dois.

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LOUIS.

   

PELA PRIMEIRA VEZ desde que tomei um avião em Londres,
comecei a pensar se havia agido errado. Eu não era assim. Tinha tendência a tomar decisões rapidamente, mas não era do tipo que depois se angustiava pensando se havia feito a coisa certa ou não. Eu confiava em meus instintos.

   Então, semana passada, quando meus instintos me disseram para deixar de sonhar em me mudar para os Estados Unidos e tomar uma atitude para que isso acontecesse, foi isso que eu fiz. Comprei passagem, pedi demissão e fiz as malas. Pensando agora, eu provavelmente deveria ter planejado as coisas
um pouco melhor. Um amigo de um amigo – um cara chamado Jake – deveria ter vindo me buscar no aeroporto, mas eu estava do lado de fora do terminal internacional do Aeroporto de Los Angeles fazia pelo menos duas horas e ele ainda não havia aparecido.

Eu torcia para que não houvesse nada de errado, mas começava a achar que deveria usar o Plano B. Não que eu tivesse um Plano B. Praticamente tudo dependia do Jake. Ele havia encontrado um apartamento para mim, e eu já havia transferido a ele o dinheiro de um mês de aluguel. Eu não havia gostado da ideia de pagar por algo sem ver antes, mas Jake dissera que, se eu não agarrasse a oportunidade, outra pessoa agarraria, e ele não sabia de nenhum outro lugar que eu pudesse alugar por um valor tão baixo, principalmente tão em cima da hora.

   Eu disse a ele que ficaria com o apartamento e enviei o dinheiro.
Mas não perguntei o endereço.
Foi um erro. Chequei meu telefone mais uma vez, como se, num passe de
mágica, ele tivesse recarregado sozinho em meu bolso. Continuava
sem bateria. Infelizmente, em minha pressa de partir, eu havia esquecido de colocar o carregador na mala.
Outro erro. Não aguentando mais continuar ali, atravessei a rua e peguei um táxi.

    – Vai para onde? – o motorista perguntou.

   Bem, dane-se.

   – Para o centro – decidi, resolvendo que encontraria algo para comer
em algum lugar e talvez conseguisse carregar meu celular. Com sorte,
Jake ligaria nas próximas horas. Se não ligasse, eu teria que passar a
noite em um hotel. Seria absurdamente caro e eu não queria gastar tanto dinheiro em uma noite, mas não via outra solução. Levou um bom tempo para chegarmos ao centro – o trânsito estava péssimo. Eu cochilava pela terceira vez quando o motorista falou.

   – Qual é o endereço? – Ele olhou para mim pelo retrovisor e eu pisquei algumas vezes.

   – Hã… nenhum endereço específico. Alguma sugestão de bar ou restaurante por aqui?

   Ele coçou a cabeça com o polegar.

   – O Blind Pig é bem popular.

   – Blind Pig? – repeti, um pouco confuso. Talvez as palavras tivessem um sentido diferente do que eu imaginava. Meu inglês era britânico, e tinha muito sotaque.

   – É outro nome que davam para os estabelecimentos que vendiam
bebidas alcoólicas ilegais durante a Lei Seca.

   – Ah. – Rapidamente, saquei meu caderno da mala e anotei aquele
termo. Eu queria ser roteirista, então precisava não só melhorar meu
inglês americano, mas também aprender aquelas peculiaridades culturais que tornariam meus roteiros autênticos. Enquanto isso eu continuava como médico neurocirurgião.

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