebroso, todos sofreram prejuízos e já deveriam estar no lixo há muito tempo pela falta de utilidade - e olha que alguns nunca tiveram, só serviram para ocupar espaço e pesar suas bagagens. 

Esses souvenirs são seus traumas, medos e dores ainda inflamadas.

E exibindo esses troféus como respaldo, eles julgam que têm liberdade, permissão e, o pior de todos, direito de saírem por aí agindo como dois imbecis. 

Muitos traumas, apesar de deixarem marcas na carne e no psicológico, são tratáveis, têm concerto, canalização, cura. O problema é que eles ainda não procuraram nenhum tratamento para seus souvenirs.

Nenhuma oficina, ou mecânico, ou marceneiro, ferreiro, restaurador. Nenhum joalheiro. 

Nada. 

Talvez seja porque eles não querem desapegar da única coisa que acreditam que lhes pertencer.

Talvez porque eles acham que suas existências se resumam a isso. Avaria.

Quebrados e descartáveis.

Entretanto, os souvenirs tento alguma importância ou não, eles precisam se livrar desse lixo urgentemente, pois, agora, entre eles, existe uma bebê. Uma adorável garotinha, pequena, com o cabelo denso demais para as poucas semanas de vida, narizinho de botão rosado, lábios finos que quase sempre estão em um biquinho adorável. 

Seu nome é Pearl. 

Pearl, a bebê, é a progênie de algo, talvez o único, que eles tentaram de fato esquecer e deixar para lá. Talvez a única coisa que eles julgaram como um erro, um equívoco a nunca mais ser repetido. Porém, eles aceitando ou não, aconteceu e trouxe consequência e, como costumam dizer por aí, querendo ou não, filhos são o elo entre duas pessoas. O elo mais eterno. Não apenas unem duas pessoas, eles também mudam a vida delas. Exaltam o que eles têm de melhor. Trazem à tona virtudes que eles não imaginam ter. Os tornam mais sensatos, mais compreensíveis, mais amorosos. Mais felizes, mais gratos, mais fortes.

Não foi o que aconteceu com eles, aparentemente.

Francamente, um bebê! Nem um bebê conseguiu tirá-los das desilusões fantasiosas nem das tristezas do passado. 

Nem mesmo uma bebê conseguiu fazer com que Harry e Louis se entendessem. 

(não que seja sua obrigação, obviamente, como ela poderia resolver o drama de dois homens que se dizem adultos quando ela própria mal entende o que é estar viva?)

Ain't Move On • L.S. (mpreg)Where stories live. Discover now