Capítulo 8

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Lana

O temido dia chegou, da mesma forma que eu tentava aceitar, uma força dentro de mim queria me fazer correr para o lado contrário. Confuso e desesperado, como se pudesse sair de dentro de mim e vagar sozinho para qualquer lugar que não aquela cidade.

André oscilava entre compreensivo e irritado, em ser carinhoso e arredio e aquilo era totalmente compreensivo, eu mesma não teria tamanha consideração quanto ele estava tendo.

Minhas malas já estavam todas dentro do carro destinado a nos levar para Colinas e as de André estavam sendo colocadas agora e por incrível que pareça ele tinha o dobro da quantidade das minhas. Eu tinha vontade de rir sobre isso, se não fosse um tão momento trágico em minha vida.

— Pronta? — Rose me perguntou assim que apontei no final da escada, ela tinha sido a única amiga que eu tinha em muito tempo. Eu não a deixava entrar em minha vida e ela aceitava isso sem impor qualquer coisa. Era o máximo que eu poderia dar a ela naquele momento.

— A verdade?

— Mas é claro — ela sorriu delicada. Sempre admirei sua personalidade forte, mesmo que as vezes ela fosse calorosa demais com seus abraços e excessos de cuidados. Aprendi que esse era seu jeito por ter irmãs para cuidar e proteger.

— Não estou, mas o que posso fazer, quero manter meu casamento — dei de ombros. Esse era o único motivo que dava a ela e o principal deles. André era importante para mim. Mais importante do que meus medos e descobri isso da pior maneira possível.

A noite da banheira ainda rondava minha cabeça me assustando e me provando que por mais que eu quisesse correr contra, André era o amor da minha vida e eu definharia sem ele.

— Está certa, não a mais Campos para ser conquistar e a fila atrás deles é interminável e irritante, não deve mesmo deixá-lo a solta. — ela riu — Mas saiba que ele também não deve querer perder uma mulher como você.

— Não diga bobagens — olhei ao redor da casa, tudo estava tão quieto, mais do que o normal. Não havia panelas chiando, nem moveis arrastados, nem o tic toc do relógio. Achei que me agradaria do silêncio absoluto, mas na verdade ele conseguia ser mais assustador do que minha alma perturbada.

— Estou falando sério, eu vejo como ele olha para você — me virei para ela, sem entender suas palavras.

— Ele tem dó de mim Rose, dó de ter tirado a pequena orfã do orfanato e não ter como devolvê-la.

— Lá vem você com essa conversa errada — ela sempre se irritava quando eu dizia as verdades que aconteciam. Nunca revelei que meu casamento não era como o dela, repleto de amor e carinho.

—Estou falando serio, até mesmo Antônio já comentou. —seu sorriso me provava que ela não estav mentindo.

— Comentou? — isso era novo. O que eles estavam vendo que eu não percebia?

— Claro, ele se preocupa com os irmãos mais do que com ele mesmo. Ele me disse uma vez que André estava muito preocupado com sua saúde.

— Não deveria, me cuido muito bem. — voltei a olhar para a casa que eu estava deixando.

— É mesmo? — ela me avaliou de lado sem acreditar no que eu dizia.

— Claro que sim. — me olhei para ver o que ela estava enchergando.

— Sabe muito bem que deve sair no sol, conversar, amar — ela deu um pequeno sorriso. — Você está muito branca e isso enfraquece os ossos.

— Eu faço tudo isso, oras — bati as mãos na lateral do corpo irritada.

— Não estou dizendo que não faz, apenas dizendo que são hábitos saudáveis.

— Ora Rose, não é porque eu não passo o tempo todo nas ruas que eu tenho hábitos ruins, eu apenas sou reservada, mais nada — eu não gostava nada de ser encurralada.

— Tudo bem, não está mais aqui quem falou, só saiba que na hora que estiver aberta para conhecer o verdadeiro André, algo incrível vai acontecer. — levantei a sobrancelha.

— Como conhecer o verdadeiro André?

— Eu só conheci Antônio quando me livrei de todos os julgamentos e suposições. Quando eu o aceitei da forma que ele é. — o olhar apaixonado era evidente.

— Eu o aceito... — com ressalvas.

— Uhum — ela riu novamente e se afastou. A segui chegando na parte externa da casa onde Antônio e André observavam a rua e conversavam sobre algo muito sério. A expressão dos dois era carregada.

— Querido — Rose chamou o marido que suavizou as feições no mesmo instante, como se o sol tivesse novamente brilhado em seu céu. — Sei que não devo incomodá-lo, mas Otávio já deve estar acordando e não quero que ele atrapalhe as meninas com seus afazeres.

— Tem razão. — ele voltou a olhar para o irmão — Sei que dará tudo certo, mas se tiver algum problema, mande me avisar que eu irei direto para lá. —André o encarou por um tempo, Antônio apenas sorriu com a atitude dele e o puxou para um abraço — Vou sentir saudades, irmão — André o abraçou forte e por um momento pensei ter visto um rastro de lágrimas por seus olhos, que sumiram na velocidade da luz.

— Não seja mole, Antônio, quando sua vida começar a ficar monótona demais será a minha deixa para voltar — ele sorriu e encheu meu peito de alegria. Eu adorava seus sorrisos sinceros, mesmo que eu quase não os visse.

— Não se esqueça, nós não aceitamos outro terreno. Tem que ser aquele. — ele confirmou e se virou para Rose que agora estava ao lado do marido.

— Tenha uma boa viagem, André. Estaremos aqui aguardando ansiosamente o retorno de vocês — ela abraçou André.

— Sentirei falta de vocês dois e de Álvaro e Emma, das meninas e dos pequenos. Será um viagem longa, mas mudará o rumo de nossas vidas. — e eu tinha certeza disso. Poderia mudar para a melhor ou para a pior, isso só dependia das minhas ações.

— Lana? — Rose me tirou das cenas que se projetaram em minha cabeça. — Traga muitas novidades quando voltar. Quero que me mande cartas sempre que sentir vontade. Vou responder todas — ela me puxou para o seu abraço que eu ainda não sabia direito como retribuir — E cuide-se. Nunca se esqueça disso.

— Vou me cuidar, Rose. Não se preocupe. — ela sorriu para mim antes de me soltar.

Ela se afastou e Antônio acenou para mim, eu tinha a impressão que de um tempo para cá ele conseguia me ler melhor e isso era assustador.

— Bom, é hora de irmos — André estendeu a mão para mim e com receios a segurei. Era hora de encarar o meu passado.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora