𝐅𝐈𝐍𝐍𝐈𝐂𝐊 𝐎𝐃𝐀𝐈𝐑, jogos vorazes

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Afundei a cabeça no travesseiro macio e fechei os olhos, agarrando os lençóis da cama com força quando senti uma lágrima solitária deslizar pela minha bochecha. Dormir tinha se tornado um desafio depois de todas as mortes e brutalidades que vivenciei na 73ª edição dos jogos. Minha família foi amaldiçoada duas vezes, mas felizmente minha avó Mags venceu a edição em que participou, assim como eu ganhei a minha. A vitória soava como uma benção para mim porque, apesar daquele show de horrores parecer um teste grátis para o inferno, eu não queria morrer ali. Minha vida não era um brinquedo e eu me reviraria no túmulo se morresse dentro daquele lugar, a Capital nunca teria o prazer de disparar um tiro de canhão em minha homenagem e muito menos exibir meu rosto em um anúncio de morte ridículo.

A turnê da vitória também foi uma espécie de tortura, mas finalmente tinha acabado e fui dispensada por um tempo, pois nem a maquiagem conseguia mais esconder o quanto os jogos me afetaram, a olheira em volta dos meus olhos deixava meus traumas mais do que evidentes. Eu tinha vencido, mas perdi uma parte de mim ao mesmo tempo. Nunca mais seria a mesma, principalmente depois de ter embarcado nisso tudo com o meu melhor amigo, que nem ao menos hesitou ao levantar uma faca em minha direção após o início dos jogos. Eu confiei nele e quase acabei morta por isso, mas jamais cometeria o mesmo erro novamente, foi o que prometi a mim mesma depois que o matei usando um chicote elétrico. Tentei lutar contra o sono, mas meu corpo não conseguia mais lidar com o cansaço acumulado e acabei dormindo.

Ethan.

Ethan.

Ethan.

Gritos vindos de uma curta distância de onde eu estava me fizeram acordar e, quando abri os olhos, me deparei com o céu azul brilhando acima de mim, a grama pinicava minha pele e minha mochila cheia de suprimentos estava jogada ao meu lado. Pisquei os olhos com força, completamente confusa. Como posso ter dormido na minha cama e ter acordado aqui? Minha mente estava me pregando peças e tudo não passou de uma ilusão? Foi um escape que meu cérebro criou para me manter minimamente sã? Eu me recusava a aceitar. Eu tinha vencido, estava salva e perto da minha família, então por que acordei aqui? Mais gritos soaram, dessa vez mais altos e mais próximos, mas foram os tiros de canhão que me fizeram levantar depressa e correr na direção oposta.

Passei a mão em um dos meus braços e notei uma pequena mancha vermelha que parecia com uma picada de inseto. Não me lembrava de ter visto um bicho me picar, mas eu me encontrava dentro de uma floresta, então a possibilidade de eu não ter notado era enorme, e alguns fragmentos de memória me fizeram pensar em teleguiadas repentinamente. Corri sem olhar para trás, desesperada para encontrar Ethan, meu melhor amigo, e planejar algo para matar quem ainda estivesse vivo.

A última coisa da qual eu me lembrava era de ter saído de um esconderijo que ele e encontramos juntos, era camuflado por muitas folhas e se alguém quisesse encontrar o pequeno lugar teria que se dedicar bastante. Mesmo que me esforçasse, não conseguia me lembrar se Ethan realmente estava lá, minha única lembrança perfeitamente lúcida dele era do início dos jogos, onde conseguimos algumas armas e nossas mochilas, o restante das memórias era uma bagunça, então deduzi que ele só poderia estar no esconderijo.

Alguns trovões chamaram minha atenção e olhei para cima, encontrando um céu completamente nublado. Não demorou muito para a chuva cair e em pouco tempo eu estava totalmente encharcada. Continuei andando até o lugar secreto enquanto o clima piorava e de repente percebi que minha visão estava embaçada devido à chuva que engrossava a cada minuto. A cegueira me apavorou e acabei pisando em um tronco estraçalhado no chão, escorregando e batendo a cabeça com força em uma pedra. A tontura me atingiu rapidamente, me deixando em uma situação ainda pior e mais desesperadora. Fiz esforço para levantar e gemi de dor, sentindo o meu corpo pesar por culpa da lama espalhada por toda a minha roupa, pele e cabelo. Uma mão apareceu no meu campo de visão e quando virei para o lado encontrei Ethan parado ali, segurando uma machadinha com a outra mão.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, universo literário [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora