doze.

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LOUIS.

    EU VI. Através do vidro, eu vi.

   Eu estivera observando as roseiras, vendo o que precisava ser feito, quando percebi que precisaria de luvas para poder começar. Conforme avancei na direção da casa, vi Harry através da porta de vidro do quintal e decidi bater.

  Então, me aproximei e notei que ele segurava o moletom que eu havia usado. Estava com o rosto enterrado nele.

   Primeiro, achei que fosse ilusão de ótica causada pela luz refletida no vidro, minha mente fantasiando com o reflexo.

   Mas pisquei várias vezes e ele continuava na mesma posição.

   Meu coração bateu mais rápido.

   Por que um homem cheiraria a roupa de outro homem daquele jeito se não fosse para tentar sentir o cheiro dele?

   Senti um frio na barriga. Mas, em vez de ficar parado lá, correndo o risco de ser pego, decidi olhar para o outro lado enquanto batia no vidro. Fazer com que pensasse que eu não tinha visto nada. A outra opção teria sido estranha demais para nós dois.

   Felizmente, eu era um bom ator. Perguntei a ele sobre as luvas sem nenhum tremor na voz e consegui me manter impassível. Ele, por outro lado, tinha as bochechas muito vermelhas e evitou contato visual.

   Eu nunca o tinha visto tão perturbado. Ele saiu e foi até a garagem sem nem olhar na minha direção.

   Quando encontrou as luvas e as entregou a mim, já parecia recomposto, em seu estado natural. Disse o que queria que eu fizesse no quintal como um todo, quais eram as prioridades do dia e onde estavam as ferramentas. Escutei, fiz perguntas e garanti que era capaz de fazer tudo o que ele queria, mas, em minha mente, só conseguia vê-lo enterrando o rosto naquele moletom.

   Fiquei obcecado com aquilo a tarde toda, acrescentando todos os detalhes significativos – a inexistência de uma namorada ou esposa. O momento estranho na cozinha, quando passou pela minha cabeça aquela ideia doida de que ele poderia me beijar.

   A forma como olhou para mim na noite anterior, em meu quarto. Talvez eu não estivesse maluco.

   Será que eu havia sentido uma química entre nós? Será que a atração era recíproca? Será que ele estava cheirando aquela blusa pelo mesmo motivo que eu aceitara suas roupas emprestadas na noite anterior – para viver a ilusão de intimidade sem que tenha havido de fato um toque físico?

   Naquela manhã, eu teria dito que não era nada daquilo. Agora começava a duvidar.

   [...]

   QUANDO HARRY VOLTOU do mercado, levou as compras direto para a casa, sem nem olhar na minha direção. Ele passou a tarde toda cozinhando e preparando o jantar sem me dirigir a palavra, embora a
certa altura tenha feito para mim um sanduíche e batatas fritas que deixou na mesa do pátio – uma mesa de madeira comprida com um banco de cada lado. Ao lado do prato, deixou um copo grande de água gelada. “ Almoço”, gritou para mim antes de voltar para dentro.

    Agradecido, fiz uma pequena pausa para comer e descansar e, quando terminei, deixei o prato e o copo na mesa, pensando em levar tudo para dentro quando acabasse o serviço. Mas pouco depois, olhei para a mesa e descobri que ele já os havia levado.

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