três.

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HARRY.

     É CLARO que minha irmã precisava de um favor. Quando é que me ligava se não precisasse?

    – Não vou abrigar outro cachorrinho resgatado, Gemma. Ainda estou tentando remover as manchas do último que acolhi.

   – Desta vez, não é um cachorrinho. – Ela baixou a voz. – É uma pessoa.

    – Uma pessoa? – Me apoiei em um cotovelo. – Que tipo de pessoa?

    – Um inglês .

    Franzi a testa.

    – Gemma, mas que diabo! É outro daqueles seus amigos da escola de
circo?

    – Eu já disse que não é escola de circo. É aula de acrobacia aérea. E, a propósito, não, não é um amigo da aula. É um cliente cuja bagagem foi roubada enquanto ele estava sentado ao balcão do bar hoje à noite.

    – A bagagem dele?

    – A bagagem de mão dele. Ele literalmente havia desembarcado do
voo de Londres umas horas antes. E o amigo que deveria buscá-lo no aeroporto não apareceu.

   – E como ele acabou no bar?

   – Pegou um táxi e pediu ao motorista que o levasse a algum lugar
no centro. O taxista o trouxe aqui. Foi o destino!

    Ignorei aquela observação. Gemma estava sempre falando sobre destino, astros e essas baboseiras místicas.

    – E então a mala dele foi roubada?

    – Sim. Bem debaixo do nariz de todos enquanto ele estava sentado ao balcão. E ninguém viu nada.

   – É, esses caras são bons. Provavelmente notaram que ele saiu do táxi com uma mala e deduziram que era turista. Alvo fácil. Você chamou a polícia?

    – Chamei. Vieram e fizeram boletim de ocorrência, mas não acham
que a mala será encontrada. E o pobre rapaz foi tão compreensivo com tudo o que aconteceu. E agora ele está preso aqui porque no meu bar roubaram tudo que ele tinha. Eu me sinto responsável! Tenho que ajudá-lo!

    Revirei os olhos. Gemma jamais via um cachorrinho perdido ou um pássaro ferido ou um gatinho preso numa árvore que não quisesse salvar. Tinha sido assim a vida toda. Eu não a culpava por ter um grande coração, mas ela estava sempre metida em tanta coisa e tinha tantos colegas de quarto que, de algum modo, eu sempre acabava com animais aleatórios em minha casa até que ela descobrisse o que fazer com eles.

     – Em primeiro lugar, Gem, não é culpa sua. Poderia ter acontecido em
qualquer lugar.

   – Mas não aconteceu. Aconteceu aqui.

   Ignorei o tom obstinado.

   – Em segundo lugar, por que ele é responsabilidade sua? Cadê o amigo dele?

   – Ele não sabe.

   – Ele não pode ligar para o amigo? – A bateria dele acabou.

i choose you.Where stories live. Discover now