8. Desenhos

1.8K 81 61
                                    

Gale responde ao meu beijo com seus lábios calorosos. Se o clima frio tem algo haver com o calor que emana da boca dele, eu nunca vou saber. Gale entrelaça seus dedos nos meus cabelos prendendo-me. Fecho os olhos com força. Meus lábios raivosos consumem os dele. Toda a tristeza que estava sentindo transforma-se em ira, desilusão, agonia. Mordo seu lábio inferior. Ele resmunga de dor. E ainda assim não largo. Abro meus olhos e encontro os seus. Aos poucos, Gale consegue retirar sua boca da minha. Coloca minha trança para traz e se afasta um pouco.

– Katniss... – Ele diz baixinho.

– Eu sei. – Respondo. Não devia ter sido assim, seja lá como Gale imaginava meu primeiro beijo espontâneo nele, com certeza não era dessa forma.

– Não, você não sabe! Na verdade, você não faz ideia de nada que está acontecendo. – Gale me contradiz consternado com a raiva beirando sua voz.

– Como que eu não sei de nada?! Tudo está acontecendo a minha volta Gale, você chegou há apenas dois dias, então não venha me dizer que não sei o que se passa comigo ou na Aldeia dos Vitoriosos. – Digo tentando manter o autocontrole, tentando convencê-lo de algo que nem eu mesma tenho tanta certeza.

– Você não consegue nem convencer a si mesma do que diz. – Gale senta-se na cama e balança a cabeça em negação. – Você pode ser boa com coisas objetivas e óbvias Katniss, mas não tem capacidade para entender as entrelinhas.

Bufo desdenhosamente e levanto para sentar-me na cadeira próxima da janela. A lembrança do sonho da noite passada invade minha mente. Gale aceita meu beijo e depois vem me falar de entrelinhas. Ele não podia ter aceitado sem reclamar? Por que as pessoas sempre querem questionar minhas atitudes?

– Você não sabe o que está falando. – Digo calmamente.

Desvio meu olhar da paisagem da janela e olho-o, ele está com as feições impassíveis. Mas Gale não me engana, ele está planejando algo. Volto novamente minha atenção para a janela. Observo a casa de Peeta.

– É isso que você acha, mesmo? – Gale pergunta com arrogância. Eu o ignoro. Ele se aproxima da minha cadeira. – Não sei se fico feliz ou triste por ter vindo para cá, em um momento tão conflituoso para você. Mas se for para escolher, digo que estou feliz. – Gale conseguiu minha atenção. Volto meu olhar para ele.

– Você está feliz com o meu sofrimento? – Pergunto intrigada.

– Não! Claro que não. Não é isso. – Gale apressa-se para explicar. - Olha, eu não sei qual é a do Peeta, só sei que a cada encontro de vocês, seja ocasional ou não, você se magoa.

– E você está feliz por ele me magoar?! – Pergunto começando a me indignar.

– Quer me deixar explicar?! – Ele retruca um pouco revoltado também. Se fosse em outra situação até que eu riria disso, só que não é o caso. – Quero dizer que, toda vez que aquele imbecil lhe machuca, você procura se afastar de tudo, você é uma sobrevivente e isso requer parar e bloquear todas as coisas que são ruins para você. Então, chegará o dia em que você o rejeitará por completo e, é aí que reside minha felicidade, isso não demorará muito para acontecer! E eu vou estar por perto quando você estiver pronta. Hoje, você me beijou. Não do modo que eu gostaria que fosse, por isso a minha raiva no início, mas sou paciente, sou um caçador, assim como você. Procuramos o melhor. Na próxima vez que você me beijar, não será apenas para extravasar sua raiva, será muito além.

Enquanto Gale falava, eu recapitulava tudo o que aconteceu desde que voltei para o Distrito 12. Desde que cheguei Peeta pouco fez para me ajudar, muito pelo contrário, convidou Delly para sua casa. Haymitch tampouco está do meu lado. Não me restou ninguém, apenas Gale, que se mantem firme ao meu lado, esperando-me ficar pronta. Esperando-me dizer sim. Então, percebo que eu estava enganada sobre uma coisa. Ele sempre soube de tudo. E o pior, ele me conhece o suficiente para entender como eu funciono. Logo, ele tem razão.

Jogos Vorazes: O DespertarOù les histoires vivent. Découvrez maintenant