11.4 - Esclarecimentos

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FLÁVIA

*Continuação do anterior

— A minha mãe voltou. — Contei ainda sem acreditar nas minhas próprias palavras.

— Sua mãe? — Guilherme arregalou os olhos surpreso.

— Sim, apareceu aqui enquanto você operava a Diana, não faço a menor ideia de como me encontrou, falou que queria se explicar, explicar o que Gui? Ela nos abandonou! — Disse com uma mágoa profunda na voz.

— Amor… eu sei o quanto tudo isso mexe com os seus sentimentos e quero que saiba que você e a Diana já fazem parte da minha família. — Sorri ao lembrar de quando passamos uma tarde de domingo na piscina de Guilherme pois ele queria me apresentar aos pais, Daniel e Tigrão se divertiram arrancando sorrisos da minha irmã e até Celina que não tinha ido muito com a minha cara acabou rindo, pela primeira vez eu me senti realmente parte de uma família. 

— Mas… — Guilherme continuou com os olhos focados em mim. — Acho que você deveria ouvir o que ela tem a dizer, nem que seja apenas para responder às dúvidas do seu coração, sei que é difícil, mas agora você não está sozinha, eu estou aqui! 

Sabia que ele tinha razão, porém ainda assim era doloroso encarar os fantasmas do passado, especialmente quando o fantasma recebia o nome de Paula Terrare.

— Podemos esquecer isso por hoje? Foi um dia muito agitado para nós.

— Claro que sim amor!  — Guilherme acariciou meu cabelo e depois me jogou no sofá onde iniciamos um beijo caloroso.

— Será que algum dia eu vou parar de querer te beijar a cada minuto? — Disse recuperando o fôlego.

— Se depender de mim, nunca demorei muito pra te encontrar então te farei  mulher mais feliz do mundo.

— Você já me faz doutor das galáxias! — Assegurei sorrindo.

Os dias foram passando e tudo corria bem na recuperação de Diana, Guilherme garantiu que logo ela poderia continuar o processo em casa, porém havia algo que precisava ser resolvido…

— Tem certeza disso Flavinha? — Betina questionou quando lhe contei sobre minha mãe e pedi para que ela ficasse no hospital pois eu estava indo ter uma conversa definitiva com Paula Terrare.

— Tenho, preciso esclarecer tudo. 

— Ok, vai tranquila, eu cuido da Diana.

— Maninha obedece a Beta tá bom? Eu já volto. — Beijei o topo de sua cabeça.

— Nós vamos assistir desenhos fica tranquila. — Falou em tom responsável me fazendo rir antes de sair pela porta do quarto.

O encontro com Paula fora marcado há alguns dias quando ela me procurou mais uma vez e insistiu para que eu a escutasse.

— Não quer que eu entre com você? — Guilherme perguntou ao perceber minhas mãos trêmulas quando estacionamos na frente do restaurante.

— Sim amor, é algo que eu preciso fazer sozinha. — Falei com um sorriso melancólico.

— Vou para a clínica, mas qualquer coisa você me chama e eu volto o mais rápido possível, eu te amo! Nunca esqueça disso. — Disse em tom firme e me beijou, provocando todas aquelas sensações maravilhosas que me faziam esquecer de todos os problemas.

— Te amo mais. — Declarei saindo do carro e assistindo ele se afastar.

Antes de entrar no local, puxei o ar com força e de repente a garota destemida havia se tornado apenas uma garota ferida.

Não demorou muito para que eu encontrasse uma mulher toda vestida de rosa e me aproximei, Paula parecia tensa ao colocar os olhos em mim.

— Diga logo o que tem pra dizer. — Pedi sem enrolação sentando na mesa com os olhos fixos nela.

— O seu pai sempre teve problemas com jogo, lembra-se disso? — Começou receosa.

Sim, eu me lembrava de tudo que o vício dele havia nos tirado e de como só piorou depois que ela foi embora até o dia de sua morte, quando restou apenas eu e minha irmã com um problema de coração, tive que me virar para dar algo minimamente digno para a minha irmã enquanto cuidava de sua saúde.

— Lembro. — Respondi em meio a essas recordações dolorosas.

— Ele se envolveu com gente muito barra pesada filha, foi aí que eu acabei vendo um dos homens que já tinha ameaçado seu pai pelas dívidas de jogo cometendo um assasinato, fiquei em choque e tudo piorou quando Tucão percebeu que eu havia presenciado a cena, ele me ameaçou dizendo que se eu contasse algo iria matar vocês três e me fez prometer que eu sairia da cidade, ainda garantiu que se eu não aparecesse mais perdoaria as dívidas do Juca. Não tive outra opção e acabei aceitando, menti na minha carta de despedida falando que queria aproveitar a vida para garantir que você não viria atrás de mim, fiz tudo para tentar protegê-los ainda mais depois do diagnóstico de Diana. — Explicou entre lágrimas.

As informações faziam a minha cabeça girar enquanto não conseguia parar de chorar. Tantos anos de engano e separação, sentindo falta dela todos os dias, ainda não parecia ser verdade.

— C-Como você voltou agora? — Perguntei com a voz embolada.

— Muito tempo passou minha filha, eu sabia que precisava encarar o passado, consegui me estruturar e não sou mais aquela mulher com medo, não aguentava mais ficar longe de vocês duas, cada dia que passou foi uma tortura! Voltei há uns dois meses e com alguma ajuda descobri onde encontrá-las, estou aqui agora, não vou embora nunca mais! — Garantiu sem tirar os olhos de mim.

— Depois que você foi embora meu pai se afundou ainda mais nos vícios e acabou infartando, logo após a sua morte Tucão tirou tudo que tínhamos para pagamento de dívidas, a partir daí comecei a trabalhar e compartilhar apartamento com uma amiga enquanto cuidava de Diana. — Contei ainda assimilando as suas informações, o choro continuava.

— Me desculpe filha, eu não sabia o que fazer, queria apenas proteger vocês da única forma que encontrei, lamento tanto não ter estado com vocês duas esse tempo todo! Olha só pra você, como cresceu e eu não vi nada disso. — Falou tocando meu rosto de leve, parecendo admirada.

— O Tucão morreu na cadeia depois de finalmente ser preso, não pode mais nos fazer mal, porém não restou nada do que um dia foi nosso. — Disse sobre o fato ocorrido um pouco depois da morte do meu pai, nada tiraria o vazio do meu coração, porém fiquei feliz de estar livre dele.

—  Soube disso logo que cheguei aqui e fiquei profundamente aliviada, não posso mudar o passado meu amor, mas temos um futuro pela frente! Eu, você e sua irmã, não me tire da vida de vocês agora, por favor! — Implorou segurando minha mão.

Encarei os seus olhos cheios de lágrimas e pensei em como nós duas tínhamos sofrido depois de finalmente saber a verdade ocultada por tanto tempo, não havia motivos para prolongar aquela dor.

Me levantei da mesa e ela fez o mesmo, não sei quem tomou a iniciativa, mas logo estávamos abraçadas e chorando muito.

— Que saudades mãe. — Proferi tomada pela emoção.

— Te amo meu amor, te amo muito. — Declarou me apertando em seus braços.

Era muito melhor do que qualquer um dos meus sonhos, ela estava ali, não iria me deixar!

VOLTEI! Mais uma parte pra vocês, quero ver os comentários, a próxima provavelmente será a última e eu espero que estejam curtinho esse universo, beijos ❤

Parte do meu coração - Oneshots Flagui Where stories live. Discover now