quinze.

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HARRY.

    CULPA. Vergonha. Raiva.

   Deitei de costas, olhando para o teto do quarto e me sentindo angustiado.

    Que merda eu havia feito?

   Você enfiou vinte anos de desejo reprimido e frustração sexual na goela de outro cara, foi isso que fez. E depois o deixou de joelhos no chão da cozinha sem lhe dizer uma palavra. Era tudo minha culpa. Eu era uma pessoa terrível.

   Eu não devia tê-lo agarrado. Não devia tê-lo beijado. Não devia tê-lo deixado me tocar daquele jeito. Não devia ter gostado de sentir sua boca em mim. Não devia ter perdido o controle. Não devia ter tido o melhor orgasmo da minha vida com outro cara.

   Mas eu tinha feito tudo aquilo. E jamais havia sentido nada
parecido. Por quê? Não que eu não tivesse recebido bons boquetes de
mulheres antes – pelo menos, eu achara que tinham sido bons.

   Mas, Louis levou a coisa a outro nível. Foi quase uma experiência extracorporal. Ele era mesmo tão bom assim? Ou era a ideia daquilo tudo que tornava a situação tão sensacional? A ideia de que eu estava cedendo a um desejo proibido só daquela vez, e que nunca mais faria
aquilo de novo?

   De qualquer forma, eu não podia negar que fora intenso. Muito intenso. As malditas paredes tinham tremido.
Fraco. Eu era tão fraco. Como podia ter deixado aquilo acontecer?

    Não que eu fosse gay. Eu sentia atração por mulheres também. E queria uma família tradicional – uma esposa e filhos. Eu não queria um namorado, cacete. Aquilo era ridículo. Eu devia levar um cara para casa e apresentá-lo aos meus pais? Levá-lo a jantares com clientes? Piqueniques da empresa? Eventos beneficentes corporativos? Meu pai passaria sua empresa para alguém que considerasse menos homem? Inferior a ele? Menos que perfeito? Nem fodendo.

   E eu havia dado duro demais para abrir mão de tudo.

   Se pelo menos transar com mulheres fosse mais satisfatório. Talvez, meu problema fosse aquele. Não é que eu não gostasse, mas, de algum modo, não importava quão linda ou ávida ou apaixonada fosse a
mulher, não importava o quanto ela quisesse me agradar, não importava quão selvagem fosse o sexo, eu sempre me sentia vagamente
insatisfeito.

    Era como se houvesse mais e eu nunca conseguisse chegar lá. Era como se as paredes tivessem que tremer.

   Fechei os olhos, inspirando e expirando. Não aconteceria de novo. Não importava o que tivesse acontecido com as paredes, havia coisas mais importantes na vida além de satisfação sexual. Minha carreira.
Minha reputação. Minha autoimagem.

   A relação com minha família. Meus planos para o futuro. Me permitir ficar com Louis daquele jeito colocava tudo a perder. Eu havia dito a ele na noite passada que eu não tinha um sonho, mas não era verdade. Meu sonho era ser normal. Levar o tipo de vida que as pessoas à minha volta aprovavam e admiravam. Ser visto como alguém que tinha tudo, ainda que no fundo soubesse que não era bem assim.

    Que bem a verdade me havia feito, de qualquer modo?

[...]

    SÓ CAÍ NO SONO umas três na manhã, então me deixei dormir até
mais tarde, o que era raro. Eu geralmente acordava e me levantava bem cedo nos fins de semana e me punha a fazer as coisas. Mas, naquele dia, já eram quase onze horas quando finalmente saí da cama, mas não
me sentia nem um pouco descansado.

i choose you.Where stories live. Discover now