•1- Inferno no Inverno•

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Selene Pov

_flashback on_

17 anos antes

-Vamos lá mamãe,quase lá,só mais um pouco e ele já nasce!

Minha mãe estava em trabalho de parto a cerca de 10 horas. Ela estava exausta. Eu estava exausta. Todos na casa estavam exaustos.

Meu pai andava de um lado pro outro, preocupado. Segundo ele:

- Isso já está indo longe demais, seu irmão e você não demoraram tanto assim para nascer! Isso não deve fazer bem para Cerise e nem para o bebê.

Ele repetia isso a cada minuto que se passava. Como se eu não soubesse que minha mãe e meu irmãozinho corriam grave risco de vida.

E o bebê escolheu a pior semana para vir ao mundo. Já estávamos sofrendo com uma terrível tempestade de neve a cerca de dois dias. Era tanta que cobriu nossa única porta.

E ninguém seria idiota o bastante pra sair lá fora com essa tempestade. Então,eu mesma tenho que fazer o trabalho de uma parteira.

Meu pai poderia ter o bom senso de ajudar,até mesmo ficar ao lado de sua esposa seria bom,porém ele prefere ficar preocupado, perambulando pela casa, tapando o caminho de Kari,que me ajudava trazendo mais água e panos limpos.

Eu já estava ficando maluca com os gritos de dor da minha mãe,que ecoavam pela nossa minúscula casa a cerca de 12 horas.

Minha mãe estava totalmente esgotada,dava pra ver no rosto dela que preferia que cortássemos sua barriga para retirar a criança.

Mas eu nunca deixaria minha mãe e meu irmão morrer daquela maneira.

- Só mais uma vez mamãe,já consigo ver a cabeça!

Pude ver por cima do pano que ela se ajeitou para fazer sua força final,para dar tudo que tinha para salvar seu filho. Meu irmão correu para ajudá-la e segurar sua mão. Senti meu pai se posicionar atrás de mim para ver seu caçula nascer.

E então minha mãe deu um grito que poderia mover montanhas de tão forte que foi.

E logo em seguida,o som de um choro meio engasgado ecoou pela casa.

Era um menino.

Eu tinha ganhado um irmãozinho.

Segurei ele com todo o cuidado do mundo e o entreguei para minha mãe.

O olhar que ela lançou para aquele menininho ao ver seu rosto,foi o mesmo que ela sempre lançava para mim e Kari quando voltávamos machucados das nossas brincadeiras.

Era cheio de ternura e amor.

Meu irmão se afastou dela,dando espaço para meu pai que exibia um sorriso cansado no rosto. Apesar de não ter ajudado em momento algum,ele passou as últimas 12 horas em pé, andando de um lado para o outro.

-Nanuq- minha mãe sussurrou

- O quê?- perguntou meu pai,que estava focado um observar o pequeno pacotinho branco como a neve nos braços de minha mãe

- Ele vai se chamar Nanuq.

Meus pai sorriram para o bebê que chorava.

Nanuq, pensei, significa Urso Polar.

Já vi um,uma vez quando voltava de uma guerra de bolas de neve no lago congelado. Nunca mais desejo topar um na minha vida, são assustadoramente grandes.

.

Dois dias,dois dias e nossas vidas estão se transformando em um inferno em plena Corte Invernal.

Tudo ocorreu bem um dia após o nascimento de Nanuq. Mais agora, minha mãe está com uma febre terrível e a porcaria daquela tempestade não parou.

Mesmo com panos gelados em volta de todo o seu corpo,e eu e meu irmão usando nossos poderem para mantê-la resfriada, enquanto nosso pai cuida do bebê, não funciona. A febre aumenta a cada minuto que passa.

- Seli, - Kari me chama para um canto- não há mais nada que possamos fazer, não somos curandeiros, não podemos sair se não morreremos congelados,e a febre não dá sinal de que vai baixar...

- Eu sei que estou morrendo.- minha mãe sussurra de sua cama,eu e meu irmão vamos até ela- Eu sei que não tenho muito tempo de vida. Sei que estou morrendo por conta do parto,muitas outras fêmeas já morreram por isso...- ela tossiu- não estou com medo- uma lágrima escore de meu rosto- E eu só peço,que cuidem do seu irmão como cuidei de vocês durante todos esses anos. Amo você dois,daqui até a lua.

Eu e Kari nos debruçamos sobre ela para abraça-la.

- Tragam Nanuq para mim,por favor. Quero ver meu filho por uma última vez.

Vou até meu pai e pego meu irmãozinho com toda a delicadeza que consigo. Meu pai franze o cenho para mim. Apenas aceno com a cabeça em direção de minha mãe.

Ele compreende de imediato. E se levanta também.

Minha mãe abraça seu bebê e olha nos olhinhos azuis acinzentados pela última vez. Sussurra alguma coisa em seu ouvido, beija sua testa e o entrega para Kari.

Então se vira para meu pai,que está cheio de lágrimas nos olhos.

- Bóris- ela sussurra- prometa para mim,que irá cuidar dos nossos filhos,que não deixara nada faltar para eles.

- Prometo meu amor- ele diz entre lágrimas- Eu te amo tanto Cerise, não posso viver sem você.

- Sei que vai conseguir seguir em frente sem mim- ela sussurra- Também te amo Bóris.

Meus pais trocam seu último beijo. Um beijo de despedida,um último olhar,um último toque.

Meu pai se debulha em lágrimas e permanece com minha mãe pelas próximas horas.

Até ela dar seu último suspiro enquanto dormia.

.

Uma semana sem minha mãe.

E parece que meu pai não sobreviverá por muito mais tempo.

Ele não come,ele não bebe, não fala.

Passa o dia dormindo.

Deveria ter imaginado que quando minha mãe morresse,ele definharia até a morte.

Só não esperava que fosse tão rápido.

Vou até seu quarto com uma tigela de sopa nas mãos,sei q não irei conseguir fazer ele comer,mais não custa nada tentar.

Abro a porta com um leve baque. Estranho. Meu pai deveria pelo menos ter se virado na direção do barulho, como sempre faz.

Sento na cama e seguro sua mão.

Ele ainda não se mexe.

E então percebo uma coisa que estava ocupada demais para perceber,ele não respira.

Acho que foi pelo susto,ou o choque de perder mais alguém.

Mais não consegui conter um grito.

Kari, que estava voltando da caçada, escuta meu grito e vem correndo em meu auxílio.

Ele para na porta do quarto e olha para nosso pai e depois para mim.

Não preciso dizer uma palavra para que ele entenda o que aconteceu.

Seria apenas nós três agora, eu,Kari e Nanuq contra o mundo.

.

.

.

Olá povo lindo!!

Foram mais de mil palavras já no primeiro capítulo, sem or🥵

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Beijus da Tia Isa!!❤️

( Revisado)

A Corte de Estrelas Congeladas (ACOTAR+TOG)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora