14. Exceção

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Pego a corrente com os dedos um pouco trêmulos. Analiso a disposição da pérola acoplada delicadamente como um pingente. Giro-a como tanto fiz anteriormente. Por diversas vezes ela foi minha terapia, meu consolo. O símbolo da minha ligação com Peeta. Meu amuleto perdido, comigo de novo. Fecho-a firmemente em minha mão e fito o azul profundo dos olhos dele, agradecida por ter de volta algo tão importante. Peeta estende a mão e enxuga todas as lágrimas que não percebi ter derramado. Ponho minha mão sobre a dele no meu rosto, enquanto um sorriso choroso forma-se em meus lábios. Peeta solta um pequeno riso de alívio, então se aproxima mais de mim. Sem esperar ou hesitar, subo para o colo dele, afundando meu rosto no seu pescoço e o abraço. Aos poucos vou sentindo seus braços me envolverem e depois sua cabeça encostar-se à minha.

Entreabro meus olhos e vejo que o sol desceu completamente, deixando apenas os últimos raios do dia para trás.

- Você nem prestou atenção no tom alaranjado que ficou o horizonte. – Comento baixinho.

- Prestei sim. É a coloração mais bonita que já pude ver. Penso em quanto tempo vai levar para eu descobrir o tom certo.

- Mas como você pode ter visto, se você não tirou os olhos de mim? – Pergunto levantando o rosto para olhá-lo.

- Verdade, eu só via você e assim pude presenciar um tom de laranja tão intenso e reluzente apenas olhando para sua pele, seus olhos e lágrimas. Os céus podem colorir o tom laranja que for, mas a perfeição eu encontrei em você. – Peeta responde com simplicidade.

Eu deveria revelar todos os sentimentos entalados dentro de mim, deveria de uma vez por todas assumir o óbvio. Todavia neste momento eu, miseravelmente, não consigo. E apenas sorrio bobamente como se isso pudesse se equiparar às poesias proferidas por ele. Posso ser qualquer coisa, menos a perfeição que ele descreveu. E é pensando nisso que eu começo a analisar que eu realmente não o mereço. Sinto na boca o gosto de uma profunda amargura. Vejo Peeta franzir o cenho intrigado com minha reação, então desvio o olhar do dele.

- Desculpa se eu disse algo que lhe incomodou, eu apenas quis dizer que...

- Não Peeta, não é isso. Muito pelo contrário. Eu apenas percebi que Haymitch tem razão. – Digo chateada e contrariada.

- Sobre o que? O plano?! – Peeta questiona aflito.

- Não, ele estava totalmente errado sobre esse plano idiota. Eu me referia... – Começo a dizer, mas me contenho. Olho para os lados a procura de auxílio. Incito-me para sair do colo dele, entretanto sou impedida por seus braços que me mantem presa. Peeta força uma resposta através do olhar. – Haymitch sempre me disse que eu não o mereço e por conta disso e de outras coisas eu procurei me afastar de você, para que você fosse feliz com... Com outro alguém. Mas analisando tudo, percebo que ele tem razão, eu não o mereço, não sou perfeita para você.

A cada frase emitida foi como uma tapa dada na cara dele. Sua expressão foi da incredulidade à ira em segundos. Ele abriu a boca para falar e logo a fechava, sem palavras, pela primeira vez. Acho que eu o deixei indignado.

- Katniss, - Peeta diz controlando a voz. – nunca mais repita que você não me merece, que vou ser feliz com... – Ele suspira exasperado. - Por favor, Katniss.

Peeta fecha os olhos e observo sua expressão magoada, ferida, inconformada. Arrependida em tê-lo machucado, com desespero eu tento me retratar. Por mais que eu ache que ainda não o mereço, eu engulo qualquer achismo pessoal apenas para tirar essa dor que acabei infligindo nele. Toco sua bochecha com minha mão, relutantemente Peeta abre os olhos e me encara. Caricio sua face com meu polegar e aos poucos deixo minha mão cair pelo seu corpo até chegar ao seu coração. Ele sobe o braço de apoio nas minhas costas para mais perto da minha cabeça e me beija fortemente com os lábios selados, uma, duas, três vezes. A cada beijo uma intercessão, um pedido para que eu não repetisse aquelas palavras.

Jogos Vorazes: O DespertarWhere stories live. Discover now