11 - Novos rumos

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FLÁVIA  

Os raios cortaram o céu e os trovões faziam a janela tremer, a tempestade parecia piorar a cada minuto junto com a falta de ar de Diana, minha irmã tinha apenas cinco anos e não merecia passar por tudo isso sendo tão pequena.

Desde sempre fomos uma dupla, pois nosso pai Juca morreu cedo e a nossa mãe nos abandonou quando descobriu que Diana tinha uma doença cardíaca alegando ter muita coisa para viver e dizendo que uma filha doente só ia atrapalhar, sendo assim, comecei a trabalhar como dançarina numa boate chamada Pulp Fiction e dividia apartamento com Betina que também trabalhava lá e sua filha Bianca, porém diferente de mim ela se dava super bem com o pai da jovem e não tinha que lidar com tudo sem nenhum apoio.

Hoje eu estava sozinha, era noite da Betina na boate e Bianca havia ido dormir na casa do pai. Não podia mais esperar, o remédio não fazia efeito e minha irmã precisava de um médico o mais rápido possível.

— Mana eu não consigo respirar. — Falou com a voz baixinha enquanto eu a pegava nos braços.

— Eu sei Di, vai ficar tudo bem, vou te levar até a doutora Joana.

Depois do Uber cancelar umas dez vezes finalmente consegui um que aceitasse e paguei com o pouco dinheiro que ainda me restava, mas o trânsito estava horrível com aquela chuva toda.

— Moça não vamos conseguir chegar por esse caminho, o túnel está alagado.

— Meu Deus, o que eu faço agora? — Olhei para minha irmã completamente frágil nos meus braços.

— A clínica Monteiro Bragança fica mais longe, porém conheço uma outra forma de chegar, é particular, mas acredito que eles não irão negar um atendimento de emergência. — O motorista disse ao perceber meu desespero.

— Vamos até lá, não tenho outra alternativa. — Acariciei os cabelos castanhos de Diana tentando manter a calma.

Quarenta minutos intermináveis se passaram até estacionarmos.

— Obrigada moço. — Agradeci saindo do carro.

— Por nada, melhoras para a garotinha. — Deu um sorriso amigável e partiu.

Segurei Diana a protegendo com sua blusa de frio enquanto eu entrei na clínica completamente encharcada pela chuva e fui direto para o balcão de informações.

— Minha irmã precisa de atendimento! RÁPIDO! — Pedi nervosa.

— Calma, qual é o convênio dela? — Perguntou-me a mulher da recepção.

— Moça ela não tem convênio, com essa chuva foi impossível chegar no hospital público, aqui é a minha única opção, atendam ela, por favor! —  Implorei.

— Eu não posso… — Antes dela terminar um homem de jaleco branco com o dobro do meu tamanho apareceu, no crachá estava escrito Dr. Guilherme Monteiro Bragança.

— O que está acontecendo aqui? — Questionou me olhando de cima a baixo com superioridade e isso me levou ao limite.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Qual é o conceito de medicina deste lugar? Porque pelo que eu saiba um médico deve atender a todos, mas nessa clínica parece que quem dita as regras é o dinheiro e a soberba. — Cuspi as palavras completamente exausta, o médico diante de mim pareceu ficar desnorteado por alguns segundos.

— É a criança que precisa de atendimento? — Perguntou olhando para Diana.

— Sim. — O doutor fez menção de pegá-la no colo, mas minha irmã se escondeu em meu peito.

Parte do meu coração - Oneshots Flagui Where stories live. Discover now