vinte e um.

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HARRY.

     EU ESTAVA DEVASTADO.

    A noite anterior acabara comigo.

    Virando minha cadeira de escritório na direção da janela, olhei para os arranha-céus cheios de escritórios e apartamentos que cobriam o centro de L.A. Ruas congestionadas. Quarteirão após quarteirão de estabelecimentos comerciais, lojas, restaurantes. Calçadas lotadas de gente. Como era possível, em uma cidade com milhões de habitantes, alguém se sentir tão dolorosamente sozinho?

   Mas eu me sentia assim. E já fazia tempo. Ter Louis por perto durante o fim de semana me fizera perceber isso. Eu havia esquecido o quanto era bom tomar café da manhã com alguém. Fazer coisas para outra pessoa. Beijar alguém no escuro.

    Tê-lo em minha casa fez com que ela parecesse menos vazia. Me deu
um propósito. Me fez sentir necessário e útil e confiável. Eu não conseguia parar de pensar naquilo – Louis confiava em mim. Eu tinha me aproveitado dele na noite passada? Eu o havia usado para tentar responder perguntas a meu respeito? E agora que conhecia a resposta – agora que eu sabia –, poderia me afastar dele?

   Me afastar da única pessoa no mundo que conhecia meu verdadeiro eu, o que havia de mais sombrio e profundo em mim? A única pessoa a quem eu confiara meu segredo?

    Eu temia não conseguir me afastar, e aquele medo era tão grande quanto a loucura de desejá-lo. Meu Deus, como eu o desejava. Ainda mais quando ele me olhava com aqueles olhos tão azuis, com aquele olhar jovem de quem tinha o mundo todo pela frente.

   Senti um frio na barriga quando pensei na noite anterior. Tinha sido tão boa. Tão sincera. Tão intensa. Tudo que eu queria era fazer o que tínhamos feito de novo, e de novo, e de novo. Sentir aquela proximidade com ele. Aprofundá-la. Revelar mais sobre mim e descobrir mais sobre ele. Mas a que preço?

   Será que eu estava mesmo preparado para abrir mão da minha fantasia de uma vida perfeita? De uma família perfeita? Será que havia mesmo feito de tudo para realizar meu sonho? Será que estava preparado para enfrentar a censura de meus pais, de colegas, de estranhos, de Deus e minha própria censura? Aquilo me faria mesmo feliz? E, do contrário, será que eu seria feliz casado com alguém por quem não estava apaixonado?

    Levar uma vida que me obrigaria a esconder parte de quem eu era de verdade? Reprimir para sempre o que quer que fizera me sentir tão vivo na noite passada? Talvez esse fosse meu castigo. Minha cruz. Pelo menos eu teria uma família.

   Mas e Louis?

   Louis. Tão jovem, tão cheio de vida, tão disposto a abraçar o mundo. Com aquele sorriso, as ruguinhas nos olhos. Ele tinha tanto a oferecer e tanto a aprender. Erros a cometer e sucessos a comemorar. Objetivos pessoais a alcançar. Ainda estava naquela fase da vida em que só se pensa em sexo, em comida e em seguir em frente.

   Eu lembrava bem como era, mas já tinha ficado para trás havia muito tempo.

   Ele provavelmente logo se cansaria de mim. Ia querer conhecer pessoas da indústria do cinema, frequentar boates e viver a vida de um cara bonito com vinte e poucos anos em L.A., com suas selfies e Snapchats e hashtags. Eu estava mais perto dos quarenta do que dos vinte e não botava os pés em uma boate fazia anos, e as hashtags podiam #sefoder.

i choose you.Where stories live. Discover now