2 - Em suas mãos

1.9K 99 59
                                    

GUILHERME

Depois de um dia cansativo na clínica tudo o que eu queria era ir pra casa e ficar com Flávia, curtir a sua gravidez que entrava na fase final, embora o seu problema no coração que eu acompanhava de perto e o risco da gestação ainda me preocupasse. 


— Guilherme. — Joana entrou na minha sala e sua expressão séria me fez ficar em alerta.

— O que houve? — Fui logo perguntando.

— A Flávia acabou de dar entrada aqui na clínica, ao que parece a bolsa dela estourou, levaram ela para uma cesariana de emergência. — Aquelas palavras me atingiram em cheio e não esperei que ela dissesse mais nada, fui correndo até o centro cirúrgico.

— Como ela está? — Perguntei nervoso quando finalmente coloquei as roupas adequadas e pude entrar.

— Tudo está correndo bem, só estava esperando você chegar para iniciar a cesariana. — Disse Luísa, minha colega de profissão e obstetra de Flávia 

— Ela ainda está com 33 semanas. — Lembrei aflito.

— Sei disso, Guilherme,  mas vai dar tudo certo! — Tentou me tranquilizar e eu fui para perto da minha esposa que sorriu fraco ao me ver.

— Eu estou aqui, vamos conhecer o nosso filho. — Falei segurando sua mão. 

— Ou filha. — Fez questão de lembrar já que havíamos optado por por não saber o sexo.

Alguns minutos se passaram até um choro agudo invadir o ambiente.

— Pois é doutor, você terá mais uma mulher em casa, é uma linda menina! — Anunciou a médica enquanto eu e Flávia nos olhávamos emocionados.

— Obrigado meu amor por tanta alegria. — Agradeci beijando sua testa.

— Ela tá bem doutora? — Flávia perguntou preocupada em meio aos sorrisos.

— Vai precisar passar algum tempo na incubadora para ganhar peso, porém num primeiro momento ela está ótima, assim que for possível vocês irão vê-la com mais calma agora a pequena precisa fazer mais exames e ir para a UTI neonatal. — Explicou.

— Eu te amo. — Minha mulher me disse em tom baixo depois do parecer da médica.

— Eu também te… — Não consegui terminar a frase porque os monitores começaram a apitar indicando que os batimentos dela estavam caindo.

— Doutora, os batimentos da paciente estão baixos. — Avisou a enfermeira.

— Onde está o Davi? Ele deveria estar aqui! — Referiu-se ao outro cardiologista da clínica.

— Ele ligou pra cá há uns trinta minutos dizendo que estava preso num engarrafamento. — Alguém na sala contou.

— Eu cuido dela. — Falei firme já assumindo a minha posição.

— Guilherme você não pode fazer isso! — Joana alertou.

— Não foi uma pergunta Joana, a mulher que eu amo está nesta mesa e eu vou salvar a vida dela! Assumo todos os riscos. — Um silêncio tomou conta do lugar.

— Anestesia de 2 horas, vou precisar fazer um procedimento, Luísa já terminou de fechar a cesariana? — Perguntei tentando manter a concentração e esquecer quem estava sendo operada.

— Já sim. — Confirmou e eu esperei  o anestesista fazer seu trabalho, quando Flávia já estava sedada eu fiz a incisão um pouco abaixo de seu ombro.

Tê-la em minhas mãos era a situação mais tensa de toda minha carreira, tentava manter a seriedade por fora enquanto sangrava por dentro.

— Você não vai me deixar agora, está me ouvindo? Eu não permito! — Disse em voz alta sem tirar os olhos daquilo que fazia, era necessário colocar um marcapasso cardíaco provisório. 

Foram as horas mais difíceis e dolorosas da minha vida, eu só queria que aquele pesadelo acabasse e minha mulher ficasse bem.

— Finalizado. — Anunciei ainda sentindo a tensão em meus ombros.

— Os batimentos estão normalizando, você conseguiu doutor! — Ao ouvir isso finalmente soltei um suspiro de alívio e pude sentir o gosto salgado das lágrimas que escorriam pela minha bochecha, em seguida palmas ecoaram no centro cirúrgico.

Um ano tinha se passado desde aquele dia cheio de emoções,  Flávia e nossa filha Melinda estavam ótimas e me faziam sorrir todos os dias. Era uma linda manhã de domingo, estávamos em um parque fazendo piquenique, Antônio tinha levado a irmã para dar uma volta já que ele fazia todas as suas vontades, Flávia estava acomodada entre as minhas pernas.

— Sabe que eu nunca imaginei que me casaria com você? — Comentou virando-se em minha direção.

— Eu também nunca me imaginei casado com alguém tão marrenta. — Brinquei, ganhando um tapa no ombro.

— Perdeu a noção do perigo, doutor? — Perguntou de cara fechada.

— Jamais, eu apenas sei que Flávia Santana Monteiro Bragança me ama demais.  — Falei dando uma risada.

— Convencido você. — Ela riu presunçosa.

— Que tal brindarmos a essa união pouco provável? — Questionei pegando o vinho dentro da cesta e servindo duas taças.

— Eu topo! — Afirmou quando lhe entreguei sua taça.

— Então um brinde ao amor de um doutor certinho por uma dançarina maluquinha. — Fizemos o brinde sem tirar os olhos um do outro.

— Agora o doutor vai ter que me pegar! — Disse  e se levantou correndo pelo parque, não demorei muito para alcançá-la e nós caímos juntos sob a grama fofa.

— Te peguei! 

— E o doutor vai querer o que de recompensa? — Questionou com um sorriso de lado.

— Isso. — Fiz nossos lábios se encontrarem em um beijo nada delicado, a sensação nunca ia parar de ser maravilhosa, se pudesse ficaria aqui para sempre, porém precisávamos respirar.

— Uau! — Flávia disse recuperando o fôlego antes de sentar novamente.

— Que bom que você  gostou. — Dei uma piscadinha e enlacei as mãos em volta de sua cintura enquanto assistimos de longe Melinda e Antônio brincarem. Essa era sem dúvida a definição de felicidade.

Parte do meu coração - Oneshots Flagui Where stories live. Discover now