9 - Nascer do sol

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GUILHERME

O raiar do Sol anunciava a chegada de um novo dia, estava perdido em meus pensamentos enquanto Flávia contemplava a bonita paisagem.

— Um novo dia é sempre uma nova oportunidade de recomeçar. — Falou enquanto eu voltava minha atenção para ela, a luz solar batia diretamente em seu rosto, deixando cada detalhe ainda mais bonito. Tirei o celular do bolso desejando eternizar aquela imagem, dou um leve sorriso ao ver a foto exatamente como eu queria.

— Você é fotógrafo agora além de doutor caloteiro? — Flávia perguntou quando percebeu que havia sido fotografada.

— Sempre gostei de fotos na verdade, elas guardam momentos bons da vida.

— Eu sempre achei foto uma hipocrisia, as pessoas aparecem felizes quando na verdade escondem muitos outros sentimentos.

— Você tem um ponto, mas nem sempre é assim, por exemplo, eu tirei uma foto sua porque realmente considero uma boa memória e quero poder visitá-la quando sentir saudades.

— Vai sentir saudades de mim doutor? — Questionou com um sorriso despontando nos lábios.

— Somos amigos agora, lembra?

— Lembro. — Respondeu com um leve suspiro.

— O que eu faço agora? Nunca imaginei minha vida sem a Rose. — Disse completamente perdido.

— Esse é o seu grande problema, você fala como se o seu casamento fosse o único caminho Guilherme e não é! Você pode ter só mais um ano de vida, aprenda a se conhecer mais, foque em você e deixe as coisas acontecerem naturalmente sem tentar controlar. — Flávia sempre me falava o que realmente pensava e apesar de às vezes ser irritante eu gostava disso.

— Vou tentar. — Falei sincero.

— Já é um passo.

— Me fala de você, já focamos muito em mim hoje. — Começamos a andar um ao lado do outro.

— O que quer saber? — Perguntou dando de ombros.

— O que você estiver disposta a me contar. 

— Minha vida não tem nada muito espetacular, minha mãe me abandou quando eu nasci e desde então somos só eu e meu pai, ele casou com a Odete, mas nós nunca fomos muito amigas. — O tom de sua voz era baixo e Flávia olhava para o chão, era visível como ela ficava afetada em falar neste assunto, instintivamente peguei em sua mão para demonstrar apoio. 

— Desde que nos conhecemos você fez questão de me colocar em diversas roubadas e eu odiei isso, porém ao mesmo tempo percebo que você é uma pessoa que se importa com os outros, sua mãe não sabe a filha incrível que perdeu. — Ela me encarou totalmente surpresa com as minhas palavras, na verdade até eu estava, mas saíram sem que eu pudesse conter.

— O doutor tá bem? Tá mesmo me elogiando? — Colocou as mãos na minha testa querendo verificar minha temperatura.

— Para Flávia! — Dei risada.

Em seguida a mesma enlaçou o braço no meu e nós começamos a girar feito duas crianças.

— Por que estamos fazendo isso? — Questionei sem parar de sorrir.

— Não sei, só tô feliz. — Ela riu.

Lembrei de como estava me sentindo mal até ela vir ao meu encontro e de como me sentia bem agora, apesar de tudo.

— Você tem razão, é hora de recomeçar e atear fogo no passado. — Disse olhando novamente para a paisagem diante de nós depois olhei para Flávia.

— Então olha pra frente… — Falou mordendo os lábios.

— Tô olhando. — Aproximei-me até praticamente estarmos colados, as respirações aceleradas se misturavam e logo o beijo aconteceu, meu coração batia descompassado no peito, ainda era difícil pra mim lidar com tantos sentimentos novos, porém precisava parar de ignorá-los. Me afastei dela devagar ainda muito mexido pelo beijo.

— Eu… — Comecei desnorteado.

— Se você disser que não queria eu juro que te dou os quinze tapas e te boto pra correr que nem falei no restaurante. — Ameaçou.

— Não é isso, eu ainda tenho algumas coisas para resolver e não quero magoar você outra vez, então vamos com calma. — Pedi.

— Relaxa doutor, eu não nasci pra ser segunda opção de ninguém, resolva suas coisas e depois voltamos a conversar. — Disse com naturalidade.

— Já que é assim continuamos amigos.

— Amigos não olham para amigos desse jeito. — Flávia frisou enquanto trocávamos olhares.

— Preciso ir trabalhar, vou pedir um táxi e te deixar em casa antes. — Falei depois de algum tempo.

— Vou ficar mais um pouco, pode ir lá ser o doutor das galáxias, eu me viro. — Brincou usando o apelido que eu já estava acostumado. — Espero que tenha gostado de passar a noite na companhia da Pink.

— Eu gosto da companhia da Flávia, pra mim você vai ser sempre a Flávia e a peruca não muda isso. — Fiz questão de deixar claro.

— É bom saber disso. — Ela passou os dedos por meus lábios para tirar um pouco de batom que tinha ficado ali.

— Você é abusada né garota? — Comentei com um sorriso enquanto tirava suas mãos devagar e ela arqueou as sobrancelhas.

— Vê se você não vai se meter em roubada.  — Adverti.

— Farei o possível. — Concordou dando um beijo em minha bochecha.

Observei ela por alguns segundos antes de seguir meu caminho, no fundo eu não queria que a noite acabasse, porém se quisesse repetí-la tinha assuntos sérios que precisavam ser solucionados. Flávia virou o rosto em minha direção quando já estava um pouco longe dela e tirou a peruca cor de rosa revelando os cabelos escuros, sorri de lado antes de lhe dar as costas.

Pink podia ser maravilhosa, porém era Flávia quem importava.

Parte do meu coração - Oneshots Flagui Where stories live. Discover now