XXXIII

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Depois de asseá-la com lenços umedecidos docementes perfumados, ela é alimentada e, quando os olhinhos já pesam de sono e um biquinho meigo se forma em seus lábios, Harry a coloca no berço e contempla o seu dormitar por um tempinho antes de finalmente ir dormir.

O pai que passou grande parte do dia apresentando - cheio de orgulho - a filha aos poucos parentes que compareceram para o almoço de Natal encontra-se, agora, esparramado no colchão. 

Os olhos azuis abrem-se para apreciar a presença e aproximação de Harry que, sem delongas, se enfia debaixo das cobertas e repousa o rosto no conforto do braço alheio.

O cacheado fecha os olhos enquanto murmura roucamente: - Achei que esse dia nunca iria acabar.

O tom dramático é desnecessariamente exagerado. O dia de Natal passou rápido e, no geral, foi agradável.

Louis pensa em como esse mesmo dia teria sido se, no ano passado, ele estivesse em casa e não no internato. E acima de tudo, se ele tivesse mesmo aceitado o convite que Harry havia planejado lhe fazer.

Onde eles estariam agora? Tudo seria diferente? Talvez. A relação teria um contorno irreconhecivelmente diferente? Talvez.

E Pearl, eles a teriam? Talvez. Ou talvez não… E só por essa dúvida, Louis sabe o que faria caso recebesse a oportunidade de voltar no tempo.

Devaneios à parte, o mais provável é que Tomlinson, naquela época, sequer cogitasse aceitar um convite tão inusitado como esse vindo do aterrorizante e atraente Harry Styles. 

Talvez seria ali que qualquer tipo de laço afetivo futuro teria sido irreversivelmente cortado; com Louis rejeitando o chamado, provavelmente sendo desagradável e ríspido. A decepção faria com que Harry bufasse, revirasse os olhos, e resultaria na desistência daquela atração estúpida, com a certeza de que qualquer outro esforço era inútil.

O ex-soldado aprecia a visão do rosto sereno diante de si e tenta pensar o que seria da sua vida se Harry não tivesse aparecido; Triste e desprovida de sentido é sua única conclusão.

Louis pensa nos sinuosos, ásperos e dolorosos momentos que os repeliram e os entrelaçaram durante a passagem deste ano. E quando mergulha nesses pensamentos, uma onda de culpa o recolhe da orla da praia, engolindo-o num alto mar de arrependimentos.

Se Harry se fechou, criou essa cerca imponentemente alta para distanciá-los emocionalmente, foi por culpa sua.

Culpa das palavras e das ações que tomara. 

Louis pode ver sua simpatia, sorrisos, olhares sugestivos, enfim, todo o interesse do universitário minguar a cada merda feita.

O interesse minguou e minguou e minguou até se tornar quase nada. 

E por um tempo, o quase nada se resumiu a uma seriedade impassível. Diante da sua presença, se Harry não estava sério, estava irritado.

Algo que hoje em dia, felizmente, mudou, é diferente… Pelo menos é isso que Louis sente quando seus olhares se encontram.

Enfim.

Harry. Já que o ditado diz que o coração sente apenas o que é visto, Louis pede-te para que abra os olhos. E não há chances do seu teatro de fingir não ter ouvido dar certo. Louis não vai te deixar escapar dessa. Ele está impetuosamente determinado.

- Abre, Harry - Tomlinson repete. O pedido é atendido vagarosamente. O fitar intenso das orbes verdes é devolvido pelas azuis de igual maneira - Bem melhor assim.

É então que suas respirações adensam-se. E quando os dedos de Louis triscam a face aveludada dele, o sangue de suas veias afluem com uma abundância que torna o ritmo de seus corações selvagem.

Ain't Move On • L.S. (mpreg)Where stories live. Discover now