VI

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⚠️ Alerta de gatilho: se você apresenta sensibilidade a temas como  violência recomendo que NÃO prossiga a leitura deste capítulo! ⚠️




O olhar de Louis vagava pela imagem dos pés descalços de Bradford Malik afundados no colchão. A caneta deslizava vorazmente pelo papel sem-pauta. Mas no momento que sua escrita preencheu duas páginas, sua mão descansou, enfiou a fora caneta entre as páginas antes de fechar o caderno.

- Por que veio pra Mossul? - ele ouviu Bradford questionar após um momento de silêncio.

Fazia dois meses que Louis estava no Oriente Médio. 

- Pelas coisas que vi. Todas aquelas fotos e vídeos... Sabe do que estou falando?

- Acho que sim.

- Já não bastasse o estado em que eles deixaram essas cidades, o que fizeram esse povo foi monstruoso.

- O que tinha nas fotos que você viu?

Tomlinson sentiu o tom metálico da repulsa lampejar em sua voz - Muitas coisas terríveis. As que mais me abalavam foram as com crianças. Uma dezena delas. Mutiladas, decapitadas. Mortas. Algumas não pareciam ter mais que cinco anos!... Nada me convenceria melhor do que ver a crueldade no estado mais puro.

- Você não faz ideia da quantidade de ossos que a gente encontra por aí. Tem regiões que não passam de grandes cemitérios... Cemitérios - desdenhou com amargura - Como se eles tivessem a humanidade de dar dignidade aos mortos. Na verdade, os cemitérios não passam de valas a céu aberto.

- Foi por esse motivo que você se voluntariou? - Malik maneou a cabeça em um gesto de “mais ou menos”.

- Vim sem saber do estado dos mortos. Eu sabia da crueldade, tinha visto os vídeos de fuzilamentos coletivos de prisioneiros, mas só por eles não viria. Não fui convencido do jeito que você foi. Fui convencido pelos vivos, pela carta de apelo que os Peshmergas enviaram para o nosso batalhão. Vim pela admiração que senti pela resistência deles. Eles libertam essas cidades sozinhos. Enfrentaram o armamento pesado dos ISIS com simples M4 e bombas improvisadas. Conseguiram deter os extremistas e devolver a liberdade desse povo sem apoio nenhum, apenas com coragem e determinação. Isso é foda demais.

Louis absorveu os dizeres em silêncio, mordiscando o lábio inferior. Bradford retribuiu seu olhar por um longo tempo, calado, até se levantar para ir ao banheiro.

Noutro dia, depois de Tomlinson ter voltado da Frente de Desefa, precisou lutar para capturar o sono, porém uma dor de cabeça insistente o incomodou muito. Irritado e com a mente turvada pelo cansaço, ele deixou que seus olhos se distraíssem com Bradford que, naquele momento, varria o chão do dormitório. 

Malik percebeu sua inquietação e quis saber qual era seu problema, perguntou-lhe porquê ele não dormia como os outros ali.

- Você precisa de descanso… Além disso, sem querer ofender, tá com uma cara péssima.

- Tô com uma dor de cabeça do caralho.

- ...Quer uma aspirina? Ou um remédio para dormir? Tenho os dois - Whitgift aceitou a aspirina, e após vinte minutos, conseguiu cair num sono pesado.




No dia seguinte, o Alto-General levou seu esquadrão, que incluía Malik, de volta para a Linha de Frente.

Os esquadrões da Frente de Combate passavam muito tempo fora. Muito mais que os combatentes das Defesas das cidades. Até onde Louis sabia, havia duas Frentes de Combate, a mais próxima ficava na província de Kirkuk e era protegida em plenitude pelas militantes Peshmergas, o que surpreendeu Tomlinson pois, até aquele momento, ele não tinha visto nenhuma combatente mulher por ali.

Ain't Move On • L.S. (mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora