3. Verdades

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Por favor, que não sejam os pacificadores, quer dizer, os seguranças do distrito levando-o embora. Que ele esteja apenas tendo um sonho, um sonho muito ruim! Por favor, por favor.

No andar debaixo avisto meu arco. Bem, se ele está em apuros ou não, prefiro não descobrir na hora. Do meu canteiro consigo ver Haymitch analisando a casa do Peeta pela sua janela, ele se espanta ao me ver e balança a cabeça negativamente. Aquele gesto me intriga, contudo nada me conterá neste momento. Raras foram as vezes em que visitei o Peeta, entretanto, se tratando da Aldeia dos Vitoriosos, todas as residências têm a arquitetura igual. Abro da porta do seu quarto com mais força do que pretendia, libertando-o não dos seguranças, mas do próprio pesadelo.

Caído no chão de tanto se debater, Peeta me encara alarmado demais. Percebo suas pupilas dilatadas e sua expressão... Muito estranho, pensei que os remédios estivessem ajudando-o. Ele continua me olhando sem acreditar no que vê. Ponho meu arco e aljava aos meus pés e lentamente me aproximo dele. Não posso deixá-lo naquele estado, ele precisa de mim. Em meu primeiro passo em sua direção, pude associar seu semblante com o das minhas presas fisgadas na floresta. Puro terror. Quanto mais eu me aproximo, mais ele se espreme contra a lateral da cama.

– Por favor, não me machuque... - Peeta diz baixinho, pegando-me totalmente desprevenida. Com certeza não era isso que eu esperava. Um sorriso, alívio...? Talvez.

– Peeta... Que? Eu jamais faria algo que pudesse te... - Então eu me silencio, pois dizer que eu jamais o machucaria não seria bem uma verdade.

– Vai embora! Por favor... Vai embora! Por que você fez isso? Por que Katniss? - Ele diz, só que dessa vez gritando, inesperadamente fora de si. Levo dez segundos para tirar os olhos daquela cena e muito confusa, pego minhas coisas, mas antes de dar o fora dali, o mais depressa possível, vejo-o com as mãos no rosto e suas unhas fincadas na pele ainda sensível.

Como sempre, em situações como está eu corro para a floresta. O único lugar que consegue me acalmar de verdade. Eu não esperava encontrar o Peeta naquele estado. Realmente acreditei que ele estava tomando os remédios como o dr. Aurelius havia dito, contudo ignorei completamente o fato de que algo não estava normal. A questão é: o que o perturba?

No interior da floresta percebo que esta é a primeira vez que volto aqui depois da guerra. Mesmo na pior das hipóteses, no pior dos momentos, este lugar sempre será meu santuário. Caminho sem rumo, inspirando lentamente, prestando atenção nos movimentos ao redor, tentando controlar minhas emoções, meus pensamentos, minhas especulações.

Meus pés me trouxeram, curiosamente, até à minha pedra de encontro com Gale. Sento-me no mesmo local e contemplo o sol. Observo o tom laranjado, lembrando que esse não é o tom favorito do Peeta...

– Ótimo jeito de começar o dia. Parabéns Katniss, você tem um incrível poder destrutivo sobre as pessoas, principalmente sobre o Peeta! - Digo para mim mesma com rancor.

Eu posso fazer o que for, mas nunca conseguirei mantê-lo a salvo, pois eu sou o seu maior inimigo, toda a sua dor, eu sou o seu monstro. A bestante criada pela Capital. Teria sido muito melhor se eu tivesse engolido aquelas amoras cadeado. Enxugo uma lágrima e olho para o lado e vejo a ironia encarando-me plantada a cinco metros de distância. Essas, definitivamente, são as mesmas que o Peeta colheu na primeira edição dos Jogos Vorazes. Eu poderia engoli-las e a morte não demoraria a chegar. Neste momento, seria muito bem-vinda, visto o estado deplorável da minha vida... Contudo, infelizmente, não posso fazer isso. Eu mereço sofrer e morrer seria fácil demais, bom demais. O que o dr. Aurelius diria sobre esse meu pensamento suicida? Muito provavelmente eu seria mandada diretamente para a Capital, por medida de segurança pessoal. Bem, como eu nunca converso com alguém sobre assuntos dessa natureza, na verdade, eu raramente converso com alguém, então ele nunca saberá. Além do mais, tenho minha mãe, não poderia fazer isso com ela. E tem Haymitch, que de um jeito muito torpe, acabou sendo parte da minha família. Tenho que manter um olho nele, bem mais do que ele em mim. Quanto ao Peeta, o melhor que eu posso fazer é me afastar, o máximo possível. Só assim ele estará seguro, visto que desde o principio, eu fui o perigo. Agora sofro as consequências.

Jogos Vorazes: O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora