𝐂𝐀𝐑𝐃𝐀𝐍, tcp

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𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑 @staravenw @isahfdpn @agwnzvs

É Natal no reino humano, um dos feriados que eu mais gostava quando ainda morava lá, mas eu não visito aquele lugar há anos, não é como se eu tivesse alguém ou algum lugar específico para voltar, afinal. E o Reino das Fadas não é tão ruim, principalmente com Cardan ao meu lado.

— Por que tantos ingredientes, você vai cozinhar para o reino todo? — Cardan pergunta, segurando uma garrafa de vinho na mão.

— Algumas receitas são mais elaboradas e precisam de vários ingredientes.

Ele dá um gole no vinho e se senta em uma cadeira um pouco distante da mesa cheia de ingredientes. Como as comidas de ambos os reinos são diferentes, tive que me esforçar para conseguir algumas especiarias, mas acabei encontrando muitas coisas.

Pego duas maçãs de uma cesta de frutas e as corto em fatias finas, mantendo a casca da fruta. A massa da torta já estava no forno e então eu poderia focar no preparo da calda especial de maçã que o meu pai me ensinou a fazer há muito tempo. Sinto falta dele todos os dias, especialmente dos nossos momentos na cozinha.

— Sua mãe não vai te ajudar? — Cardan diz, soando completamente bêbado.

— Você sabe, ela é uma fada, não é muito ligada aos costumes humanos, antes ela só se esforçava para agradar o meu pai. — Faço uma pausa para colocar as maçãs em uma panela. — Ela sabe como ele gostava dessas datas...

— Mas agora que ele morreu, ela não se importa. — Ele completa minha frase.

— Exatamente. — Esboço um sorriso triste.

Cardan avalia minha expressão e então se levanta da cadeira, deixando o vinho de lado e se aproximando dos diversos ingredientes da enorme mesa. Tinham muitas frutas ali, meu pai sempre gostou de usar frutas nas receitas, então trouxe todas que consegui encontrar. Além de especiarias diversas, farinha, ovos e confeitos para a decoração dos biscoitos.

— Vou te ajudar com os preparativos. — Cardan fala, parecendo muito confiante.

— E desde quando você sabe cozinhar? Aliás, tem alguma coisa que você saiba fazer? — Respondo assim que retiro a massa do forno, sorrindo ao perceber que ela está dourada e cheirosa assim como as que o meu pai costumava fazer.

— Eu sei fazer muitas coisas. — Rebate, convencido.

— Me dê um exemplo. — Peço, entre risos. Cardan é péssimo em quase tudo.

— Eu sei beber vinho, sei onde encontrar as melhores bebidas e outras coisas.

— Quanto talento, em.

— Além do mais, você pode me ensinar, será bem melhor do que fazer tudo sozinha.

Realmente, era bem melhor ensiná-lo do que fazer todas as receitas sozinha, ainda precisava fazer muitas coisas. Vou até o armário e pego um avental em uma das gavetas, jogando-o na direção dele. Reviro os olhos assim que ele o coloca e perde alguns minutos se admirando em um pequeno espelho colocado ao lado de uma enorme cristaleira de madeira.

— Até usando um avental eu continuo lindo — diz enquanto dobra as mangas da camisa preta cuidadosamente e caminha até mim.

— Não posso negar — deixo um selinho rápido nos lábios dele antes de me voltar para a calda de maçã. — Coloque um pouco de farinha na mesa e abra a massa dos biscoitos de canela, tem algumas forminhas ali, você pode usá-las para cortar os biscoitos.

Cardan vai até a mesa e eu volto minha atenção para a calda que já estava quase pronta. Pego a massa da torta já assada e jogo o melado por cima, peneirando um pouco de açúcar também. Estava quase tudo pronto, as carnes só precisavam terminar de assar, além dos biscoitos de canela que Cardan havia acabado de começar. Assim que me viro para ver como ele está se saindo, encontro o chão da cozinha completamente coberto de farinha, assim como ele, que tinha pó branco espalhado pelo rosto e até no cabelo.

— O que você fez?

— É que... a farinha voa com o vento. — Ele encara a janela, torcendo o rosto quando nota que ela está fechada.

— Ah sim, a farinha caiu sozinha. — Uso todo o meu sarcasmo para respondê-lo.

— Sim, olha só como ela voa com o vento. — Ele pega um punhado na mão e, em seguida, sopra no meu rosto. — Viu como ela voa com o vento?

Fecho os olhos por alguns segundos para me acalmar, precisava fazer isso ou então acabaria agarrando Cardan pelo pescoço e o enforcaria por longos minutos. Apesar de toda a bagunça espalhada caoticamente ao nosso redor, não demorou muito para que caíssemos no riso. Pego o primeiro guardanapo que vejo e começo a limpar um pouco da farinha espalhada pela mesa, algumas formas de torta com restos de massa assada estavam acumuladas na pia, o chão estava coberto por farinha e o fogão encontrava-se tão imundo quanto, mais tarde eu teria que dar um jeito em toda essa sujeira.

— Vamos terminar isso — vou até a mesa, cortando a massa com as forminhas com formatos de coração, bonecos e árvores.

Cardan me imita em cada processo e, depois de uma hora, finalmente levamos os biscoitos ao forno. Enquanto o fogo fazia seu trabalho, arrumamos um pouco toda aquela bagunça e organizamos a mesa com glacês de diversas cores para decorarmos nossos doces. Escolho decorar algumas árvores e alguns bonecos de neve enquanto Cardan decora os corações, mas rapidamente nos rendemos ao cansaço e sentamos juntos no chão.

— Esse é para você — ele estica um biscoito de coração em minha direção, coberto com glacê preto e nossas iniciais escritas em dourado bem no meio dele. Ficou um pouco desajeitado e torto, mas mesmo assim estava bonito. Como um pedaço e entrego o outro para ele, que aceita de bom grado.

— Foi bem divertido — deito minha cabeça em seu ombro, sentindo ele aproximar a própria cabeça da minha.

— Talvez isso se torne uma tradição para mim também — ele me encara. — O reino humano é estranho para mim, mas tenho certeza que vou conseguir amá-lo se você estiver ao meu lado para me mostrar o melhor que ele tem a oferecer.

— Farei isso com muito prazer.

Continuamos sentados por um tempo no meio da cozinha inteiramente desorganizada, rindo de besteiras que ambos dizíamos e comendo biscoitos cheios de canela, açúcar e glacê colorido.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora